Há um fosso que separa os cidadãos dos especialistas que implementam os instrumentos de planeamento e gestão do território. Na lógica de planeamento sistémico e racional, os especialistas tendem a trabalhar diretamente para os políticos. São eles que apresentam as soluções de modo a dar resposta às agendas políticas. Depois, quem decide, pelo menos no nosso sistema, são os tais representantes políticos.
Apesar de tudo, existem algumas tentativas de trazer o conhecimento dos cidadãos para o planeamento do território. Mas as tentativas que se têm feito para abrir os processos de planeamento não estão isentas de problemas, e só por existirem não garantem mais qualidade na participação. Por isso importa procurar alternativas, além da mera consulta ou votação sem mais interação. Na prática, os processos de participação convencionais tendem a ser longos, inconsequentes, participados pelos “suspeitos do costume”, facilmente transformados em campos de batalha e de ódio sem qualquer flexibilidade para mudança de opiniões. Em alternativa, os processos colaborativos devem permitir que os cidadãos partilhem os seus problemas e ideias, mas também têm de garantir que quem participa aprende sobre a complexidade dos assuntos em causa. A solução é seguir por vias mais colaborativas e informadas para concretizar os ideias da participação.
No passado dia 28 de fevereiro decorreu o Fórum Técnico na Marinha Grande organizado pelo município. Um dos temas foi a mobilidade sustentável, e consequentemente o planeamento do território. Fui um dos oradores e aproveitei para fazer uma pequena simulação com um jogo de planeamento colaborativo simplificado. Sobre o mapa da cidade da Marinha Grande os jogadores, de forma colaborativa e com base numa economia própria, podiam definir ciclovias, percursos de autocarros, implementar elétricos e construir uma circular externa, tal como localizar novos parques de estacionamento.
Esta demonstração serviu para explorar, na prática e em tempo real, até que ponto os participantes no fórum, especialmente os alunos, conseguiam entrar num exercício de planeamento colaborativo. Em 15 minutos os estudantes voluntários, apoiados pelos outros oradores, e sob o olhar do executivo municipal que estava sentado mesmo em frente ao mapa de jogo, interagiram livremente, respeitando o sistema económico do jogo. Definiram em conjunto três ciclovias, um trajeto de autocarros e outro de elétricos. Aos estudantes juntou-se um outro cidadão local, que, apesar da sua idade madura, interagiu naturalmente com os jovens. Depois também uma professora aderiu à dinâmica. Até os membros do executivo municipal opinavam e reagiam perante as decisões dos participantes.
Depois de um período inicial de alguma surpresa, a atividade foi cativando a assistência para participar. No final, em apenas alguns minutos, mais de 10 pessoas, sem preparação prévia, participaram num processo jogável e de aprendizagem que produziu um desenho colaborativo de prioridades para a rede de transportes locais.