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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Intervenção na Assembleia Municipal de Leiria: ideia de criar uma liga/associação de amigos dos monumentos e espaços culturais de Leiria

Apesar de se poder dizer que só se valoriza aquilo que se paga, os serviços públicos essenciais devem ser gratuitos, pois são uma forma de garantir justiça social e igualdade de acesso à dignidade cívica universal. Embora a cultura não seja identificada como um dos serviços básicos essenciais à vida, não sabemos viver sem ela, pois quase tudo o que resulta do conhecimento, história, interação social e criatividade humana é cultura. A Cultura está no nosso ADN enquanto espécie criativa, emotiva e criadora de história. Concordando-se ou não com as opções políticas tomadas, é inegável o esforço municipal dos últimos anos para tentar dinamizar o panorama cultural local de Leiria.

Todas as iniciativas que visem possibilitar o acesso à cultura são bem-vindas. Dias de entradas gratuitas são de salutar. Partindo desta tendência positiva podemos ir mais além e implementar algumas políticas formais que têm revelado sucesso noutras geografias e que os leirienses também têm ensaiado informalmente. Para dar sustentabilidade aos projetos culturais é essencial criar uma ligação às populações locais e alimentar públicos ávidos do consumo cultural. Não nos esqueçamos de que a cultura, ao contrário de outros consumos, é totalmente sustentável, pois os bens e serviços que produz não se esgotam, podendo ser replicados criativamente.

Gostaria de lançar aqui a ideia de se constituir uma associação ou liga de amigos dos monumentos e espaços culturais de Leiria. Esta nova organização cívica seria constituída por todas e todos aqueles que tenham uma paixão pelo património cultural de Leiria, estando devidamente organizados entre si e coordenados com o município. Ao fazer parte dessa organização os seus membros teriam acessos gratuitos permanentes aos vários espaços, participando e recebendo formação técnica, histórica e científica por parte dos serviços municipais, para que possam ser um apoio às atividades culturais locais. Estes cidadãos poderiam ser então os embaixadores do património de Leiria – slogan que tem vindo a surgir como fruto das políticas culturais locais de promoção e divulgação. Esses embaixadores poderiam facilmente aceder aos locais, tanto para as suas investigações e divulgações, como para convidar e acompanhar amigos em visitas mais intimas e personalizadas. Seriam agentes voluntários complementares aos serviços e funcionários dos espaços, criando sinergias entre sociedade civil, apaixonados pela cultura local e profissionais da área.

Não haveria quebra de receitas, uma vez que os membros da liga ou associação trariam novos visitantes consigo, que não estariam isentos do pagamento dos ingressos. Mais que as questões financeiras esta proposta possibilitaria uma eficaz ligação dos espaços culturais às comunidades locais, pois ficaria estabelecida uma rede que facilmente poderia ser ativada para outras iniciativas. Os participantes sentiriam cada vez mais os espaços como seus, uma vez que também se abria mais facilmente uma via de comunicação com o município, podendo ser propostas e desenvolvidas novas atividades. Os museus e espaços culturais têm uma importante missão social e só poderão funcionar corretamente se as comunidades locais os assumirem comos seus.

Numa altura em que Leiria tenta afirmar a sua candidatura a Capital Europeia da Cultura esta seria uma iniciativa, entre muitas outras, de reforço da rede social real de apoio às iniciativas culturais. Esta é uma ideia que deixo para poder ser discutida e desenvolvida. Sem um suporte forte popular local dificilmente Leiria poderá cumprir todo o seu potencial.

Intervenção realizada na sessão ordinária da Assembleia Municipal de Leiria, em 19 de fevereiro de 2018.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Dar sustentabilidade ao voluntariado

Fazer voluntariado pode trazer vantagens a quem o pratica e dele beneficia. Mas nem tudo deve ser transformado em voluntariado e nem todas as pessoas o podem fazer constantemente. O voluntariado permite realizar algumas atividades que não poderiam ser economicamente sustentáveis de outra maneira, não se devendo substituir atividades económicas geradoras de emprego. O emprego tem um valor social estruturante importantíssimo. Substituir emprego por voluntariado é uma subversão pouco sustentável a médio e longo prazo.

Ser voluntário é assumir uma função cujos os ganhos estão para além dos benefícios materiais e monetários. Sabemos que existem muitos outros valores que mobilizam as pessoas, especialmente nas sociedades pós-industriais, onde, felizmente, a grande maioria das necessidades básicas estão garantidas, permitindo o surgimento de novas prioridades.

No entanto, os voluntários tendem a atingir um nível de saturação nas atividades que realizam, uma vez que o fazem livremente e sem remuneração. Fazer voluntariado, mesmo que seja perante um período de tempo curto, é uma forma de criar uma rede social, de ganhar novas experiências, de aprender coisas novas e, para alguns, uma forma de ocupar o tempo com algo de útil. Mas muitas vezes o voluntariado é entendido como um frete, uma atividade pesada, quase um castigo expiador autoinfligido.

Vivendo na pós-modernidade, fazemos parte de movimentos de crescente fragmentação social, individualismo, relativismos de toda a ordem, frutos de uma crescente liberdade. Cada vez mais as pessoas procuram o que as tornam felizes e fazem sentir relevantes. Fazer fretes ou algo a contragosto não encaixa neste novo sistema valorativo, por vezes nem mesmo quando se é bem pago para isso. Isto leva a que as ações de voluntariado vistas como vantajosas, mais-valias, para quem as realize tendam a ser efémeras e reduzidas. O segredo para dar sustentabilidade ao voluntariado é torná-lo algo agradável e gratificante para quem o pratica, sem pressões e obrigações.

Assistimos a esse fenómeno de voluntariado nos Boardgamers de Leiria. É algo transversal que queremos incutir na associação Asteriscos e todos os seus projetos. Temos conseguido fazer várias atividades de puro voluntariado, apoio educativo e integração social com jogos de tabuleiro porque os nossos voluntários são apaixonados por esses jogos, porque gostam genuinamente deles e porque ninguém é obrigado a nada, num grupo onde reina a boa-disposição. Quando se descobre algo que conjuga uma paixão e o impacto social encontra-se a fórmula de dar mais sustentabilidade ao voluntariado e a oportunidade para desenvolver novos projetos e mais iniciativas, úteis para os voluntários e para a comunidade em geral. Se a isto juntarmos uma organização horizontal, que trabalhe de forma colaborativa, esse potencial cresce ainda mais. Só não nos podemos esquecer que este e outros voluntários nunca deverão substituir empregos e outras atividades formais.

Texto publicado no Diário de Leiria em 1 de fevereiro de 2018

quinta-feira, 31 de março de 2016

Um Quiz sobre "O Corvo Laranja"

Ainda se encontram coisas curiosas na Internet. Descobri recentemente que alguém criou um Quiz sobre o conto que escrevi intitulado de "O Corvo Laranja".
 
A internet tem destas coisas positivas, permite que se pegue no trabalho voluntário com propósitos sociais e se vá mais além.
 
Fica o Quiz para quem queira experimentar e conhecer melhor este Corvo diferente: O Corvo laranja, de Micael Sousa (PLIP - Projeto de Leitura Inclusiva Partilhada)
 
 

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Aprender com o exemplo de Aix-en-Provence

Fachada da Catedral de Aix-en-Provence
Aix-en-Provence é uma média cidade do Sul de França, como pouco mais de 140.000 habitantes, um magnífico sítio para visitar e melhor ainda para viver. A cidade está bem organizada e cuidada. O seu centro histórico está repleto de um comércio e restauração prósperos.
A existência de belo edificado de época e o salpicado de monumentos, museus, praças e outras existências de interesse fazem desta cidade um local a não perder na região da Provença. No C.H. de Aix-en-Provence pode-se andar a pé, somente os moradores podem utilizar veículo automóvel. Existem pequenos veículos de transporte público de apoio a quem deixa o seu veículo nos parques subterrâneos de apoio. Existem também outros veículos elétricos mais pequenos que passeiam turistas pelo centro. Mas é a pé que se aprecia a cidade, pois é muito agradável passear pelas ruas, com pavimento e mobiliário urbano adequados aos modos suaves (andar a pé e outros).
Veiculo elétrico turístico do CH de Aix-en-Provence

Em Aix não se deve perder uma visita à catedral gótica (Cathédrale Saint-Sauveur d'Aix). Nela existe um tipo de voluntariado pouco habitual, com uma Associação de Amigos da Catedral que faz visitas guiadas gratuitas ao espaço, especialmente aos claustros. Esses voluntários levam a sua missão muito a sério, nota-se que estudam e dominam a história e significado da arquitetura e arte do edifício. Talvez por isso, no final da visita, a sua caixa de oferendas encha, ajudando assim à conservação e manutenção do edifício. Aqui está um excelente exemplo, algo que poderíamos fazer e implementar também nos nossos monumentos.
Cláustro da Catedral de Aix-en-provence onde voluntarios guiavam os visitantes
Nota: Texto publicado no Jornal de Leiria em 26 de Julho de 2012

sábado, 31 de dezembro de 2011

Vai uma prendinha de cidadania para garantir a providência?

A austeridade está ai, mas para o ano será ainda maior. Como responder a isso, especialmente quando o Estado, por via do Governo, deixar de garantir algumas funções que poderiam amenizar ou suavizar esse choque? O atual Governo, devido à crise e pela ideologia em que assentam as suas políticas, tenderá a acabar com a construção de um Estado Providência. 

Como nestas épocas de instabilidade a providência será cada vez mais necessária, provavelmente terá de ser a própria sociedade a encontrar as soluções para as atuais e novas privações. Com a redução do papel de intervenção e garante do bem-estar às populações por parte dos Estados, para garantirmos alguma providência teremos, especialmente em Portugal, de reinventar a Sociedade Providência. Deveremos então voltar ao passado e trabalhar em comunidade, para a comunidade, de modo a garantir um certo nível de providência? No passado isso era possível, por exemplo na construção de habitações, onde toda a comunidade ajudava na construção das casas dos vizinhos. Hoje, regulamentos e leis, que fazem todo o sentido em nome da segurança, qualidade e da redução dos impactes ambientais, patrimoniais e afins, dificultam muita da ajuda do coletivo. Hoje será praticamente impossível fazer uma habitação sem recurso a crédito, pois os prazos de obra não permitem “ir construindo”. Mas, mesmo assim, ainda muito se pode contribuir para uma dita Sociedade Providência, existem muitas maneiras de garantir a imperativa providência e compensar a não resposta Estatal. Não defendo que o Estado e a Administração Local Autárquica devam ser diminuídos nas suas responsabilidades, mas como os financiamentos, por todas as razões e mais algumas, tenderão a ser reduzidos, temos de encontrar alternativas para responder as dificuldades que vão passar muitos portugueses.
Para falar de cidadania, e de a relacionar com a Sociedade Providência, nada como alguns casos práticos para a exemplificar. Um exemplo simples e tangível pode ser: se tivermos um “buraco” na nossa rua, se formos reclamar a quem de direito e não houver dinheiro para reparar, uma solução será, com autorização das entidades responsáveis, fazer uma intervenção em jeito de trabalho voluntário e coletivo entre todos os moradores. Com esta opção dá-se uma lição de cidadania e um exemplo que poderá aproximar os cidadãos dos problemas da gestão pública e contribuir para um maior envolvimento na própria comunidade; dá-se um exemplo de “ir para além das obrigações” em prol de todos. Lembro outro caso recente de demonstração cívica na causa ambiental que poupou fundos públicos e foi para além das obrigações cívicas dos envolvidos: a iniciativa limpar Portugal. Muitos mais exemplos existem, tais como as recolhas de alimentos e outros bens para posterior distribuição. Assim, se seguirmos estes e outros exemplos, quando as coisas melhorarem – temos de esperar e fazer para que melhorem pois insustentável é viver sem esperança – os cidadãos poderão contribuir ainda mais e melhor para uma sociedade mais responsável - esperando que o Estado o seja também -, com mais empatia e capacidade de entreajuda. Nada como fazer para depois poder exigir!
Em jeito de conclusão e alusão à quadra festiva que vivemos: darmos uns aos outros outra atitude cívica e uma cidadania mais ativa será a melhor prenda para este Natal e para um ano novo que se avizinha difícil!

Texto publicado no Diário de Leiria em 22 de Dezembro de 2011

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Voluntariados e entorses nas pré-festividades de 2011

A época que antecedeu o Natal de 2011 aqui por Leiria merece um registo aqui nas "Redundâncias", por muitas e variadas razões redundantes, mesmo que alguns dos casos até sejam de grande importância e marcos a recordar.
Primeiro, os cortes orçamentais a que o Natal de Leiria esteve sujeito, sem grandes investimentos públicos, devido à difícil situação financeira do Município, levaram a que a cor do nosso Natal local vivesse muito do voluntariado e uma atitude cívica de salutar e elogiar - o que até foi positivo! Este ano não houve a habitual "Aldeia do Pai Natal" no nosso Rossio à beira Lis. Mas em contrapartida criou-se uma "Oficina" - do mesmo proprieário fictício, o Pai Natal - no conhecido edifício do Banco de Portugal. Nesse local de nome ficcional, mas bem real, construiu-se e produziu-se uma exposição alusiva ao Natal e dedicada as mais novos. "Fábrica" construida à custa dos meios internos da Câmara Municipal e de vários voluntários que expuseram alguns bens e objetos de brincadeiras, que são verdadeiras coleções de afetos e afetividades. Tive a possibilidade em ajudar a que nessa fábrica houvesse uma "Linha de Montagem" de Lego, de contribuir para que alguns dos melhores construtores/colecionadores de Lego de Leiria pudessem expor as suas coleções e criações para delícia de visitantes de todas as idades. Obviamente não podia deixar de colocar lá umas quantas criações também, mas a falta de tempo crónica, por excesso de vontades de fazer e criar, têm-me desviado de novas construções. Ficou lá um barco e uma torre medieval inteiramente fruto da minha imaginação. Espero que de futuro se possam organizar mais exposições e alargar a quantidade e qualidade das criações Lego para mostra, este foi sem dúvida um bom princípio. Mas mesmo com pouco tempo, foi a perseverança do Alex e do António, e apoio da Orlanda, que permitiu que tudo se tivesse montado e  que o resultado final fosse bem simpático. Aliás, o resultado só pode ter sido bom, pois até foi dado bastante destaque ao evento, até pelo próprio semanário Região de Leiria que fez uma excelente reportagem acompanhada de vídeo e entrevista ao Alex - o principal autor da exposição Lego. Ficou o exemplo de cidadania e voluntariado destes construtores Lego de Leiria, o primeiro que queria dar e referir neste texto.
Vista panorâmica do tema cidade na exposição 2011 do Banco de Portugal
Outro caso é o o "Leiria Iluminada", como de uma necessidade se fará e concretizará uma ato de voluntariado que seguramente fará história na cidade e no seu centro histórico. Como não haviam verbas para grandes iluminações para o Natal de 2011, devido novamente à dificuldade financeira que passa a CML, alguns cidadão e utentes do centro histórico de Leiria tiverem a excelente ideia de eles próprios, recorrendo a copos e velas, iluminar a noite de 23 de Dezembro. O resultado só poderá ser bom! Seguramente que o efeito visual será muito particular, mas mais importante será a união  e mobilização dos leirienses - num ato de pura cidadania ativa -por uma causa e objetivo coletivo da sua própria cidade. Imagine-se o que mais poderá ser conseguido de futuro com o aproveitar destas sinergias!
Para mal dos meus pecados - que devem ser muitos, pois enquanto ateu devo até ser culpado dos mais simples - tive uma grande entrose ontem... Hoje estou de muletas e com o pé ao alto, inchado com quase o dobro do volume que normalmente tem. Ontem, no meu habitual dia a que me dedico à prática do mau futebol - aquele que sou capaz de praticar - fiz a proeza de marcar um golo de belo efeito - mesmo ao canto depois de uma finta - enquanto torcia o pé direito sobre o meu próprio peso. Por isso, essa mini fatalidade, não poderei sair nesta noite em que Leiria se ilumina especialmente. Só me resta imaginar como será e esperar por ver as fotografias!
Copos e velas depositados nos pontos de recolha para o "Ilumina Leiria"
Acho que vou recordar este pré-Natal de 2011. Só espero que as luzes desta nova Leiria não brilhem só hoje. De futuro gostaria de poder contemplar a sua cívica luz,  o seu exemplo de claridade a seguir!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Uma conversa sobre cidadania, política e redes sociais na Escola Dr. Correia Mateus

Dia 15 de Dezembro foi um dia de mais uma nova experiência, desta vez numa escola básica do 2º e 3º Ciclo. Já não é a primeira vez que participo numa conferência, debate ou tertúlia como orador, mas desta vez o público era muito mais jovem. Foi a primeira que vez que tive a oportunidade de falar e partilhar alguns supostos saberes e experiências com jovens estudantes, maioritariamente do 8ºano, com idades que devem andar compreendidas entre os 13 e os 15. Quando recebi o convite pela professora Fátima Fortunato fiquei  simultâneo preocupado e motivado. Fiquei um pouco desconfortável pois não era o meu ambiente normal, mas, por outro lado, fiquei cheio de vontade de participar pois seria uma nova experiência ainda mais interessante pelo tema a abordar e tratar.

O objetivo era falar e partilhar experiências sobre cidadania, participação cívica e política, a propósito do Projeto Parlamento Jovem e do tema deste ano: A descriminação nas redes sociais. Com este tema as possibilidades eram imensas, ainda que condicionadas pela necessidade de adaptar a linguagem ao público – um tipo de público com o qual estava longe de estar à-vontade.
O evento, intitulado de “Uma conversa sobre cidadania, política e redes sociais” começou com as boas vindas dadas pelo professor António Oliveira - o atual Diretor do Agrupamento de Escola Dr. Correia Mateus - tendo depois sido a professora Fátima Fortunato a fazer a minha apresentação.
Tendo sido apresentado comecei a “orar” – um termo curioso para um ateu. Comecei um pouco atrapalhado mas depois entrei no ambiente, que era bem agradável, pois deu-se na biblioteca da escola, com os alunos sentados numa espécie de hemiciclo construído com uma disposição propositada das cadeiras para o efeito. Comecei então por sugerir algumas dicas para participar num debate: ouvir enquanto alguém fala, tirando notas para depois, quando surgir a oportunidade do próprio intervir, ter o fundamento e registo para refutar, apoiar ou lançar novas ideias no debate. De seguida explorei o conceito e importância da cidadania: uma relação de direitos e deveres em que uns não existem uns sem os outros, e que uma sociedade com mais cidadania ativa é sempre uma melhor sociedade. Da cidadania passei à política, lembrando a ideia de Platão, de que “se não participarmos na vida política corremos o risco de ser governados pelos nossos inferiores”, servindo esta citação para reforçar que todos devemos estar disponíveis para fazer o nosso papel político como ato de cidadania, e quando nós próprios não nos sentimos preparados para desafios maiores devemos fazer de tudo o possível para escolher quem melhor nos representará politicamente. Nesta altura, o Sr. Diretor aproveitou para fazer uma referência que enquadrou estes princípios na realidade de turma dos estudantes do grau de ensino em causa. Referiu que nas eleições dos delegados de turma todos se devem disponibilizar, e que depois devem escolher conscientemente os melhores, não por relações amizade ou outras semelhantes, mas pelo mérito e capacidades de cada um. Terminada esta importante e relevante referência, salientei e tentei que os estudantes percebessem que: a partir do momento que vivem em sociedade, que conseguem comunicar, fazem, mesmo sem saber, política. Até usei o exemplo da origem da palavra Idiota para os fazer “acordar” – literalmente -, que significava na altura da democracia ateniense “homem privado”, ou seja aquele que não tinha interesse e vontade em participar na vida pública da sua sociedade.
A próxima etapa consistiu em falar da Democracia como forma de governo, referindo que apesar de, por vezes, falhar é a melhor forma de governo que conhecemos, e que é nosso dever enquanto cidadãos torna-la participativa de modo à sua melhoria contínua. Por fim cheguei ao tema das redes sociais, para dizer que são uma possibilidade imensa e revolucionária de comunicarmos, algo que nunca se viu no passado, mas que apesar disso existem perigos. Foram as redes sociais que permitiram fazer a “Primavera Árabe”, e razão pela qual em países não democráticos a sua utilização é restrita. No meu caso pessoal, referi como exemplo pessoal o “Movimento ANTI-Corrupção”, movimento informal que criei e que só pode acontecer e desenvolver-se devido às redes sociais; sem elas nunca teria conseguido passar a mensagem a dezenas de milhares de pessoas e ouvir os seus contributos para a construção do movimento, participado no Ignite Portugal, ter sido entrevistado e escrito textos de opinião para alguns meios de comunicação nacionais e locais (DN, Público, Região de Leiria), sido coautor de um livro (ver excerto aqui), e o blogue do movimento ter sido nomeado para o concurso internacional de blogues na Alemanha The BOBs – sendo o único representante português. Apesar de tudo isso – aspetos positivos das redes sociais e da WEB2.0 -, tinha de referir os aspetos negativos das redes sociais. Fi-lo aproveitando para sugerir algumas soluções: o modo como pode servir para maltratar a linguagem escrita, caso resolvido com a utilização de corretores ortográficos; a falta de privacidade, devidamente resolvida com consciência e correta utilização de filtros; o perigo do isolamento social, que se dissipa se as redes sociais servirem para organizar eventos e reuniões de amigos presencialmente. Aqui, pegando no exemplo dos SMS, dei o meu exemplo pessoal, de com ao utilização do dicionário de escrita automática me permitiu melhorar o modo como escrevia depois em papel. Assim, as redes sociais, apesar de perigos, quando bem utilizadas têm um potencial imenso. Por isso não há que ter medo da tecnologia. Para ilustrar isso relembrei o filósofo Sócrates, e do seu medo para com a escrita, temendo que ela tornasse as pessoas esquecidas. O resultado de não se ter ouvido os medos face à tecnologia que é a escrita, por parte do célebre filósofo ( e até escrever o que ele próprio dizia oralmente), permitiu acumular durante mais de 2000 anos muito do conhecimento humano atual – imagine-se o que seria que ninguém tivesse escrito o que acontecia e o que descobria. O medo das redes sociais pode ser, em parte, semelhante ao medo infundado de Sócrates. Com este exemplo, os estudantes ficaram a princípio espantados com este exemplo, tendo depois ficado a biblioteca em alvoroço – acho que com esta história acordaram! Estava assim concluída a primeira parte. De seguida vinha o debate.
Os alunos, a princípio, como é habitual nestas coisas, não demonstraram vontade de colocar dúvidas, questões ou intervirem. Mas claro, lá estávamos nós [eu e a professora Fátima] para “puxar” por eles. Perguntei-lhes se, depois desta sessão, achavam que a política era aquela coisa chata, aborrecida e que não tinham interesse? Responderam logo que não!, que o problema muitas vezes é dos próprios políticos e não da política. Perguntei-lhes também o que deveriam fazer, por exemplo, se tivessem um buraco na rua deles. Responderam que se iriam queixar. Completei-lhes a resposta, dizendo-lhes que deveriam ir à junta de freguesia, e para o caso de a junta não ter fundos para isso poderiam dar um exemplo de cidadania ativa: adquirirem, por todos os moradores, os materiais necessários e trabalharem em voluntariado conjunto para melhorar a sua rua. Ocorreu também outro caso curioso. Assim que algum dos jovens falava, caso tivesse alguma atrapalhação, logo todos os outros tentavam troçar e brincar com o sucedido. Este exemplo fez-me fazer mais uma pequena intervenção, onde referi que é preciso ter coragem para falar em público, partilhar o que sabemos e não sabemos, que só assim podemos aprender e melhorar, que ficar calado com receio das nossas ignorâncias de nada serve ou contribui; dei os parabéns e reforcei a coragem de todos e todas os que falaram.
Tentei rematar o debate com mais duas citações para que os jovens do hemiciclo improvisado pudessem refletir: “Todos o Homem é culpado pelo bem que não faz” – Voltaire; e, “se tiver 8 horas para cortar uma árvore, prefiro passar 6 delas a afiar o machado” – Abraham Lincoln.

Em jeito de resumo: cidadania e partilhar e receber. Nesse dia entre os jovens da Escola Dr. Correia Mateus senti que recebi muito!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Uma experiência no concurso "Região com Futuro" 2011

No passado dia 8 de Junho deu-se a entrega dos prémios "Região com futuro", iniciativa da ADLEI e do IPL, que tinham como objectivo distinguir os melhores trabalhos de alunos do 12º e 3ªano do ensino profissional do distrito de Leiria e Concelho de Ourém. A cerimónia decorreu no auditório dos Serviços Centrais do Instituto Politécnico de Leiria. Ao todo concorreram 37 projectos, muitas escolas, alunos e professores.
 Na edição deste ano, que por sinal até é a última que se fará deste concurso porque a disciplina de "área de projecto" vai ser, infelizmente, retirada dos programas escolares, tive a honra de fazer parte do júri que avaliou os trabalhos.
Confesso que fiquei surpreendido, pela positiva, com a qualidade, conteúdos e estruturas, dos trabalhos. Cheguei mesmo a aprender, cheguei mesmo a aprender coisas relacionadas com a minha própria formação académica - surpresa total, confesso. Foi um prazer ler os trabalhos! Mais difícil foi avalia-los e escolher um vencedor, não podiam vencer todos. Aliás, em parte todos venceram, pois terem participado foi já um prémio ganho para estes alunos. Através dos trabalhos que realizaram ganharam novas competências, novos conhecimentos e despertaram interesse por áreas que nem sempre constam dos planos curriculares formais, especialmente no que se relaciona com a solidariedade e cidadania activa. Apesar dos trabalhos estarem, regra geral muito bons, foi consensual a atribuição dos primeiros 3 lugares e restantes 3 menções honrosas.
 Tal como tive depois oportunidade de dizer durante a cerimónia, professores e alunos estavam de parabéns, pois deram verdadeiras lições de técnica, solidariedade e cidadania activa. Fiz questão de reforçar, por acredito efectivamente no que disse, que estes alunos tinham todas as condições para aceder ao ensino superior e que tinham provadas dadas de verdadeira e responsável cidadania, eram cidadãos feitos!

Parabéns a todos os envolvidos. Parabéns especialmente à Dra. Anabela Graça, presidente da ADLEI, pois sem a sua energia e dedicação isto não teria sido possível!

domingo, 5 de junho de 2011

Ao fim do dia, depois de uma dia de mesa de escrutínios

Estou cansado e exausto. Doem-me os pés e os olhos incham extravasando a sibilar sentido que se disfarça de dor de cabeça. Mas este cansaço físico, depois de ter dedicado um dos meus dias - que por sinal era domingo - a presidir a uma mesa de voto para estas legislativas, sabe bem. Trata-se de um sentir que deixa marcas no corpo e lembranças, ainda que custosas, de que a cidadania se cumpriu. Cumpriu-se tal como outros milhões de eleitores e como outros envolvido milhares que fizeram os escrutínios.  Fiquei, certamente, mais rico, mais cidadão! Fiquei também rico pela partilha e pelo comungar de um dias de cidadania entre pares, especialmente porque nem todos nos pintávamos das mesmas cores. A eles, o meu agradecimento, pois penso que se tudo correu pelo melhor, tecnicamente falando do acto em si, foi muito pela acção dos seus auxílios.
Podia perfeitamente ter escrito estas palavras amanhã, mas no dia que depois virá este cansaço já cessará e o sentimento ficará esquecido destas fraquezas do corpo. Como do corpo dependem também as emoções, é com elas vivas, pelo seu relacionamento com a carne dorida, que escrevo estas palavras sentidas.
Sentimento cumprindo e ego preenchido. Vaidades efémeras e absurdas, tendo em conta que aliviam apenas as agruras do cansaço de hoje. Mas que adornos para a mente serão precisos para ultrapassar os tempos que virão? Que utensílios e matérias serão aquelas a recorrer para fazer do dia-a-dia arte, a mais nobre das artes que é a Política? Caem os ídolos do topo dos altares, ficam as ideologias nem que seja na memória dos seus nichos primordiais.
Amanhã é mais um dia que é dado à luz pelo de hoje. Amanhã é um dia de poucas artes, é um dia de trabalho, mas se as artes se esfumam não é por isso, é apenas porque por momentos os ventos novos as tornam incertas e sem rumo. Amanhã é outro dia!

terça-feira, 12 de abril de 2011

É uma honra sair perdedor perante um vencedor desta importância no The BOBs

Foi com alguma surpresa que vi o blogue do Movimento Anti-Corrupção ser um dos nomeados pelo The BOBs para o seu concurso internacional de blogues na categoria de "Melhor campanha de Activismo Social". Algo mesmo muito curioso pois os Media nacionais nunca tinham dado, até à data, qualquer relevância ao movimento em causa. Felizmente as ideias e mensagens do Movimento Anti-Corrupção vão começando a chegar às pessoas, formalmente através de alguns Media (semanário Sol, portal do Sapo, Região de Leria, foram alguns dos que o fizeram até ao momento deste texto) e mais informalmente através das redes sociais, blogues, e afins.

Hoje, depois de ontem terem fechado as votações e sido conhecidos os vencedores pelos utilizadores (o blogue do movimento foi o 6 mais votado em 11 blogues a concurso), foi a vez do júri do concurso revelar a sua escolha. Obviamente não esperava a vitória, até porque os concorrentes eram de peso e tinham muito mais notoriedade e relevo que o pequeno e pouco conhecido "Movimento Anti-Corrupção". O justo vencedor foi o grupo de Facebook que contribuiu para fazer a revolução ruma à implantação da democracia no Egipto. O mínimo que posso dizer é que é uma honra ser um derrotado face a tal iniciativa!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Quando os informam, os Portugueses respondem com solidariedade e pro-actividade!

Tenho plena consciência que iniciativas como as do Banco Alimentar não resolvem o problema da fome nem erradicam a pobreza. Isso só será possível através de sólidas e fortes políticas sociais. Enquanto políticos e a própria sociedade civil não conseguem, separadamente ou em conjunto, erradicar, ou pelo menos fazer diminuir, a desigualdade e a pobreza, penso ser nosso dever ético “alimentar esta ideia” e deixar de parte as críticas ideológicas - esse potencial e vontade política é útil, mas tem de ser canalizando para encontrar verdadeiras soluções políticas para o problema e não para criticar quem, através do seu esforço, vai ajudando quem mais precisa a suprir as necessidades do dia-a-dia.
 Apesar de ser já repetente, há pelo menos 3 anos, nestas andanças do Banco Alimentar, por cada dia e turno de recolha há sempre algo que marca e que fica na memória. Nas 4 horas de um turno de recolha, somos levados a experimentar e reflectir sobre a nossa sociedade, pois observamos e interagimos com muitas e diferentes pessoas num curto espaço de tempo: assistimos a actos de solidariedade ímpares. No passado domingo, passei por mais uma dessas experiências sociais, senti-me tocado e muitas vezes atrapalhado por alguns contactos que ia tendo com as pessoas que interpelávamos ou que vinham até nós. Não porque nos tratarem mal, muito pelo contrário, mas pela extrema generosidade e simpatia que demonstravam, independentemente dos donativos que faziam – pois o mais importante é cada um contribuir com o que entende e pode. Mas neste Novembro presenciei um caso muito pouco comum, o de um casal que, com o seu donativo, nos deixou de tal maneira espantados e atrapalhados que nem soubemos agradecer e demonstrar a nossa admiração pelo seu acto. Esse mesmo casal deixou um carrinho de compras cheio com donativo, completamente a abarrotar. Gostaria de poder agradecer a estes anónimos benfeitores de Leiria em nome de todas as pessoas que, sem as conhecer e serem conhecidos, vão ajudar.
Apesar das minhas sensações e experiências não poderem ser vistas como estatísticas, neste ano diria que, para o mesmo local e para o mesmo horário, conseguiu-se recolher mais donativos. E, notamos também que muitos Leirienses se deslocavam à superfície comercial em causa propositadamente para contribuir para o Banco Alimentar.
Ou seja, em plena “crise” os portugueses, e mais concretamente os leirienses, mostram-se preocupados com o bem-estar dos seus concidadãos, demonstram solidariedade para com o próximo e provam que, quando estimulados, os portugueses são capazes de uma grande empatia e solidariedade social. No meu entender, isto deve-se muito à acção dos Media, da divulgação do agudizar da crise e das dificuldades que vai passando o país. Assim se demonstra o poder que os meios de comunicação podem ter e que, quando conscientes e informados, os portugueses marcam presença e respondem de um modo pró-activo.
 
Então, que tal aplicar este potencial de mobilização para outras causas?

(texto publicado no Diário de Leiria em 2 de Dezembro de 2010 e no Jornal de Leiria em 16 de Dezembro de 2010)

sábado, 27 de novembro de 2010

Mais um dia de recolha e contributo para o Banco Alimentar

Hoje, domingo dia 28 de Novembro de 2010, irei participar em mais uma campanha de recolha de bens alimentares para o Banco Alimentar Contra a Fome. Seguramente que este tipo de iniciativa não resolverá permanentemente o problema da falta de víveres a algumas famílias, muito menos a pobreza que se manifesta de várias formas em alguns lares. portugueses A erradicação desse tipo de necessidades que estão ligadas à pobreza só pode ser conseguida através de politicas sociais e da dita acção social, de medidas e alterações estruturantes na nossa sociedade - responsabilidade do poder político mas de toda a sociedade civil.
Por isso, como as necessidades não podem esperar por tais resoluções e porque todos comemos todos os dias - ou pelo menos deveríamos - vou contribuir para esta causa e apelar a todos para o fazerem também. Por isso, alimente esta ideia!
Hoje este saco está cheio de t-shirts, espero que amanha estas mesmas t-shists contribuam para que outros sacos se encham de bens para quem mais precisa

sábado, 2 de outubro de 2010

Iniciativa da REAPN e do RL - O que é para si a pobreza?

 Gostava de partilhar aqui o meu pequeno contributo, na forma de umas palavras, para uma das iniciativas  do Núcleo distrital da  Rede Europeia Anti-Pobreza (REAPN), mais concretamente a coluna que disponibilizaram no jornal Região de Leiria para que os cidadãos expressassem os conceitos e definições de pobreza. Aqui ficam as palavras que me ocorreram:

"A pobreza em primeira instância sente-se na pele, sente-se no corpo e, muitas vezes, no que falta ao estômago. Sem que essa pobreza cesse jamais podem ser minimizadas ou combatidas todas as outras formas comportamentais e intelectuais de ser pobre, pois quando a pobreza é extrema o corpo fala mais alto e remete para o campo dos luxos a preocupação com pobrezas de espírito."

(texto publicado em 1 de Outubro no Jornal Região de Leiria)

Deixo aqui também os links da REAPN para mais informações sobre as suas iniciativas e acções:
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