segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Transformar as entradas das escolas em pontos de socialização e colaboração

As aulas começaram, e para toda a comunidade escolar será um desafio sem precedentes. Pouco sabemos como será na prática, todos os procedimentos e logística. Nós, os pais, iremos aprender também. Será um desafio coletivo que só poderá ser superado com colaboração. 

O processo de “levar as crianças à escola”, enquanto ainda não são jovens autónomos, é um momento importante do dia para todos. Demasiados pais têm de levar os seus filhos à escola de automóvel próprio, algo que demonstra bem a fragilidade dos nossos sistemas de transportes e ainda mais a sua insustentabilidade. Mas mesmo para quem usa o automóvel, pelo menos uma parte do percurso deverá realizar a pé. Nesse processo de ir a pé, até ao portão, acontecem oportunidades únicas de interação e socialização que têm sido desvalorizadas ou ignoradas. 

Poucas são as escolas que permitem aos pais entrar nos seus espaços, e agora ainda menos serão em tempo de pandemia. Mesmo que não se possa entrar, as zonas imediatamente envolventes deveriam estar devidamente planeadas para o encontro social. Isto é uma realidade em muitos poises europeus, onde em frente às escolas existem pequenos jardins, espaços públicos de qualidade onde as crianças podem estar mais uns momentos, umas com as outras, enquanto os pais, professores e outras pessoas ligadas à comunidade escolar interagem, com qualidade e segurança. 

Tive oportunidade de ver isto acontecer em alguns países, especialmente em França. E tive a sorte de ter uma escola perto da minha residência aqui em Leiria onde isto acontecia, onde os pais podiam entrar numa parte do recinto escolar, onde havia um parque infantil. Era um momento valioso de transição, onde pais conversavam, falavam muitas vezes de projetos coletivos escolares, enquanto as crianças brincavam. 

Precisamos urgentemente destes espaços. Agora mais que nunca. As relações sociais, o mútuo apoio, são das maiores riquezas que podemos ter para ultrapassar os desafios do futuro, mas são precisos espaços que as favoreçam. Por isso, um plano de tratamento urbano das frentes de escola seria imensamente valioso. Os efeitos seriam tanto imediatos como a longo prazo, benéficos para toda a comunidade. Mais do que preparar o espaço imediatamente à frente das escolas para automóveis, precisamos de espaços para nos humanizarmos e socializarmos, para darmos o exemplo às crianças do valor da cooperação e harmonia social, onde existe espaço para nos aproximarmos em segurança.  

Se os próprios pais não se conhecerem, não conhecerem os colegas dos filhos, os professores e todas as pessoas que trabalham na escola: a escola fica aquém de todo o seu potencial. Faltam espaços em que isso possa acontecer, ainda que não seja dificil garantir essa realidade. Bastava um passeio mais largo, com uma árvore, uma vedação que proteja dos automóveis, medidas de acalmia de tráfego, algum mobiliário urbano confortável, uma sombra, um apontamento artístico urbano, um elemento interativo. Coisa pouca perante tanto investimento público que se faz, por vezes a exibir luxo. 


Texto publicado no Diário de Leiria.


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Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





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