terça-feira, 29 de outubro de 2019

Pensamento político do dia #1

O ódio que o Livre está a gerar é a prova de que faziam cá falta. O mesmo se pode dizer para o PAN, mesmo que já não choquem tanto como as galinhas que defendem, e para a Iniciativa Liberal, que veio relembrar que em política ainda há ideologia, ainda que parva. Até o Chega é útil para percebermos que também é preciso dizer chega a certas coisas, incluindo ao Chega.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Independentes, partidos como clubes e os candidatos a Leiria no parlamento

Gostamos muito de independentes, mas que se comprometam com coisas. Detestamos partidos, mas acusamos com ódio quem os trai. Cá os partidos são como clubes de futebol, daqueles que nunca se pode mudar. Mas porquê? Um partido deveria defender ideais e valores, transformados em propostas políticas, mudando naturalmente. Os partidos, apesar disso, são feitos de pessoas e na prática servem para aceder ao poder, ao ponto de recorrerem a independentes. Já os independentes, que também querem poder, acedem aos pedidos dos partidos e vestem temporariamente as camisolas que nem sempre lhes assentam bem.
Tal como nos clubismos futebolísticos, ainda temos dificuldades em lidar com a mudança de partido. Talvez seja essa relação que temos tantos independentes e relações entre futebol e política. Até eu, que ligo cada vez menos a futebol, tive de fazer esta metáfora futebolística para não ficar fora de jogo.
Então como fazer para que os independentes se comprometam com as suas promessas políticas? Ficamos apenas pelas relações pessoais? Isso vai funcionando na esfera da política local, porque todos os dias vemos o fruto da atividade política, e até a sentimos mais quando passamos por um buraco ou outros contratempos do dia-a-dia. Facilmente vemos os representantes políticos, na rua, no seu local de trabalho e em eventos públicos. Mas quando se fala de política nacional precisamos ainda mais das instituições, no caso da atividade política estamos a falar de partidos, porque para já não temos alternativas, apesar de existirem outros formatos conhecidos. Parece então desapropriado ter independentes no xadrez político nacional. Faria mais sentido que quem se candidata para cargos nacionais se filiasse no partido pelo qual concorre, nem que fosse para mudar quando essa relação deixasse de ter sentido. Talvez agora com os novos partidos esses tiques de clubismo ferranho, que geram ódios, mudem e a vida política seja mais dinâmica.
Centrando em Leiria, que nunca parece estar ao centro das políticas nacionais, será que podemos ter a esperança que deputados eleitos assumam papeis de liderança e contribuam para o desenvolvimento do distrito? Dificilmente porque o distrito, enquanto unidade administrativa territorial, para pouco mais serve do que para os eleger. E depois de eleitos passam automaticamente, por força da constituição da república, a serem deputados nacionais, pelo que não deveriam privilegiar certos territórios em detrimento de outros. Ou seja, na prática, os candidatos a deputados apenas deveriam fazer campanha nos seus círculos eleitorais com base no programa nacional dos partidos que representam e não em assuntos locais, o que é bizarro. Sabe a pouco e os resultados depois na prática política sentem-se: ou seja, na prática depois pouco ou nada se vê nesses territórios fruto dessa representação, porque, não sendo suposto, os deputados naturalmente não têm recursos reais para isso. Em resumo: está na altura de mudar o sistema eleitoral.

As campanhas eleitorais deprimentes e inúteis

Já fiz muitas campanhas eleitorais, para todos os tipos de eleições. Já fui candidato a várias, ainda que sempre em lugares secundários. Já participei na logística e planeamento, embora quase sempre como mero braço de trabalho. Nos últimos 12 anos experimentei de tudo e vi de tudo. E tudo o que vi foi quase o mesmo. Tendem a aplicar-se as mesmas formas de sempre, que tendem a ser aborrecidas e desprovidas de sentido até para quem as faz. Então vejamos. Se alguém está motivado para ter atividade política será que aquilo que deseja fazer passa por estar simplesmente a distribuir t-shirts e porta-chaves nas feiras? Será que uma pessoa que vibra com a possibilidade de debater e construir propostas políticas e a sua implementação aprecia andar em corridas ao porco no espeto enquanto ouve repetidamente discursos pré-escritos sem qualquer tipo de debate ou contraditório? Que dizer também das visitas a empresas e instituições onde sentimos o olhar de repúdio de quem está no seu local de trabalho ou a aceder a um serviço essencial e não pode fugir do assédio eleitoral? A construção dos programas eleitorais deveriam ser os momentos mais interessantes do processo e não meros formalismos para meter na gaveta.
Mas nas campanhas também se fazem eventos próprios, conferências, debates, comícios e afins. No entanto, quem vai a estes eventos as são pessoas que fazem parte da campanha, militantes e amigos que são pressionados para comparecer em massa. Ou seja, o discurso e as atividades são realizadas para quem supostamente já irá votar nessa opção. Trata-se apenas de mais um frete? Para que servem? Dizem-me que servem para motivar as pessoas e para passar a mensagem de forma orgânica depois à rede social de cada participante.  Mas será que passa? Para isso é preciso que a mensagem seja clara e passível de ser assumida por quem a ouve, coisa que nem sempre acontece. Se as pessoas seguem um determinado partido ou movimento por razões de diferenciação ideológica ou causas muito concretas, como se lida depois com a tentativa de agradar a todos sem haver compromissos com ideias ou projetos, tudo na ânsia de alargar ao eleitorado indeciso e indiferenciado? Muitas vezes estes eventos apenas servem para tirar fotografias de marketing eleitoral nas redes sociais.
Hoje não tenho a menor dúvida de que as campanhas têm de ser feitas de formas diferentes. O mais chocante disto tudo é que ninguém consegue provar que as arruadas, comícios, visitas a feiras e distribuição de brindes de campanha têm impacto positivo no resultado eleitoral. Faz-se simplesmente porque não se conhecer outra forma e porque há o medo de perder eventualmente votos se não se fizer. Apesar de tudo o principal indicador, a abstenção, contínua a subir. A política pode ser divertida e séria ao mesmo tempo, pode ser uma forma agradável de resolvermos problemas, identificar diferenças, gerar consensos através da argumentação racional e cuidarmos do nosso futuro, especialmente se aprofundarmos novas formas de fazer democracia e as respetivas campanhas.

Nas catástrofes saltam à vista as fragilidades

O recente mau tempo que assolou a nossa região deixou grande parte da população à beira do desespero. Os prejuízos, seguramente, somam-se em milhões, tanto pelo que se danificou como pelo que não se pôde fazer quando faltou água e eletricidade. Com a queda de árvores também algumas vias ficaram intransitáveis. Estas catástrofes revelam muitas das nossas fragilidades: as mais imediatas, dependentes da qualidade das infraestruturas; e, as mais profundas, decorrentes dos nossos modelos de expansão, desenvolvimento e ocupação do território.


Prever catástrofes naturais é difícil, ou até mesmo impossível. No entanto, é para mitigar essas contingências e imprevisibilidades que se devem: fazer estudos; tomar certas decisões estratégicas e preventivas; e criar planos de resposta para a emergência. Será difícil que as infraestruturas suportem todas as catástrofes e intempéries, ainda que devam ser planeadas e executadas para resistir a casos de exceção – pelo menos assim mandam os vários regulamentos das várias especialidades.
Nestes dias passados demonstrou-se, violentamente, os efeitos do modo desordenado, e por vezes caótico, como nos expandimos, ocupamos e infraestruturamos o território. Os nossos modelos urbanos difusos, com zonas urbanizadas de baixa densidade e descontinuamente espalhadas por grandes zonas do território, são apontados como sendo altamente insustentáveis. Isto porque desperdiçamos solos, aumentamos desnecessariamente as distâncias de transporte e fazemos crescer, de igual modo, a necessidade de mais infraestruturas básicas e serviços. Mas os modelos difusos causam outro problema que só se evidencia em casos de emergência. Devido às descontinuidades, grande parte das nossas infraestruturas não constituem malhas ou anéis entre si, ou seja, não existe redundância ou ligações alternativas quando a ligação principal falha. Normalmente é por essa razão que nas cidades, onde existem sistemas “malhados” de infraestruturas, mais facilmente se resolvem avarias e se conseguem garantir abastecimentos alternativos.
Estando grande parte das redes já montadas, e não se prevendo, a curto prazo, expansões urbanas que ocupem os vazios ou façam ligações alternativas, os problemas das descontinuidades persistirá. Seja qual for a solução, os custos serão sempre elevados. Resta-nos então a intervenção de emergência pública, a do Estado - pelo menos enquanto não for desmantelado.
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Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





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