segunda-feira, 26 de março de 2018

Um distrito não pode servir apenas para eleger deputados



Para que serve um distrito? Afinal, para nós que temos uma relação partidária com a política, e por essa via com a gestão dos territórios, que sentido fazem os distritos?

Os distritos, apesar de poderem ter uma configuração e delimitação territorial pouco adequada, representam a escala de governação intermédia. Existem vários níveis de governação que têm de ser acutelados para que os territórios se possam desenvolver. Não podemos abdicar de um deles, especialmente daquele a que correspondem aos distritos. Precisamos de eleger deputados, mas precisamos de ter um sistema de governação democrática do território nesta escala. Na prática os distritos não podem servir apenas para eleger deputado.

Precisamos de ter uma governação efetiva das regiões. Podem chamar-lhe outra coisa se isso evitar medos. Há determinados projetos que precisam de ter uma escala regional. Uma solução via CCDR, quase sempre tecnocrata, não serve por si só. A CCDR é útil como suporte técnico, mas não é uma solução política. Uma solução de mera divisão de fundos financeiros nas comunidades intermunicipais também não. Necessitamos de projetos políticos acima dos concelhos. E não sejamos ingénuos. Os presidentes de câmara irão naturalmente estar mais motivados para lutar pelo seu concelho que pela região, pois são os seus munícipes que os elegem. Tem de haver relação entre o poder político e o território.

Enquanto não existir uma relação direta cívica e política entre cidadãos e instituições de representação política, com poder para intervir no território, dificilmente teremos desenvolvimento regional sustentável. Sem isso perdem-se oportunidades únicas. Fica tudo demasiado dependente dos municípios, que nem sempre têm escala para garantir a sustentabilidade desejada, ou então as oportunidades regionais ficam nas mãos distantes do governo centralizado. Um exemplo disto foi o Estádio de Leiria. Uma infraestrutura daquele volume não seria, à partida, sustentável apenas para servir um município. Mas se fosse um equipamento destinado a servir toda uma região que ultrapassa meio milhão de habitantes já o caso mudava de figura.

É urgente implementar-se a escala de governação democrática intermédia. Podemos usar esta expressão se tiverem receio do nome regionalização. Para breve teremos as eleições legislativas. Este pode ser um tema a trazer para o debate nacional e distrital.

Nessas próximas disputas eleitorais vamos tentar apanhar todos os votos. Querer agarrar todos os votos instantaneamente pode estar a condicionar o futuro do partido. A sustentabilidade do voto também é importante para quem pense a política com futuro. Não podemos prometer tudo a todos nem assumir projetos que sejam estranhos à nossa matriz de valores e ideias fundamentais do socialismo democrático. Caso contrário viramos marca branca, facilmente substituída por outra qualquer indiferenciada.

Nota: intervenção realizada no congresso federativo de Leiria do Partido Socialista, em 24 de março de 2018.

segunda-feira, 12 de março de 2018

A Leiriacon e a promoção dos jogos de tabuleiro sustentáveis

Todos os anos acontece na região de Leiria uma convenção de jogos de tabuleiros. Foi a primeira em Portugal. Em 2018, de 1 a 4 de março, realiza-se a XIII edição, tendo-se transformado na maior convenção da especialidade no país. Muitas centenas de pessoas rumam à nossa região, mais concretamente à Praia da Vieira para participar neste evento. Vêm de todos os cantos do país, pessoas que, individualmente ou inseridas em grupos, clubes e associações, fazem dos jogos de tabuleiro um passatempo ou atividade profissional. Participam na Leiriacon também muitos estrangeiros que juntam o útil ao duplamente agradável, desfrutando das maravilhas desta terra e da qualidade do evento. Muitos são representantes de editoras, autores e designers que fazem destes jogos forma de vida, numa indústria que representa milhões de euros, mas onde não se joga a dinheiro.

Serve este exemplo da Leiriacon para abordar o modo como os jogos de tabuleiro modernos se estão a implementar e assumir na atualidade, competindo com outras formas de entretenimento. Ao contrário dos outros concorrentes lúdicos, os jogos de tabuleiro podem ser produtos facilmente sustentáveis. De notar que não necessitam de energia ou outros equipamentos para serem utilizados e que podem ser construídos com materiais reciclados. Facilmente podem ser vendidos e revendidos entre os utilizadores, sem depreciação significativa do bem, criando uma vida útil maior que a maioria dos outros produtos. Ao contrário dos jogos de vídeo, um jogo de tabuleiro de qualidade com 5 ou mais anos não está desatualizado. A mesma cópia pode ser jogada por várias pessoas em simultâneo, sem necessidade de mais suportes. Pode ter um ciclo de vida de produto ainda maior quando se lhes juntam expansões, que são pequenos módulos. Estes jogos de tabuleiro não se avariam, quanto muito podem estragar-se com o uso, conseguindo-se substituir facilmente parte dos seus componentes. Não geram resíduos de dificil reciclagem ou eliminação.

Os jogos de tabuleiro têm outra vantagem que se relaciona com a sustentabilidade económica. Ao contrário dos jogos de tabuleiro correntes, os novos jogos são peças de design diferenciado. Montar um jogo de tabuleiro com qualidade é logisticamente muito mais simples que criar um jogo de vídeo de topo, não envolvendo avultados investimentos financeiros. Podem inclusivamente ser uma oportunidade de trabalho para criadores, designers gráficos e para a indústria da região: papel, madeira e plásticos. A necessidade de componentes pode alimentar o setor primário e secundário, tal como toda a cadeia de distribuição, promoção e venda do setor terciário.

A utilização dos jogos de tabuleiro pode tornar determinadas atividades mais atrativas. Juntando a sustentabilidade ambiental e económica aos momentos sociais que proporcionam estamos perante um produto verdadeiramente sustentável, porque também é socialmente impactante. Por isso não podia deixar de referir a importância da Leiriacon no fortalecimento das atividades dos jogos de tabuleiro modernos na região e no país.

Texto publicado no Diário de Leiria em 1 de março de 2018
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Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





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