Mostrar mensagens com a etiqueta Economia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Economia. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Aproveitar o vírus para decrescermos e evoluirmos

Depois de uma grande crise surgem sempre oportunidades de mudança e de fazer uns clichés. No final Vai Ficar Tudo Bem, porque ninguém sabe quando é isto acaba, mesmo quando inventamos finais felizes em histórias para acalmar os espíritos mais infantis. Era uma vez um sistema capitalista altamente adaptável onde todos vivíamos, mas onde nem todos morrerão felizes para sempre, porque o sistema está sempre a mudar e a transformar-se em realidades cada vez mais complexas. 

Muito do que fazemos afinal era inútil e dispensável. Percebemos que conseguimos viver consumindo menos. A produtividade bruta não é o mais importante, e não depende de horários rígidos nem de reuniões presenciais. Podemos ser produtivos sem nos deslocarmos e gastar recursos. Acelerámos sem bólides e não perdemos a nossa existência ao dispensar tantos papeis, viajar e vestir formalmente roupas uniformizadas. Também não precisamos de ir tantas vezes às compras. Mas precisamos de casas confortáveis, de saber estar e viver uns com os outros nos mesmos espaços. Precisamos de reaprender as vantagens de viver em comunidade, mesmo que seja para falar à varanda.

A pandemia traz uma lição de humanidade, mas só para alguns. Não estamos todos no mesmo barco, nem nas mesmas casas. É muito comodo falar das dificuldades do confinamento quando conseguimos manter os nossos rendimentos, ter conforto e múltiplas atividades para nos entreter. 

O confinamento obriga-nos a pensar. Alguns de nós ficaram com mais tempo, outros sentiram o efeito oposto, pela sobrecarga do trabalho remoto em simultâneo com o incremento das lides domésticas e da educação dos filhos perdidos sem aulas. Sabemos que não vai ficar tudo bem, que os impactos sociais e económicos vão ser imensos. Sabemos que a democracia corre riscos sérios, pois são estes os momentos mais propícios para o surgimento de extremismos. Os governos, por mais liberais que sejam, vão ter de intervir diretamente na economia e fazer planeamento social. 

Apesar de tudo, o modelo capitalista vigente não sabe lidar com decrescimento, por isso vai querer vingança. Dos cuidados intensivos aos infetados pelo COVID-19 os governos vão focar-se em cuidado paliativos para manter o capitalismo vivo. A próxima crise provocada pelas alterações climáticas, agora atenuada com o abrandamento económico, poderá ser então acelerada de forma irreversível. Com a natural reação furiosa para recuperar o “tempo perdido” iremos acentuar o crescimento a todo o custo, consumindo mais ainda que antes. 

Então é o momento de planear, apesar de todas as incertezas. Estamos no pico da curva da esperança, em frente à bifurcação da sustentabilidade. Há que aproveitar o momento para mudar rumo à sustentabilidade. Está na altura de consumir só o que precisarmos, de preferência de origem local e de acordo com a sazonalidade, transferindo a ânsia consumista para a cultura, porque essa nunca se esgota. Está na altura de evitar deslocações e trabalhar usando as tecnologias que nos permitem escapar aos modelos produtivos rígidos e seus desperdícios. 

Texto publicado no Diário de Leiria

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Moeda Local para Leiria: sugestão feita na Assembleia Municípal de 7/2/2020



Ideia base: Implementar uma moeda local no concelho de Leiria, criando a moeda de Leiria.
Objetivos: promover comportamentos sustentáveis, apoiar o comércio local e contribuir para a divulgação e imagem do concelho. Criar uma moeda física que se pudesse obter, de forma limitada, através de um projeto integrado de desenvolvimento local.

Como implementar:
• Consiste num projeto em que afeta uma verba municipal anual pré-estabelecida para a moeda em circulação;
• Funciona como um projeto de fomento de atividades locais, previamente definidas pelo município;
• Pode agregar outros parceiros que pretendam aderir para financiamento do projeto;
• Pode começar com uma fase em projeto piloto, para posterior adaptação e alteração.

Como obter a moeda local:
• Residentes no concelho de Leiria podem obter a moeda local através de um programa municipal de desenvolvimento sustentável (i. e., reciclar resíduos, utilizar transportes públicos e de bicicletas, consumir produtos locais, realizar ações de voluntariado ou outras que se insiram nas estratégias de desenvolvimento sustentável local). A quantidade de moeda que cada cidadão pode receber deverá ter limites.
• As moedas podem ser compradas nos espaços municipais, especialmente nos museus, uma vez que turistas e visitantes tendem a ter interesse nestes produtos. 

Benefícios particulares:

• Todos os cidadãos podem transacionar ou receber as moedas de Leiria, podendo ser utilizadas para pagar produtos e serviços no comércio local aderente, até limites também pré-estabelecidos;
• O comercio local e/ou prestadores de serviços podem aderir à rede aceitando pagamentos com moeda local, que depois poderão converter junto do município até determinados limites estabelecidos.

Benefícios globais:

• Promoção de comportamentos sustentáveis de impacto e benefício coletivo;
• Estímulo e apoio ao comércio e empresas locais;
• Reforço das relações sociais entre residentes e comerciantes/empresas;
• Aumento da resiliência local com base numa economia circular de base local;
• Aumento de receitas de turismo;
• Promoção e marketing territorial para Leiria;
• A criação da moeda é um ato de criação com valor cultural por si (i.e., as imagens podem estar associadas ao património local);
• Replicável noutros concelhos, e com casos particulares para as várias freguesias;
• Passível de aplicado a outras áreas temáticas, podendo ser enquadrada como projeto de apoio à Rede Cultura 27.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Melhorar os Mercados de Natal em Leiria e mais além

Há pouco mais de 10 anos era raro existirem animações de natal como como as atuais. Iluminava-se a rua e pouco mais. Óbidos foi quem realmente inovou nesta matéria, através das suas estratégias de animação cultural e de entretenimento. Desde então praticamente quase todos tentaram replicar, copiar ou fazer algo semelhante. 

Mas a origem destas festas está mais a norte. Há muitos anos que os festivais de natal, com os típicos ícones invernais da cultura Anglo-saxónica, Escandinava e de Leste animam o Norte da Europa e da América. Mudam-se os tempos e surgem naturais processos de aculturação, intensificados pelas poderosas ferramentas que hoje todos utilizamos, mas ainda mais por quem precisa de fazer dessa promoção profissão. É ver também os mais velhos a invocar o Menino Jesus perante as invasões de Pais Natais. Esse menino que alguns beijavam o pé e assim arriscavam levar algo mais para casa do que apenas uma alma purificada.

Temos assistido à continua transformação das festividades de Natal em Leiria, cada vez mais próximas do que se vê no norte da Europa. Lembro-me de quando não havia nada, da crise e daquela iniciativa em que se iluminou a Rua Direita com velas em copos oferecidas pelos leirienses. Pena não se integrarem essas iniciativas e recuperar outras que se perderam, tal como a exposição de construções originais em peças de Lego, de grandes dimensões, que trazia milhares de pessoas ao Banco de Portugal. Mas admito que possa ser apenas o meu gosto pessoal a transparecer. Há que lembrar que estas iniciativas devem ser pensadas para todos, no conjunto ou pela articulação de múltiplas atividades complementares.  

Apesar da melhoria notória desconheço a sustentabilidade financeira desta aventura, tal como a ambiental que não deve menos importante. Uma pista de gelo pode ser altamente questionável do ponto de vista ambiental. Mas o certo é que são proporcionadas várias atividades gratuitas, acessíveis a todas as crianças, independentemente do poder de comprar das suas famílias. Há também atividades para adultos, variedade e qualidade crescente nos comes e bebes disponíveis. De salientar também a oportunidade dada às associações culturais e de solidariedade social em participar, e assim reunir apoios para as suas atividades. 

Voltando ao que se presencia nos tais mercados mais a norte, aqueles que influenciam o que por cá fazemos, ainda falta trazer a conjugação do mercado regular com o mercado de Natal. A minha sugestão é que isso seja incluído num próximo passo, em que possamos comprar também produtos locais e diferenciados por quem os produz. Seria uma forma de complementar o comercio tradicional do centro da cidade. Com esta adição ainda mais pessoas seriam atraídas. Seria uma forma de garantir mais sustentabilidade ambiental, uma vez que consumir o que se produz localmente, com produtos da época, é um caminho inevitável para reduzir impactes ambientais. Fica a sugestão. 

Nota: texto publicado no Diário de Leiria

terça-feira, 30 de abril de 2019

Sistema de apoio ao estacionamento para a Feira de Maio: um exemplo a seguir

Quando se diz que Leiria tem problemas de falta de estacionamento estamos a dizer, no fundo, que tem excesso de dependência de automóveis. Quantos mais lugares criamos mais atração e mais necessidades de estacionamento vão surgir. Inevitavelmente, para suprir estas necessidades, temos de pensar nos transportes e na mobilidade como um sistema, em que usamos vários modos de transporte, articulados uns com os outros, para transportarmos pessoas e bens da forma mais comoda, rápida e eficiente.
Isto tudo a propósito da Feira de Maio e do Jardim de Almoinha Grande que está na fase final de conclusão. Com o novo jardim desapareceu a zona que servia de apoio ao estacionamento informal da Feria de Maio, agora conhecida como Feira de Leiria. Preveem-se assim dificuldades e caos pela falta de estacionamento, uma vez que em Leiria e na região envolvente dependemos muito do automóvel privado para nos deslocarmos.
Devíamos apostar em transporte público e coletivo, mais isso não se faz de um dia para o outro. Na prática esse esforço não tem sido a prioridade.  Bem sei que é dispendioso e que a nossa ocupação territorial dispersa não ajuda a implementar uma rede funcional e sustentável. Mas é urgente começar a estruturar essa rede para que não se diga que a falta de estacionamento continua a ser um problema e para que possamos aproveitar melhor os escassos espaços urbanos livres que temos no centro da cidade, tal como fazer a nossa parte na missão de redução das emissões poluentes.
Mas Leiria não pode parar. A cidade e todo o território concelhio, de uma forma geral, são exemplos de dinamismo. As estatísticas comprovam isso mesmo. Por isso importa conjugar o desenvolvimento de Leiria com soluções sustentáveis. No fundo esse é o grande segredo para o desenvolvimento sustentável. E para a nossa terra não devemos exigir menos que isso.
A Feira de Leiria terá uma importância relativa. Não será esse evento que define o desenvolvimento da nossa cidade, no entanto atrai pessoas e gera alguns efeitos multiplicadores na economia local. Para além disso é uma tradição, mesmo que algo renegada e não assumida. Quer queiramos quer não, esta feira diz algo aos leirienses.
Nesse sentido acho que é de louvar o esforço de planeamento e comunicação que foi feito para proporcionar parques de estacionamento alternativos para servir os visitantes da Feira de Maio, com transporte coletivo gratuito de apoio. É a solução possível. Espero sinceramente que seja um sinal de uma mudança para um futuro sistema de mobilidade urbano, mais sustentável para a nossa cidade. Com isto está dado o primeiro passo. Agora é continuar a caminhar nesse sentido, sem medo, pois o nosso futuro disso depende.
Espero que um dia existam autocarros a circular entre parques de estacionamento, facilitando o uso das bicicletas também e com apoio a pessoas com mobilidade condicionada.  Espero que tudo isso se transforme num sistema de informação e comunicação em tempo real, com acesso rápido e facilitado para todos. 

Texto publicado no Diário de Leiria

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Externalidades ambientais e suiniculturas: castigar e acarinhar

Uma atividade económica tem, habitualmente, externalidades, que são aqueles efeitos externos à própria atividade e que não se refletem no mercado. Quando me refiro a mercado estou a pensar no sistema de relação entre oferta e procura do bem ou serviço em causa que gera o preço. No fundo as externalidades são efeitos positivos ou negativos para terceiros, que não participam ativamente na construção do preço.

Dizia-se que na nossa região tinha mais porcos que pessoas. Independentemente disso, a produção suinícola é muito relevante na nossa região, tanto pelo volume de negócios como pelos impactes ambientais da própria atividade. Estamos perante casos de externalidades. Uma delas são os dejetos e efluentes suinícolas, especialmente quando despejados de modo a impactar o ambiente, quer em excesso sobre os solos nos espalhamentos quer diretamente para as linhas de água. 

Surge deste modo uma externalidade que tem de ser internalizada na própria atividade económica. Os custos ambientais têm de ser refletidos no produto, neste caso na carne de porco. No enanto, não é sustentável ser uma mera indemnização. Esse custo deverá ser convertido em tecnologias e sistemas produtivos que minimizem e tratem os efluentes e resíduos assim produzidos. Como isso tem custos, os mesmo devem ser transferidos para o preço de mercado. 

Poucas são as atividades económicas que não são forçadas a internalizar as suas externalidades, especialmente quando são materializadas em impactes ambientais. Por isso não se compreende como podem continuar a funcionar as suiniculturas em estado de incumprimento com a legislação ambiental em vigor. Não é por falta de regulamentação que os casos como a poluição da ribeira dos milagres e de toda a bacia hidrográfica do Lis persistem. Talvez falhe a fiscalização e a capacidade de transformar esses registos em consequências.

Por outro lado, nem todas as suiniculturas são focos de crime ambiental. Haverá com certeza bons exemplos, que numa economia de mercado são prejudicados por terem de competir com quem não assume os custos dos impactes ambientais que gera. Deveria haver uma forma de reconhecer esses casos, algum tipo de selo, de reconhecimento público, para que soubéssemos que aquela carne que consumimos não gerou poluição.  

Em resumo, uma dupla ação seria provavelmente o mais adequado. Se a lei é para cumprir, e isso tem sido claramente algo por garantir neste caso, também podemos defender uma atitude alternativa, ainda que não desculpe de modo algum os poluidores. Nem todos os suinicultores são maus na sua atividade, como nem todas as pessoas são boas no exercício da sua cidadania. O mundo real não é uma fotografia estática a preto e branco. 

Até os governos mais liberais sabem que têm de controlar a poluição. Não basta produzir legislação ou reclamar de forma inconsequente. É preciso atuar e mobilizar as consciências de todos. Ninguém quer que a poluição suinícola continue a ser uma marca da região.

Texto publicado no Diário de Leiria.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Criação da Associação Start-Up Leiria poderá ser instrumento de regeneração urbana - Intervenção na Assembleia Municipal de Leiria

Criar uma Start-Up pode ser apenas mais um exercício mediático, com o simples intuito de demonstrar dinamismo económico ao sabor da onda da moda. Mas se a criação de uma Start-Up promover o surgimento de novas empresas, capazes de gerar emprego de qualidade e um crescimento económico sustentável, então só podemos aplaudir. Tudo indica ser esse o caso da associação que aqui se propõe constituir.


Na era da informação somos fruto da terceira revolução industrial, que comunica agora nos ambientes online, moldando as sociedades numa rede que por vezes escapa às logicas territoriais. Mas estas redes necessitam forçosamente de assentar os seus nódulos comunicantes no território, pois, por mais virtuais que sejam os serviços e produtos prestados pelas novas empresas, as operações têm sempre uma parte territorialmente localizada. Parece-me que a criação desta Start-Up tem esse intuito, de localizar no território de Leiria a materialização desta economia ligada à industria 4.0, à inovação e à vanguarda da comunicação e tecnologia. Este tipo de criação poderá ser mais uma ferramenta importante para transferir conhecimento das universidades, no nosso caso particular do Instituto Politécnico de Leiria, para as empresas, fixando mão-de-obra especializada e capitais privados no nosso território. Pode ser a possibilidade de aproveitar as boas ideias dos jovens das nossas academias, que de outro modo, sem o investimento privado associado à Start-up, dificilmente poderiam vir a ser concretizadas.

A localização propriamente dita de uma Start-Up assume grande relevância. A proposta de instalação no Torreão do Mercado de Santana é uma solução que conjuga o pragmatismo com uma estratégia de planeamento futuro, aproveitando uma infraestrutura existente. Trata-se de um exemplo simbólico de como as novas empresas podem dar uma nova alma ao património edificado, contribuindo para a sua sustentabilidade. Tal como acontece noutras cidades que têm Start-ups de sucesso, Leiria poderá seguir o exemplo de aproveitar os investimentos realizados, diretos e indiretos, para ajudar a alavancar a regeneração urbana do centro da cidade. Havendo criação de emprego, num grupo-alvo jovem e instruído, que valoriza a vivência urbana, surge a possibilidade de dar uma nova sustentabilidade às zonas centrais das cidades. Ao surgirem novas empresas no centro da cidade surgirá a necessidade de ter habitação de proximidade, a possibilidade de utilizar racionalmente as infraestruturas urbanas existentes, tal como todos os serviços e equipamentos que acompanham a vida urbana e ativam a economia local. Relembrando que em Leiria estão constituídas Áreas de Reabilitação Urbanas, que permitem uma gestão e intervenção municipal especial, criam-se as condições para que o município possa participar ativamente na regeneração do edificado devoluto e das atividades urbanas que dão vida real à cidade, por si só ou em múltiplas parceiras. Lembro, a titulo de exemplo, a possibilidade de invocar o direito preferencial de aquisição de imóveis por parte do município. Ou seja, o crescimento da Start-up, poderá ser mais um veículo de crescimento económico, de criação de emprego mas também de regenerar o próprio centro Histórico de Leiria, desde que sejam tomadas medidas concertadas de investimento nesse sentido que atendam ao interesse públicos e legítimos direitos individuais.


Se o município investe neste momento 6.000€ para a constituição da associação Start-Up Leiria, que vai usar um espaço edificado reabilitado do centro da cidade, dando-lhe vida económica, no futuro, com o crescimento do projeto, poderá surgir a necessidade de mais espaço e investimento.  Há que ter a noção de que o projeto prevê o surgimento de cerca de 200 postos de trabalho, mas que se considerarmos outros casos de Start-ups noutros locais, e tendo em conta o dinamismo económico e pujança da academia Leiriense e das tantas empresas inovadoras sediadas em Leiria, estes números podem facilmente crescer. No entanto, os 200 postos de trabalho previstos, terão impactos, por si só, consideráveis na cidade.

Deixo então a sugestão de que os futuros investimentos na Start-ups contribuam também para a regeneração urbana da cidade de forma sustentável, relembrando que regenerar as cidades é recuperar e criar novas atividades económicas e culturais. Para que o investimento público neste projeto e associação não sirva apenas para gerar dividendos privados, que forçosamente acontecerão com o sucesso do projeto, será importante que o município tenha um papel ativo na associação, trabalhando com os demais parceiros, aproveitando as oportunidades de transferir direta e indiretamente para o interesse e bem-comum as potenciais sinergias positivas que dificilmente poderiam acontecer de outro modo. A Start-up Leiria poderá ser uma ferramenta importantíssima de desenvolvimento local, com forte componente na valorização do capital humano e do conhecimento, mas poderá ser também um modo de garantir a regeneração urbana que todos pretendemos para o nosso património urbano, que é mais do que meros edifícios: esse património é também a nossa cultura, as nossas gentes.

Intervenção proferida na Assembleia Municipal de Leiria em 20 de Novembro de 2017

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Jogos sustentáveis para Sociabilizar e Desenvolver

Os jogos de tabuleiro estão muito longe de ser uma novidade. Basta pensar nos séculos de sucesso do xadrez.

No entanto, nos últimos anos têm surgido no mercado nacional cada vez mais opções para jogar em sociedade, à mesa e sem gastar energia. Para além dos conhecidos jogos de tabuleiro mais tradicionais e habituais, surge agora uma imensa panóplia de jogos de maior complexidade e iteratividade, onde cada partida é sempre diferente e desafiante, sem que a sorte seja um fator preponderante. Estes novos jogos, tendencialmente de origem germânica, são uma novidade capaz de divertir, entreter e estimular com desafios estratégicos, públicos heterogéneos. Esses jogos, com temas e mecânicas diferentes para todos os gostos, criam uma competição iterativa onde vence quem melhor souber gerir e otimizar os recursos disponíveis, desenvolvendo-se rumo aos objetivos de vitória em causa, atendendo sempre às opções e relações com os demais jogadores. Existem jogos tão diversos como: gestão agrícola; redes energéticas; transportes; comércio; construções de cidades; desenvolvimento de civilizações; entre muitos outros.
Insisto na divulgação destes jogos pois criam novas oportunidades de entretenimento e até de desenvolvimento cognitivo. Estes jogos fomentam exercícios intelectuais complexos e divertidos, modos de sociabilizar entre amigos, e evitar as já imensas horas que passamos em frente a monitores e afins. São uma oportunidade para as próprias famílias, dispensando os excessos em frente a televisões, computadores e videojogos. Não é por acaso que os jogos de tabuleiro ganham novo terreno e complexidade, surgindo cada vez mais como alternativa a outros modos de entretenimento caseiro. Podem aproximar amigos, pais e filhos, de um modo construtivo e sustentável.

O sucesso (e origem) deste tipo de jogos no centro e norte da europa, especialmente na Alemanha, pode levar-nos a outras reflexões. Primeiro, porque são povos muito mais habituados a sociabilizações entre portas; e depois porque são países que se caraterizam por diferentes tipos de organização e de empreendedorismo implícitos. Isto poderá não querer significar nada, e até nem haver qualquer relação entre os hábitos lúdicos e as realidades socioeconómicas desses países, mas não deixa de ser curioso e de dar que pensar!
Por cá a realidade vai mudando. Começam a surgir jogos complexos de tabuleiro nacionais, e na nossa região, na Nazaré, ocorre todos os anos uma convenção nacional de jogos do género. Vale a pena experimentar!
Texto publicado no "Diário as Beiras" e "Diário de Leiria"

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Intervenção na Assembleia Municipal de Leiria sobre Alargamento da Zona de Reabilitação Urbana

O alargamento da área de reabilitação urbana do centro histórico de Leiria poderá ser importante para a economia local, quer pelo incentivo e reabilitação efetiva de uma zona que se encontra degrada e em decadência (a vários níveis) quer pelas oportunidades que cria para o setor da construção, e toda a economia indireta.


Se lembrarmos que o Valor Acrescentado Bruto (VAB) do setor da construção, comparativamente com o total nacional de todas as atividades económicas, tem vindo a contrair nos últimos anos - de 2000 para 2011 desceu de 7,8% para 4,7% - podemos daí fazer uma correlação com a queda do PIB a nível nacional, que, como sabemos, entre 2000 e 2011 desdeu do valor positivo de 3,9% para o valor negativo de 1,6%. A relação entre a queda do setor da construção e a queda da economia nacional é evidente (ou não fosse um dos setores mais representativos), pelo que a recuperação económica terá de passar também pela recuperação e reinvenção do próprio setor da construção nacional.
Se olharmos para a realidade do concelho, constatamos que entre 2009 e 2010 desapareceram mais de 200 empresas do setor da construção, e que a totalidade das que se mantêm no mercado continua a deter um peso muito importante: representam diretamente 12% das atividades económicas empresariais. Ou seja, a construção é importantíssima nas sinergias económicas do concelho, direta e indiretamente, e o seu impacto sobre a oferta de emprego é incontornável.
Aprofundando um pouco mais os dados do setor imobiliário no conselho, saltam à vista outras conclusões. A construção nova no concelho tem vindo a cair vertiginosamente. Em 1995 construíram-se 636 empreendimentos, quando em 2011 apenas se construíram 261. Mas, por outro lado, as empreitadas de ampliação, alterações e reconstruções subiram de 57 em 1995 para 170 em 2011. Se tivermos em conta que existem, em média, 30% de habitações desabitadas ou ocupadas parcialmente em Portugal, que os nossos modelos difusos e expansionistas demonstram ser insustentáveis, e que a nossa média de reabilitações de edifícios está muito abaixo dos valores homólogos europeus, então: o futuro do setor da construção e das nossas cidades terá forçosamente de passar pela reabilitação do edificado e dos próprios espaços urbanos.
Assim, a proposta de alargamento, apresentada pelo município, permitirá intervir, com financiamento através de fundos europeus, em edifícios âncora na nova zona agora alargada. Será um modo de reabilitar património histórico que tornará as zonas envolventes mais atraentes e atrativas, será também um modo de incentivar a reabilitação pelos proprietários do edificado da zona, uma vez que podem vir a beneficiar de um quadro de apoios e isenções especiais criadas para iniciativas de reabilitação privadas. Tendo também em conta a importância do setor da construção e a necessidade de o reorientar para a reabilitação, e porque a sua pujança é importantíssima para a economia local e para garantir empregos, esta decisão autárquica é seguramente um incentivo real a esse setor.
De um modo resumido, com o sucesso da aplicação de uma reabilitação urbana séria e sustentável: preserva-se o património físico, garante-se a funcionalidade dos espaços urbanos agora degradados ou abandonados, promove-se e incentiva-se o desenvolvimento da economia local e a oferta de emprego.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

As estimativas dos especialistas financeiros valem zero?!

Estava eu a ler um livro de psicologia social - Pensar, Depressa e Devagar - quando leio o seguinte excerto, acerca dos erros ( resultando do excesso de confiança e e outras razões e impossibilidades resultantes dos processos cognitivos e relacionais sociais) em previsões financeiras:

"Durante alguns anos, houve professores da Universidade de Duke que dirigiram um inquérito em que os principais funcionários financeiros de grandes corporações estimavam os lucros do índice da Standar & Poor´s para o ano seguinte. Os académicos de Duke coligiram 11.600 dessas previsões e examinaram a sua precisão. A conclusão foi linear: os funcionários financeiros das grandes corporações não faziam a mínima ideia acerca do futuro a curto prazo do mercado de acções; a correlação entre as suas estimativas e o verdadeiro valor, era ligeiramente inferior a zero! Quando diziam que o mercado desceria, era ligeiramente provável que subisse. Estas descobertas não são surpreendentes. As verdadeiras más notícias são que os administradores-executivos não pareciam saber que as suas previsões eram desprovidas de valor.





Penso que com este excerto podemos concluir, à partida, algumas coisas, e começar por desmontar certas ideias pré-concebidas sobre mercados e economias.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Governos Incoerentes – Os Novos Neoliberais

Com as novas medidas de austeridade não há hoje português indiferente aos que nos governam. Pelo menos, no final do mês, quando sobressair o corte na folha de vencimento - para quem a tiver -, há garantia de um mau estar coletivo, de tendencial revolta, para com a ação dos dirigentes políticos.

Pensando nas medidas recentemente anunciadas propriamente ditas, podemos fazer várias leituras políticas mais conceptuais. Há várias tendências políticas – para não lhes chamar “ideologias”, pois isso intimida muito boa gente – com soluções diferentes para o caso dos défices das contas públicas e para a crise. Haverá quem defenda o aumento das receitas e quem defenda a redução da despesa, ou então um misto ponderado de ambas as alternativas – pessoalmente, aquela que me parece mais equilibrada e adequada, mas que exige mais esforço informativo, organizativo e estratégico. Teorizando ao de leve, é difícil de enquadrar politicamente a opção deste Governo. Digo deste especificamente pois todos sabemos que se trata de uma Governo de Direita que defende uma visão neoliberal de “Estado Mínimo” - menos intervenção, menos sector empresarial público, menos peso e responsabilidade pública na saúde, educação e ação social, e menos outras mais coisas importantes -, acompanhado da redução da carga fiscal. Depois das notícias que ouvirmos – e parece que mais ainda virão -, é difícil de encaixar a teoria com a prática governativa. É mesmo chocante! Foi o próprio atual Primeiro-ministro (PM) que disse, em tempos passados, que a economia funcionaria muito melhor se estivesse menos restringida por impostos e burocracias, com um estado “ágil e leve” – a velha teoria liberal da “mão invisível” de Smith que autorregularia e salvaguardaria a eficiência os sistemas económico-sociais. Por mais que custe a admitir, mesmo que o Governo quisesse seguir essas políticas de fundo – novamente uso este termo para evitar o recurso à temida “ideologia” – a Troika provavelmente não deixaria. No entanto, se recuarmos pouco mais de um ano, veríamos o atual PM a forçar o PM da altura, por falta de apoio parlamentar ao Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) 4, a criar as condições para que a tal Troika tomasse conta do país.
Então afinal a culpa é de quem? Dos que estiveram, dos que estão ou dos que virão? A culpa seguramente é pelo menos dos dois primeiros, sendo a percentagem de cada um discutível. O que não é admissível é desculparmo-nos também da nossa responsabilidade cívica. É nosso direito e dever contribuir para a governação política, nem que seja demonstrando descontentamento, alternativas e que queremos outras soluções!
Texto publicado no Jornal Tinta Fresca

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Uma semente de cidadania política lançada num recente fórum


Fóruns há muitos, para muitos fins e objetivos, mas relembrar o fim original (e histórico) desse espaço é inevitável para a sua compreensão. Os fóruns foram, acima de tudo, invenção romana; eram locais de interceção literal (cardus e decomanus) e ideal da cidade, dos caminhos e das ideias urbanas (coincidentes ou divergentes). Nesse espaço aconteciam e decorriam praticamente todas as atividades importantes. Então e hoje? Teremos os fóruns, pelo menos os de produção de ideias e estratégias comuns, que precisamos? Temos cada vez mais fóruns, isso é um facto, mas muitos mais nos faltarão para que a sua utilidade possa ser efetiva, e deles possam surgir concretizações reais. Hoje, com as novas tecnologias de informação e comunicação, especialmente a WEB2.0 dos fóruns virtuais, dos blogues e das redes sociais, outras plataformas podem ser despoletadas para o debate de ideias. No entanto, os fóruns presenciais ainda são os meios contemporâneos mais eficazes - até porque ainda não experimentamos com toda a seriedade o potencial dos espaços virtuais - para fazer verdadeiros exercícios de cidadania (política) contributiva. Os cidadãos, para além da obrigação de contribuir com taxas e impostos para a causa pública, devem contribuir com ideias, projetos e até o simples e importante voluntariado. Discutir e partilhar ideias é também uma forma de voluntariado útil, desde que os resultados desses exercícios intelectuais possam chegar a bom porto - à sociedade civil e ao poder local e nacional. 
No passado dia 18 de Março, ocorreu um Fórum Autárquico sobre Leiria, organizado por um dos maiores partidos nacionais – nome ou sigla que para o fim deste texto pouco importa –, onde aconteceu algo pouco habitual. Esse fórum concretizou-se com vários debates abertos ao público, a decorrerem em simultâneo, em várias salas do IPJ, onde se abordaram temas sectoriais concretos. Na secção do ambiente, urbanismo e desenvolvimento económico – aquela que me competiu moderar -, o debate foi muito rico e diverso, com verdadeiro potencial e interesse municipal. Participaram no fórum especialistas, muitos deles sem qualquer vínculo ao partido organizador do evento, que em total liberdade expuseram conceitos e ideias devidamente fundamentadas. Foi possível registar, pelos coordenadores e comentadores dos vários temas, breves sumulas do que foi partilhado, de modo a disponibilizar posteriormente essas informações ao Município e à comunidade. Lembro sugestões, da secção onde estive envolvido, como: criação de comissão de acompanhamento ambiental; definir qual o património estratégico ambiental a proteger; considerar os gastos em Ambiente como um investimento e não um custo; da necessidade de tornar os espaços urbanos polifuncionais e resolver o problema da dispersão urbana; a necessidade de encontrar um marketing e imagem para o concelho; de criar plataformas para auscultar os intervenientes e envolvidos nos vários assuntos de decisão no município; entre muitos outros de uma longa e extensa lista de recomendações e ideias.
Ficou um bom exemplo de cidadania política ativa. Agora há que não esmorecer. Há que fazer esforços para que as ideias se concretizem. De futuro, o ideal será que nestas iniciativas partidárias possam participar ainda mais independentes e até convidados dos demais partidos. Não será fácil, pois a cultura política vigente ainda não está aberta para este tipo de entendimentos, mas temos todos de os tentar! O bem comum exige esse esforço!

Texto publicado no Jornal de Leiria em 22 de Março de 2012 e no Diário de Leiria em 28 de Março de 2012

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O positivismo e as festividades em extinção

Reclamar só pelo simples facto de o fazer, habitualmente e compreensivelmente – pois sem alternativas não há mudanças -, não serve de nada. Mas criticar, de um modo positivo e construtivo, por outro lado, faz todo o sentido: concretiza e eleva a cidadania e a participação cívica.
As dificuldades que o país atravessa são mais que evidentes, mesmo para quem não as note no seu dia-a-dia, os Media encarregam-se de nos fazer lembrar delas diariamente. Difíceis são os tempos presentes, por isso é normal que se veja o futuro de um modo mais acinzentado. No entanto, a tonalidade com que pintamos os dias vindouros depende do modo como queremos ou somos levados a ver a realidade – esse conceito por vezes tão subjetivo. A dita crise – jargão que de tão usado já quase nada significa para os portugueses – é uma consequência de medidas tomadas (ou não) no passado, sendo, na mesma medida, também o futuro condicionado pelas decisões que hoje tomamos, ou não fosse o passado desse futuro o nosso atual presente
Fonte:  http://contracrise.com/
Sim, precisamos de aumentar a produtividade, e há pelo menos dois caminhos para isso: pela quantidade ou pela qualidade. No imediato, a segunda opção – a da qualidade – exige maior investimento (a vários níveis), algo que está muito condicionado pela falta de financiamento disponível. Apesar disso, tal opção não pode ser abandonada, pois isso implicaria abdicar da evolução social e melhoria da qualidade de vida de quem trabalha, já para não falar da qualidade do produto do trabalho. No entanto, a curto prazo, dadas as limitações económicas e financeiras, provavelmente seremos obrigados a trilhar pelo aumento da produtividade através da quantidade daquilo que já se produz; daí ser defensável que tenhamos de dedicar mais horas ao trabalho. Até aqui tudo bem, mas nem sempre mais tempo de trabalho significa maior quantidade de produção associada, pois nas tarefas produtivas entram outros fatores, especialmente quando são as pessoas os “motores da produção”.
Nenhum trabalhador sem a devida motivação será verdadeiramente produtivo. Trabalhar, muitas vezes, horas e horas a fio não significa produzir muito. Precisamos é de produzir bem, e o mais possível com o mínimo de tempo, sem desperdícios e com real sustentabilidade. Para isso precisamos de cuidar da motivação, saúde mental e emocional dos trabalhadores. As pessoas têm de trabalhar, contribuindo para o crescimento da almejada produtividade, com otimismo e esperança no futuro, sentindo-se úteis e recompensadas por isso.
A responsabilidade de transmitir otimismo, cuidar da motivação e alegria dos cidadãos deveria ser abraçada por todos os Governos, pois disso dependerá a própria produtividade laboral, seja no sector público como no privado. Retirar feriados, dificultar celebrações e festividades (cívicas, laicas, ou até mesmo religiosas), que contribuem para alegrar o país (por exemplo o Carnaval), será um mau serviço à demanda por mais produtividade, apesar do aparente potencial bruto dessas medidas, já para não falar das perdas económicas associadas ao fim das próprias festividades. 
A economia tem de ser cada vez mais coadjuvada por medidas e políticas que assentem na psicologia positiva, até porque a economia não é tão racional como alguns a teorizam, tendo o lado emocional uma influência imensa e inquantificável!

Texto publicado no Jornal Tinta fresca em 11 de Fevereiro de 2012, no Diário de Leiria em 15 de Fevereiro de 2012 e parcialmente no semanário Região de Leiria em 10 de Fevereiro de 2012

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Um vislumbre da sapiência de Mário Soares pelo IPL

Dia 17 de Novembro de 2012, em mais uma Sessão Solene de Início de Ano lectivo no Instituto Politécnico de Leiria, houve tudo aquilo que esperávamos: discursos, entrega de diplomas, homenagens e música. Mas a edição deste ano contou também com uma lição especial, algo a que os organizadores chamaram de: "lição de sapiência". Tendo em conta o professor desta aula, muitos serão os que concordarão mas haverá sempre quem discorde de como foi apelidada o espaço destinado à intervenção do ilustre convidado, ou não fosse o orador sapiente o Dr. Mário Soares.
Mário Soares abordou a temática Europeia, tratou temas relacionados com a União Europeia, a Política Europeia e o Euro. Não se esperava outra coisa quando o pilar de orgulho da UE que é o Euro está actualmente sob ameaça, em risco de tombar, e com ele os próprios alicerces da própria União dos 27.
As palavras de Soares foram de crítica ao modo como tem sido conduzida recentemente a UE. Apesar disso tentou passar uma mensagem mais positiva: de que com outro tipo de liderança e reunir de esforços comuns esta actual crise facilmente seria facilmente ultrapassada. O nosso antigo Presidente reforçou e relembrou ao público aquilo que de bom distingue a Europa dos demais continentes: as suas conquistas culturais, humanistas, cientificas e a qualidade de vida generalizada que têm os europeus.

Houve tempo para responder a algumas perguntas do público. Não pude deixar de tentar obter mais saber do principal orador da tarde. Perguntei qualquer coisa do género: Em que medida mudou a mentalidade dos governantes e dirigentes da UE desde a altura em que aderimos e foi Presidente de Portugal para os dias de hoje?
Soares, com a sua natural simpatia e bom humor de quem partilhava uma sua opinião – numa altura da sua vida que poucos duvidam de ser franca – quase informal, diz mais ou menos isto: sabe, na altura, antigamente nos anos 80, a UE era governada por verdadeiros socialistas, até por democratas cristãos, com sentido de estado, que não se limitavam a desumanidade de um capitalista neoliberal que só olha a dinheiro e esquece as pessoas

Confesso que gostei da resposta, embora desgoste do seu significado e das implicações que traz: a realidade que estamos a viver neste momento e as maiores dificuldades que se especula que virão de futuro!

sábado, 29 de outubro de 2011

Haverá uma “Troika” que nos puxe?

Troika, Troika, Troika! O nome Troika tem sido utilizado – muitas vezes abusando dele - nas conversas de ocasião neste último ano, denotando quase um certo fascínio masoquista pelas implicações negativas, directas e indirectas, que tem e terá para nós portugueses.
Mas afinal de onde vem o termo Troika? Terá sido inventado aquando da crise das dívidas soberanas? Terá sido criado o termo propositadamente para nomear a equipa do Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia? Bem, parece que não, curiosamente o termo até já tinha sido empregue em Portugal durante o famoso “Verão quente de 1975” – que o diga Otelo Saraiva de Carvalho. Mas, independentemente das instabilidades do Pós 25 de Abril, parece que a origem do termo é russa. Troika, em russo, significa a associação de três cavalos (ou outros animais de carga) a um carro (carruagem, carroça ou trenó). No fundo a palavra representa uma associação, uma composição de três entidades que se unem para colocar algo em movimento. Terá então a Troika que tem visitado Portugal sido constituída para “puxar”, numa relação com a palavra russa, Portugal da crise? Então e será positivo sair de uma crise como um “atrelado”? Que será quando os cavalos se forem embora? Dirão os pragmáticos: “interessa é sair”, nem que os cavalos vão e venham, e que o percurso se faça intermitentemente, “interessa mesmo é que isto ande”. Afirmações desta natureza até podem ser defensáveis, no entanto se forem sempre motores de fora puxar-nos um destes dias perderemos o volante – se é que não perdemos já.
Especulações à parte, poucos são os termos novos inventados do zero. O mais comum costuma ser a adaptação, reformulação e reciclagem do que já anteriormente foi inventado e criado. Haverá algo mais sustentável que aproveitar e reinventar criações alheias? Mas servirão as fórmulas “dos outros” para outras realidades [a nossa]? Ou seja, poderá o modelo externo servir para resolver os nossos problemas internos, independentemente de serem 3 ou mais a ajudar? É que sendo verdade o significado do termo russo “Troika”, e a tal composição sirva para puxar pela neve fora os trenós, falando figuradamente: não terá o modelo de propulsão económica de ser readaptado para o nosso clima mediterrânico?
Esperemos que à Troika dos 3 se junte a força dos 4, com um novo elemento constituído pela energia dos portugueses para se salvarem a si próprios, pelo seu esforço, trabalho e mérito com um projecto adaptado às dificuldades da nossa realidade. Mesmo que todos os 4 tentem puxar e pôr a nossa economia a andar, terá este Governo a capacidade de nos conduzir? Vendo o caminho recente por onde nos tem levado, sempre à beira do princípio, esperemos que a viagem não acabe numa grande queda – uma queda abrupta do nosso poder de compra e qualidade de vida, que nos parece cada vez mais evitável devido às evitáveis decisões políticas recentes.

(Texto publicado no Diário de Leiria em 25 de Outubro de 2011)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Madeira – um mau exemplo de autonomia e responsabilidade

Se a Madeira a muitos de nós [continentais] passava, mais ou menos, despercebida e muitas vezes só pensávamos nela como um destino interno turístico, isso agora mudou. Se víamos o Presidente do Governo Regional da Madeira como um político e líder caricato, irreverente e estranho (tendo em conta a realidade política nacional), isso hoje também mudou. Não há hoje português - continental ou insular - que veja a Madeira e o seu Governo Regional da mesma maneira. A preocupação, desconforto e revolta instalaram-se nos portugueses…
Se andávamos preocupados com as nossas finanças públicas e se a desconfiança, por parte dos cidadãos, pesava cada vez mais sobre os nossos governantes, que pensar agora? Como poderemos confiar em alguém? Aliás, será que confiar é o tipo de sentimento que os cidadãos devem ter perante os seus políticos? Sim, penso que isso deveria acontecer, mas só se os próprios cidadãos começarem a assumir mais o seu próprio papel de intervenção política, aquele que se supõe que tenham numa democracia participativa como a nossa. Ou seja, temos de participar mais politicamente para mais exigir dos nossos políticos! Importava passar a tratar a classe política pela primeira pessoa e não pela terceira, deveria haver de facto uma revolução cívica de participação política: passar do "eles" para o "nós". Se não confiarmos em nós, em quem mais confiaremos? Confiando ou não, pelo menos seriamos sempre responsáveis e responsabilizados pelo que fizéssemos politicamente.
Voltando ao caso da Madeira e à sua autonomia especial. Do dito arquipélago foi-nos dado mais um mau exemplo político e cívico: autonomia na irresponsabilidade de fazer despesa e dependência no assumir dos encargos. Não há democracia que resista a cidadãos que usem a sua liberdade para a irresponsabilidade, esperando que outros assumam o resultado dos seus actos. Pior ainda é quando os cidadãos com responsabilidades políticas fazem o mesmo em nome de todos os outros. Mas aqui o problema é de base e relaciona-se com a ética. Poderão todos os cidadãos, especialmente os que reclamam a mais alta voz, dizer que têm exercido a sua cidadania de um modo pleno para que nenhuma culpa lhes seja também atribuída?
Independentemente disso, e porque ainda há cidadania responsável em Portugal, poderiam os cidadãos íntegros exigir ao Governo Regional da Madeira viagens em pensão completa de modo a poderem usufruir de todo o investimento que agora terão de suportar?
Só espero que um dia os cidadãos dos outros Estados-membros da União Europeia não tenham a mesma ideia e exijam o mesmo aos portugueses do continente

(Texto publicado no Diário de Leiria em 27 de Setembro de 2011)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Lixo - coscuvilhices sobres dívidas estatais

Parecesse que afinal, pelo menos para algumas instituições americanas, a nossa dívida estatal é "Lixo". Por terras do Tio Sam - familiar que pouco ou nada simpático tem sido para os europeus, especialmente quando são os seus dólares que estão em causa - existem várias Agências de Notação que fazem ratings, e com isso classificam, segundo os seus humores, a capacidade que os Estados têm de pagar as suas dívidas. Para além de inconstantes de humores - que traduzindo permite fazer uma evidente relação -, as ditas agências ao mudarem muito rapidamente de opinião, ainda o fazem "metendo-se na vida" dos Estados sem se preocuparem com a veracidade das informações e sem assumirem qualquer responsabilidade pelo que vão dizendo e partilhando. Isso por cá, pelo menos nos meios mais populares, chama-se de coscuvilhice ou maledicência, mas os economistas lá sabem. Para além de altamente temperamentais, não serão essas Agências também distraídas? Ninguém pode dizer que o actual Governo queira evitar o modelo ultra-liberal de redução do tamanho e papel do Estado - tão querido do modelo económico que fez prosperar as próprias Agências de Rating e que elas próprias prescrevem para uma sã economia -, mesmo que isso signifique reduzir o Estado Social e aumentar as desigualdades sociais. As tais Agências de Rating só podem andar distraídas, tal como aconteceu quando deram excelentes avaliações a Islândia pouco tempo antes desse país ficar na bancarrota. Afinal tudo parece continuar na mesma, apesar das mudanças políticas, piorando: continuam a aumentar os juros da dívida e a austeridade; as avaliações de rating a irem por ai a baixo com a economia real do país. Afinal parece que o problema não era do anterior Governo.
Mas e se tudo isto for uma grande peça de humor, ao estilo anglo-saxónico, uma encenação de humor negro carregado de sarcasmo e ironia, chegando mesmo ao "nonsense"? Nós, latinos, por regra, salvo algumas excepções, não apreciamos este tipo de humor, nem de facto andamos para grandes humores. Quando dizem que a nossa dívida é "lixo" não estarão a querer dizer que, tal como toda a boa "sucata", a dívida até tem valor? Suposições rebuscadas à parte, penso que se pensarmos assim, se optarmos pelo optimismo, nada perdemos, muito pelo contrário. Por acaso, ou talvez não - pois a aposta ambiental tem sido séria e abraçada pelos vários governos que passaram -, Portugal sabe lidar com os seus lixos, sabe trata-los, valoriza-los e acondiciona-los. O Lixo em vez de problema tem sido cada vez mais uma oportunidade.
Provavelmente - sendo benevolente para com as Agências de Rating, até porque já chega de  dizer que todos nos querem tramar e que a culpa, coitada, se com alguém de nós portugueses casa logo de seguida a deixamos divorciada - está na hora de aproveitar o lixo e encaminhar os desperdícios para uma valorização que valha a pena e sirva o bem comum. Podemos começar pelo aspecto psicológico colectivo e reciclar o desespero por optimismo! Se não formos optimistas seguramente que mais ninguém o será por nós!

(Texto publicado no Diário de Leiria em 13 de Julho de 2011 e no Jornal de Leiria em 14 de Julho de 2011)
Related Posts with Thumbnails

Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





TOP WOOK - EBOOKS

Novidades WOOK - Ciências

TOP WOOK - Economia, Contabilidade e Gestão

Novidades WOOK - Engenharia

Novidades WOOK - Guias e Roteiros