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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Sustentabilidade urbana: as cidades são patrimónios culturais

Já está disponível o livro pelo Centro de Património da Estremadura (CEPAE) sobre as “Actas dos colóquios das Reflexões sobre Educação Patrimonial e Artística: homenagem a Ernesto Korrodi”. Foi mais um esforço desta associação que tem tentado mobilizar o voluntariado dos estudiosos do património e a atenção das instituições locais para o património cultural local e regional. Mais investimento dos municípios nesta área ajudaria a identificar melhor os elementos que distinguem os seus territórios e evitar importações culturais indiferenciadas e massificadas.

Nesta última publicação do CEPAE tive a oportunidade de assumir a autoria de um texto que trata a cidade de Leiria como património de conjunto, tal como o papel de Ernesto Korrodi nessa construção e destruição. Não são apenas as obras de arte e os edifícios que se elevam ao estatuto de património cultural, as próprias cidades também o são, pois contam a nossa história e criam os espaços de pertença físicos onde as restantes dimensões da vida social e cultural dos lugares urbanos se desenvolve. Leiria, com mais de 800 anos de história, tem uma rica história urbana para contar. O seu castelo e múltiplos núcleos urbanos medievais estão na génese do povoado. As posteriores expansões e contrações urbanas invocam as vicissitudes passadas pelos leirienses, a sua relação com o rio, com a exploração agrícola do vale do rio Lis, a posição como centro de comércio e os efeitos das invasões francesas. Leiria foi uma cidade medieval multicultural que acabou por entrar num certo conservadorismo. Em meados do século XX a cidade iniciou uma fase exponencial de expansão urbana e um dinamismo económico distintivo, assente na iniciativa das suas gentes.

Os elementos urbanos, grandiosos ou modestos, nobres ou vernaculares, tal como o modo como ocupamos o território, contam esta nossa história coletiva. Estamos perante um património urbano que nos define, mas que tem de continuar a ser utilizado, preservando e adaptado às nossas necessidades de desenvolvimento. Ernesto Korrodi, no seu tempo, deu o exemplo de como o património arquitetónico e urbano poderia ser uma alavanca para o desenvolvimento, sem perder a memória da cidade.

A sustentabilidade urbana depende da conjugação das várias dimensões do desenvolvimento económico, ambiental, social, cultural e da própria governança. O património urbano no seu conjunto tem um papel a desempenhar nessas várias vertentes: faz parte do ambiente construído e não contruído, que nos garante meios de sobrevivência e qualidade de vida; define-nos e reforça a identidade social e individual; cria espaços e elementos de identidade comuns que podem contribuir para uma harmoniosa governança do território; e é uma alavanca económica através das industrias culturais, criativas e até imobiliárias e turísticas.

As nossas cidades não são nem devem querer ser cópias das outras. Uma cidade e o seu património não se fazem somente de edifícios, mas também das suas gentes, atividades e culturas.

Texto publicado no Diário de Leiria

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Dar continuidade, renovando o associativismo pelo património

O tempo do património não será o tempo dos homens e das mulheres. As nossas vidas são curtas e finitas, esperando-se que os patrimónios, propriedades de todas e de todos, persistam para além de nós mesmos.

A minha participação na direção do CEPAE coincide com o nascimento desta coluna de opinião, por isso faz sentido deixar um texto de despedida. Digo participação porque sempre encarei a presidência como um mero formalismo. Ou o trabalho voluntário em defesa e valorização do nosso património regional era feito em equipa ou nada se poderia fazer. Nunca me senti presidente do CEPAE no sentido de mandar. Estava simplesmente entre pares, quase sempre melhores que eu. Obrigado Diana, Adélio, Helena, Ana, Miguel e Sergio pela vossa paciência.

Irei deixar de ser presidente do CEPAE mas não me desvinculo da associação. Volto à condição de associado de base, como mais um voluntário que irá colaborar com a próxima direção. Aliás, se não for assim, com base no associativismo e paixão voluntária pelo património, o CEPAE não funciona. Para além disso, se os municípios não se envolverem, pois são eles os associados fundadores da instituição - de um tempo em que se queria promover o património da região em rede e cooperação -, dificilmente também se poderá cumprir a missão do CEPAE.

É de importância maior para o CEPAE saber definir qual a sua área territorial de intervenção. Hoje em dia o conceito de Alta Estremadura pode parecer estranho à maioria das pessoas. Estando os distritos esvaziados de muitas das suas razões de ser, as regiões foram miragens não concretizadas. Organizamo-nos politicamente e administrativamente numa multiplicidade de delimitações, quase sempre confusas. Em que ficamos? Será que nos devemos cingir às comunidades intermunicipais que nos ligam regionalmente aos municípios?

No CEPAE fazemos um voluntariado responsável, contando cada cêntimo para poder investir na próxima iniciativa dedicada ao património. Mas isto só é sustentável enquanto as pessoas sentirem que vale a pena o esforço. Tal como o próprio património, o associativismo por causas, só pode ser preservado se as pessoas o valorizarem, reconhecendo o seu valor diferenciador e potencial coletivo.

Texto publicado no Jornal de Leiria em 29 de março

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Intervenção na Assembleia Municipal de Leiria: ideia de criar uma liga/associação de amigos dos monumentos e espaços culturais de Leiria

Apesar de se poder dizer que só se valoriza aquilo que se paga, os serviços públicos essenciais devem ser gratuitos, pois são uma forma de garantir justiça social e igualdade de acesso à dignidade cívica universal. Embora a cultura não seja identificada como um dos serviços básicos essenciais à vida, não sabemos viver sem ela, pois quase tudo o que resulta do conhecimento, história, interação social e criatividade humana é cultura. A Cultura está no nosso ADN enquanto espécie criativa, emotiva e criadora de história. Concordando-se ou não com as opções políticas tomadas, é inegável o esforço municipal dos últimos anos para tentar dinamizar o panorama cultural local de Leiria.

Todas as iniciativas que visem possibilitar o acesso à cultura são bem-vindas. Dias de entradas gratuitas são de salutar. Partindo desta tendência positiva podemos ir mais além e implementar algumas políticas formais que têm revelado sucesso noutras geografias e que os leirienses também têm ensaiado informalmente. Para dar sustentabilidade aos projetos culturais é essencial criar uma ligação às populações locais e alimentar públicos ávidos do consumo cultural. Não nos esqueçamos de que a cultura, ao contrário de outros consumos, é totalmente sustentável, pois os bens e serviços que produz não se esgotam, podendo ser replicados criativamente.

Gostaria de lançar aqui a ideia de se constituir uma associação ou liga de amigos dos monumentos e espaços culturais de Leiria. Esta nova organização cívica seria constituída por todas e todos aqueles que tenham uma paixão pelo património cultural de Leiria, estando devidamente organizados entre si e coordenados com o município. Ao fazer parte dessa organização os seus membros teriam acessos gratuitos permanentes aos vários espaços, participando e recebendo formação técnica, histórica e científica por parte dos serviços municipais, para que possam ser um apoio às atividades culturais locais. Estes cidadãos poderiam ser então os embaixadores do património de Leiria – slogan que tem vindo a surgir como fruto das políticas culturais locais de promoção e divulgação. Esses embaixadores poderiam facilmente aceder aos locais, tanto para as suas investigações e divulgações, como para convidar e acompanhar amigos em visitas mais intimas e personalizadas. Seriam agentes voluntários complementares aos serviços e funcionários dos espaços, criando sinergias entre sociedade civil, apaixonados pela cultura local e profissionais da área.

Não haveria quebra de receitas, uma vez que os membros da liga ou associação trariam novos visitantes consigo, que não estariam isentos do pagamento dos ingressos. Mais que as questões financeiras esta proposta possibilitaria uma eficaz ligação dos espaços culturais às comunidades locais, pois ficaria estabelecida uma rede que facilmente poderia ser ativada para outras iniciativas. Os participantes sentiriam cada vez mais os espaços como seus, uma vez que também se abria mais facilmente uma via de comunicação com o município, podendo ser propostas e desenvolvidas novas atividades. Os museus e espaços culturais têm uma importante missão social e só poderão funcionar corretamente se as comunidades locais os assumirem comos seus.

Numa altura em que Leiria tenta afirmar a sua candidatura a Capital Europeia da Cultura esta seria uma iniciativa, entre muitas outras, de reforço da rede social real de apoio às iniciativas culturais. Esta é uma ideia que deixo para poder ser discutida e desenvolvida. Sem um suporte forte popular local dificilmente Leiria poderá cumprir todo o seu potencial.

Intervenção realizada na sessão ordinária da Assembleia Municipal de Leiria, em 19 de fevereiro de 2018.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Intervenção na Assembleia Municipal de Leiria: Sugestão para um Pack turístico/Cultural e Newsletter da AML

No passado dia 29 de Junho de 2012 decorreu mais uma Assembleia Municipal de Leiria, desta vez o espaço não foi o habitual. A sessão decorreu na Freguesia da Bajouca, isto porque comemorava 40 anos de existência.
Para divulgação, deixo aqui as plavras que me guiaram na intervenção que fiz nessa sessão. A intervenção, em jeito de resumo, foi dividida em dois temas diferentes: a sugestão para a criação de um pack/turístico que conjugasse bilhetes de entrada nos espações culturais, mapas temáticos, transportes e restauração; a sugestão para a implementação de uma Newsletter para divulgação de datas, locais e assuntos da Assembleia Municipal de Leiria.
Exemplo do "Roma Pass / Roma Map" - modelo que, com as devidas alterações de escala e interesse, poderia ser aplicado à realidade de Leiria, isto com a devida inclusão da restauração local para tornar a ideia autossustentável.
De seguida a intervenção:
São dois os assuntos que me fazem vir aqui fazer esta intervenção.
O primeiro assunto prende-se com o recente bilhete único cultural criado pelo município. Só podemos felicitar a Câmara Municipal pela ideia de, através da aquisição de um único bilhete, com um desconto considerável, permitir visitar 4 dos principais espaços culturais do concelho. Para além do desconto, cada vez mais importante e preponderante quando os tempos são de crise, esta medida parece-me acertada, pois serve em simultâneo de meio de divulgação e incentivo à visita de alguns espaços que podem ser menos conhecidos.
O princípio do bilhete único é positivo. Essa ideia pode ser um primeiro passo para algo mais à frente. Assim, pegando na ideia, e aproveitando a oportunidade, gostaria de poder sugerir ao município que continue a desenvolver e apostar neste tipo de bilhete de agregação, incluindo novos espaços e novas valências, pois os benefícios e ganhos turísticos podem ser consideráveis. Por exemplo, tornar esse bilhete num pack onde se incluísse: 1 dia de viagens no Mobilis e/ou estacionamento livre, durante um período de tempo definido, nos parques de estacionamento pagos da cidade; Um mapa com percursos de interesse na cidade, onde exista a possibilidade de inserir publicidade aos locais de restauração, que assim poderiam financiar em parte o próprio pack e incluir descontos directos sobre as refeições para os visitantes. Esta possibilidade poderia permitir criar um projecto auto-sustentável de parceiras diversas para ganhos mútuos, contribuindo para o desenvolvimento cultural e turístico do concelho. Exemplos destes são correntes e habituais noutras geografias, nacionais e no estrangeiro.
O segundo assunto prende-se com a proposta da ADLEI. No caso da Assembleia Municipal de Leiria, como tem sido das mais inovadoras, a plataforma “online” já existe e nela estão disponíveis os vários documentos com livre acesso. Ou seja, a informação existe, o que pode e deve ser melhorado são os canais de comunicação. Assim, proponho que se possa instituir a parte da proposta referente à Newsletter de divulgação e informação, permitindo que os munícipes se possam inscrever, através do portal do município, para que recebam directamente na sua caixa de correio electrónico uma comunicação automática, referindo as datas, locais e a ligação para os documentos de acesso livre já disponibilizados no portal do Município. No fundo a Newsletter, para os inscritos, funcionaria como um aviso e lembrete automático, incentivando à participação. Sugiro que se possa fazer algo semelhante também para as várias assembleias de freguesia, embora isso seja mais difícil, pois nem todas dispõem de Sitio da Internet próprio. Mas voltando à assembleia municipal; ai a medida é muito mais simples, até porque o município já tem serviços semelhantes, nomeadamente para a área cultural. O esforço seria mínimo, tendo em conta o ganho cívico que a medida poderá trazer. Estou convicto ser nosso dever tudo fazer para reduzir a distância face aos munícipes que representamos. A opção pela divulgação através da Internet da actividade política e cívica local deve ser uma das vias a seguir, ainda para mais sabendo dos hábitos de comunicação dos mais jovens, já para não falar do potencial imenso das novas tecnologias, passíveis até de mudar no futuro os paradigmas de representação política.

domingo, 27 de novembro de 2011

Fado - Um produto para exportação que até é imaterial!

Quando nos dizem que a nossa música, a nossa alma transformada em sons, é património da humanidade que mais sentir do que orgulho em ser português? Se António Vieira, que era padre, dizia , no seu tempo, que nós portugueses tínhamos um pequeno país para nascer mas o mundo inteiro onde morrer, então agora temos também o mundo inteiro para receber o seu património, aquele musical que por cá por Portugal se faz.

Reinterpretação da obra "Fado" de José Malhoa pelo autor e artista Jorge Miguel

Mas numa altura dita de crise da nossa economia, e quando interessa exportar a todo o custo, aqui poderá estar uma boa oportunidade de trazer riqueza para o país levando lá para fora o que temos de melhor. No caso do Fado, por ser imaterial, até tem vantagens no transporte! Vamos à exportação do que é bom, da cultura!!! Pena é já nem Ministério termos, ou não fosse o nosso fado um sem fim de ironias, calamidades, capacidade de recuperar e viver feliz com isso!

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Política da terra queimada – o caso da venda do Estádio Municipal de Leiria

Enquanto jovem que ainda sou, e Leiriense que sempre serei, sinto-me lesado. As recentes notícias da impossibilidade da venda do Estádio Municipal, que permitiria aliviar a asfixia a que está sujeito o nosso município, devem, no mínimo, preocupar os Leirienses. Enquanto jovem, eu e os/as da minha geração, vemos cada vez mais o nosso futuro hipotecado. Os custos diários de manutenção, da infraestrutura e principalmente da própria dívida, roubam-nos os fundos que deveriam ser utilizados para outros fins – consta que o custo diário é de mais de 8000€ ao dia (que afinal até são mais). Não seria preferível usar desse dinheiro para investimento e prestação de serviços reais aos munícipes, pois, afinal, quem utiliza o Estádio? Mesmo sendo utilizado e servindo alguns Leirienses, será que esse serviço justifica os custos? Na minha opinião não! Ou a realidade dos usos e atividades no Estádio Municipal mudam - implicando isso ainda mais investimento e gastos (com dinheiros que não existem) - ou este será mais um elefante branco, mais um presente inútil e insustentável a legar às gerações vindouras.

Fonte: Blogue http://desartistico.blogspot.com/, da autoria de Micael Sousa

Os jovens de Leiria pagam hoje, em parte, mas pagarão muito mais no futuro as várias faturas deste nosso Estádio - um dos reflexos de erros de anteriores gestões públicas. Recentemente a oportunidade de vender o Estádio poderia ter resolvido isso, poder-se-ia ter saldado uma pesada herança. Mas os entraves, especialmente por quem deveria contribuir também para a resolução do problema, logo surgiram. Faltou capacidade democrática de deixar quezílias partidárias e pessoais de lado para remediar erros do passado. É de lamentar que isso não se tenha conseguido, nós leirienses merecíamos outras resoluções! São estes e outros casos que contribuem para afastar os cidadãos da política e dos partidos, pois vêm que o bem-comum - o principal objectivo que deveria nortear as lides políticas - tende a ser remetido para segundo plano. Alguém disse - e com razão - “é a política da terra queimada”: tudo se faz para ter vantagem na guerra da política, independentemente do que se queime ou de quem saia queimado destas lutas inúteis, e por vezes fratricidas. Ainda mais grave são os efeitos que este tipo de atitudes tem nos mais jovens, que vêm estes maus exemplos como o “modo normal de fazer política”. Sem dúvida que isso condiciona, negativamente, a formação que se dá aos mais jovens do ponto de vista cívico e político.
Para além de nos hipotecarem pela via económica, hipotecam a capacidade de acreditarmos nos políticos e suas políticas, levando a que muitos jovens – muitos deles íntegros e competentes - se queiram afastar o máximo da nobre arte de governar as sociedades! Assim como nos governaremos, democraticamente por cidadãos e cidadãs conscientes dos seus deveres cívicos e políticos, no futuro?

(Texto publicado no Tinta fresca em 30 de Outubro de 2011, no Diário de Leiria em 2 de Novembro de 2011 e no Jornal de Leiria em 3 de Novembro de 2011)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dia europeu sem carros: um dia para repetir mais vezes mas com alternativas!

Depois de ter feito alguns trabalhos académicos e de investigação, tal como textos para jornais, blogues e redes sociais, não podia deixar de assinalar e referir as comemorações do passado dia 22 de Setembro: o 'Dia Europeu sem carros'. A data é apenas simbólica mas por cá [Portugal] acaba por ser de grande importância devido à nossa extrema dependência face a este meio de transporte, na sua versão privada. Há que inverter isto! Já muitos países e  cidades europeias perceberam a importância e necessidade de abandonar os automóveis e afasta-los dos seus centros urbanos - isto chega em alguns casos a ser uma medida de atracção turística pois, sem dúvida que, cidades sem carros são mais agradáveis para viver e visitar.
 No caso de Portugal a importância de diminuirmos a nossa dependência face ao automóvel assume pelo menos três grandes razões (estando todas elas relacionadas): económica, ambiental e turística
    •    Económica, pois não produzimos o combustível que utilizamos para mover a frota automóvel nacional, o que implica importar combustível, agravando assim ainda mais a relação entre importações e exportações que tantos afectam a nossa economia. Já para não falar dos materiais para construir as infra-estruturas rodoviárias. •    Ambiental, pois os automóveis são responsáveis por grandes impactes ambientais, especialmente na qualidade do ar e no ruído, entre outros. Até os modos de propulsão alternativos como os eléctricos têm os seus problemas ou não fossem as baterias em «fim de vida» resíduos problemáticos e perigosos. •    Turística, pois os automóveis poluem, são perigosos para peões e ocupam áreas nobres das cidades que assim perdem assim o seu potencial de turismo.
Chegou a altura de transformar estes actos simbólicos em acções do dia-a-dia, algo que cabe principalmente aos nossos governantes - se bem que também temos a nossa dose de responsabilidade no modo como escolhemos em nos movimentar -, à sua capacidade de planear e ordenar, impondo regras que limitem o uso excessivo do automóvel mas sem esquecer que devem também criar e dar alternativas de transporte (preferencialmente público) e mobilidade aos cidadãos - a conhecida teoria do "bastão e da cenoura"

(Texto publicado no Diário de Leiria em 27 de Setembro de 2010)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A equação do incêndio

Tal como existe uma época balnear, existe também uma época de incêndios - ambas por razões climáticas e meteorológicas, dependentes das elevadas temperaturas. Entre as muitas diferenças que as distinguem há uma curiosidade que não posso deixar de referir: os Portugueses tendem a iniciar as suas actividades balneares mesmo antes do inicio da época oficial; já os incêndios tendem a iniciar-se e aumentar drasticamente aquando da publicitação e divulgação do inicio da dita época e da informação dos primeiros actos de fogo. Mais estranho é que durante a realização de um grande evento desportivo ou cultural, já em pleno Verão e com todas as supostas condições meteorológicas reunidas (entre outras) para que um qualquer incêndio de grandes proporções se inicie e lavre o suficiente para o tornar perigosamente importante, fica-me na altura quase sempre a ideia de que não existem incêndios em Portugal e de que não corremos esse risco – provavelmente coincidências de calendário e de meteorologia. Em jeito de sarcasmo e ironia deixo a seguinte questão: será que precisamos de “Mundiais de Futebol”, “Jogos Olímpicos”, festivais de música e afins para evitar incêndios em Portugal? Curiosidades e sarcasmos à parte – pois trata-se de assunto sério -, independentemente dessas atitudes e ocorrências mediáticas contribuírem ou não para o aumento dos incêndios, na verdade um incêndio só pode ocorrer se se reunirem três condições fundamentais necessárias, três parâmetros, tendo obrigatoriamente de existir: ignição, combustível e comburente.
 Quanto ao comburente, em ambientes exteriores nada poderemos fazer para o retirar da equação que origina o incêndio. Pois, o ar que respiramos, aquele que constitui a nossa atmosfera, é composto por cerca de 21% de oxigénio – o principal comburente que existe.
O combustível, bem, esse existe por todo o lado também. Matas, florestas e agrupados de árvores são por si só um excelente combustível, especialmente inflamável e combustivo se a eles estiverem associados materiais vegetais contíguos, rasteiros e secos – aquelas espécies vegetais intituladas de “matos”, assim como outros resíduos e produtos vegetais florestais, ambos resultantes da falta de limpeza e manutenção das nossas áreas arborizadas. Aqui sim, poderemos actuar. Limpezas e ordenamento das florestas podem e devem ser feitos, criando acessos e aproveitando a biomassa residual daí proveniente enquanto combustível (produto sustentável ao nível das emissões de CO2) e fertilizantes. A solução parece fácil, mas a implementação - como todos temos visto - é difícil e exige: fiscalização e execução de planeamento e ordenamento do território por parte do Estado e poder Local; proprietários privados consciencializados para a responsabilidade de tratarem das suas florestas e terras.
O terceiro parâmetro, a ignição, talvez seja o mais passível de ser controlado – pelo menos aparentemente. Por mais “combustível” (zonas florestais desordenadas e sem manutenção) e uma atmosfera devidamente oxigenada, sem fontes de ignição o fogo não pode acontecer. O ateamento – a ignição – de um incêndio pode ocorrer de um modo “natural”, dependo do clima (altas temperaturas, radiação solar e baixos níveis de humidade), mas ser potenciado e catalisado indirectamente pela presença de lixos urbanos. Sabemos também que a acção e responsabilidade humana pode ser ainda mais directa, comprovando isso estão os comportamentos negligentes e intencionais de fogo posto. Ambas as acções são passíveis de causar incêndios de grandes proporções e ambas podem ser evitadas através da prevenção por campanhas de sensibilização e pela actuação das entidades responsáveis.
Temos evoluído, temos melhorado, mas os paradigmas mudam. Se antes os incêndios atingiam grandes proporções por falta de meios, hoje, provavelmente, eles acontecem por excesso de “combustível” (muitas vezes desordenado) e de fontes de “ignição” – podendo esses dois parâmetros ser reduzidos se todos assumirmos a nossa quota-parte de responsabilidade (autoridades e poder público incluídos).
Só espero que se evitem visões extremistas que levem à redução irreflectida de todos os parâmetros da equação do incêndio (combustível, ignição e comburente), ou seremos todos, qualquer dia, asfixiados por uma crescente falta de “oxigénio”.

(Texto publicado no Diário de Leiria em 27 de Agosto de 2010)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Igreja das Chãs, mais um erro de planeamento!

Avaliar, reabilitar e planear infelizmente ainda não são características que possamos atribuir a alguns serviços públicos e privados em Portugal. São muitos os exemplos disso, sendo o caso da Capela das Chãs apenas mais um. O que é mais grave nisto é que casos como estes são lugares-comuns e não excepções. De notar que, até associada a grandes obras se nota a mesma falta de planeamento; um exemplo disso foi a necessidade de recorrer a expropriações para o alargamento do IC2 entre Azóia e Marrazes, sinal de que as permissões para construir tão próximo da faixa de rodagem foram um evidentes erros, frutos da falta de planeamento. Hoje a manutenção dessas construções está inviabilizada devido à falta de visão daquilo que já na altura era óbvio – a via no futuro teria de ser reabilitada e alargada de modo a aumentar a sua capacidade para responder ao aumento espectável de tráfego.

Tal como no IC2, hoje a manutenção da antiga Capela das Chãs está inviabilizada por falta de planeamento no passado. Na altura em que foi pensada a nova Igreja, se realmente a antiga constituía património que justificasse uma reabilitação - isto porque infelizmente reabilitar é mais caro que construir novo -, o novo projecto deveria ter sido desenvolvido no sentido de renovar as existências arquitectónicas, mantendo o traçado arquitectónico e aumentando a capacidade da igreja com a construção de uma nova nave adjacente. Isto teria permitido manter a antiga capela quase intacta, garantindo condições para as, mais que justas, ambições e pretensões da populações em ter um local de culto moderno e adaptado às suas necessidades. Projectos como este que referi a título de exemplo não são novidade, afirmo isto até com base num exemplo bem tangível e próximo, algo que se executou na minha Freguesia. A Igreja dos Parceiros foi também recentemente ampliada e reabilitada no sentido de responder às necessidades da comunidade católica da freguesia. Mas, neste caso, atempadamente se pensou na preservação da antiga Igreja, datada do século XVIII, o que hoje permite a preservação do património e a celebração das práticas religiosas com o devido espaço para os fiéis, tendo em conta condições de conforto e segurança.
Atempadamente, em fase de projecto, muitas poderiam ter sido as soluções capazes de resolver a localização desadaptada, perante a rodovia, da antiga capela das Chãs. Facilmente se resolveriam os problemas associados à envolvente, ora reformulando os arranjos exteriores, ora alterando o próprio acesso ao edifício com entradas alternativas à que hoje está imediatamente junto à estrada.
Estando actualmente a reconstrução inviabilizada pela falta de planeamento do passado, resta a opção mais realista e pragmática: respeitar a vontade da população, dos proprietários e proceder à demolição, salvaguardando o património interior que pode ser removido e instalado noutro local.
Algo muito importante, e que pouco se tem respeitado, são os sentimentos e afectos que estas questões provocam nas pessoas. Toda esta “problemática” em volta da Capela das Chãs está a ser transformada e manipulada por interesses corporativos, políticos e de alguns indivíduos (muitos deles com responsabilidades óbvias nesta indesejável polémica), esquecendo realmente o que aqui mais importa - a comunidade local, as suas necessidades e aspirações.
Penso que a Capela poderia ter sido salvaguardada (custa-me sempre ver edifícios antigos desaparecerem), mas essa oportunidade desapareceu logo que se construiu a nova Igreja. Há muito a sentença de morte da antiga capela tinha sido ditada por outros poderes autárquicos, erro esse que não deve condicionar e impelir que outros se cometam no futuro pelos novos poderes locais.

(Texto publicado no Diário de Leria em 24 de Junho de 2010 e no semanário Região de Leiria em 25 de Junho de 2010)
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Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





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