Fóruns há muitos, para muitos fins e objetivos, mas relembrar o fim original (e histórico) desse espaço é inevitável para a sua compreensão. Os fóruns foram, acima de tudo, invenção romana; eram locais de interceção literal (cardus e decomanus) e ideal da cidade, dos caminhos e das ideias urbanas (coincidentes ou divergentes). Nesse espaço aconteciam e decorriam praticamente todas as atividades importantes. Então e hoje? Teremos os fóruns, pelo menos os de produção de ideias e estratégias comuns, que precisamos? Temos cada vez mais fóruns, isso é um facto, mas muitos mais nos faltarão para que a sua utilidade possa ser efetiva, e deles possam surgir concretizações reais. Hoje, com as novas tecnologias de informação e comunicação, especialmente a WEB2.0 dos fóruns virtuais, dos blogues e das redes sociais, outras plataformas podem ser despoletadas para o debate de ideias. No entanto, os fóruns presenciais ainda são os meios contemporâneos mais eficazes - até porque ainda não experimentamos com toda a seriedade o potencial dos espaços virtuais - para fazer verdadeiros exercícios de cidadania (política) contributiva. Os cidadãos, para além da obrigação de contribuir com taxas e impostos para a causa pública, devem contribuir com ideias, projetos e até o simples e importante voluntariado. Discutir e partilhar ideias é também uma forma de voluntariado útil, desde que os resultados desses exercícios intelectuais possam chegar a bom porto - à sociedade civil e ao poder local e nacional.
No passado dia 18 de Março, ocorreu um Fórum Autárquico sobre Leiria, organizado por um dos maiores partidos nacionais – nome ou sigla que para o fim deste texto pouco importa –, onde aconteceu algo pouco habitual. Esse fórum concretizou-se com vários debates abertos ao público, a decorrerem em simultâneo, em várias salas do IPJ, onde se abordaram temas sectoriais concretos. Na secção do ambiente, urbanismo e desenvolvimento económico – aquela que me competiu moderar -, o debate foi muito rico e diverso, com verdadeiro potencial e interesse municipal. Participaram no fórum especialistas, muitos deles sem qualquer vínculo ao partido organizador do evento, que em total liberdade expuseram conceitos e ideias devidamente fundamentadas. Foi possível registar, pelos coordenadores e comentadores dos vários temas, breves sumulas do que foi partilhado, de modo a disponibilizar posteriormente essas informações ao Município e à comunidade. Lembro sugestões, da secção onde estive envolvido, como: criação de comissão de acompanhamento ambiental; definir qual o património estratégico ambiental a proteger; considerar os gastos em Ambiente como um investimento e não um custo; da necessidade de tornar os espaços urbanos polifuncionais e resolver o problema da dispersão urbana; a necessidade de encontrar um marketing e imagem para o concelho; de criar plataformas para auscultar os intervenientes e envolvidos nos vários assuntos de decisão no município; entre muitos outros de uma longa e extensa lista de recomendações e ideias.
Ficou um bom exemplo de cidadania política ativa. Agora há que não esmorecer. Há que fazer esforços para que as ideias se concretizem. De futuro, o ideal será que nestas iniciativas partidárias possam participar ainda mais independentes e até convidados dos demais partidos. Não será fácil, pois a cultura política vigente ainda não está aberta para este tipo de entendimentos, mas temos todos de os tentar! O bem comum exige esse esforço!
Texto publicado no Jornal de Leiria em 22 de Março de 2012 e no Diário de Leiria em 28 de Março de 2012
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