segunda-feira, 28 de maio de 2012

Aprender cultura política à força – A ação governativa


Há muito que as principais tendências pedagógicas desincentivam o ensino com recurso a métodos mais violentos, já para não dizer que os condenam em absoluto. A alternativa tem sido, de um modo simplista, o reforço positivo e afins. E, em muitos casos, ainda bem. Pelo menos isso poderá ser um modo de criar um novo tipo de consciência e empatia social. No entanto, tal como todas as teorias, há sempre que as possa contestar, ou então advogar que não são válidas para todas as realidades.
Em Portugal existe cada vez mais informação à disponibilidade dos cidadãos (contabilizando os Media tradicionais e agora a Internet), mas nem sempre existe a devida formação para lidar com ela. Esses défices de formação nem sempre se relacionam com formação académica. A lacuna prende-se mais com a cidadania e o próprio espirito cívico, na sua relação com os conhecimentos, mais ou menos técnicos e específicos, das várias áreas do saber de interesse comum. Somos recorrentemente alvejados por quantidades imensas de informação – agora muito especialmente por economia e gestão pública – que muitas das vezes se tornam incompreensíveis. Muitas vezes, sem nada mais que o senso comum, somos levados a compreender e ajuizar toda essa panóplia de informação pela parte, pelo aquilo que as nossas limitações nos permitem compreender no imediato. Afinal, que tipo de opinião pública estamos a criar? Opinamos bem? Se calhar não, se calhar poderíamos opinar melhor se tivéssemos a devida formação, abrangente e geral, para que pelo menos evitássemos a infecundidade de uma indignação vã. Sem a devida informação a confrontação dificilmente poderá dar lugar a uma cívica e ativa edificação.
Entre outros, o preconceito sobre questões ideológicas e tão ou mais evidente em Portugal como em qualquer parte do mundo, e relaciona-se com défices de cognitivos e de perceção. Para evitar alguns ajuizamentos usarei outros termos, por exemplo: “cultura de Esquerda” e “Cultura de Direita”, em vez da temida “Ideologia”. Pelo menos com o termo cultura ninguém se ofende e até permite que se possa aprofundar um pouco mais uma discussão política.
Apesar de recorrer a modelos pedagógicos ultrapassados, as nossas lideranças nacionais estão a contribuir ativamente para a nossa formação em cultura política, e a tornar clara a distinção entre “Culturas de Esquerda” e “Culturas de Direita”. Mesmo assim haverá sempre quem diga que não há distinção entre esquerda e direita - normalmente só alguém de Direita (mesmo que não se identifique como tal para si próprio e para os outros) afirma tal coisa. Realidade incontornável e inegável é o reforço da ação governativa segundo modelos proveniente da “Cultura de direita”, tão inegável que somos com isso confrontados na vida do dia-a-dia. Sabemos que o Estado está endividado, mas uma boa formação política, pedagógica e abrangente, deveria demonstrar-nos que existem outras alternativas, mais otimistas e humanistas, menos “pesadas”. Espero que a Direita ainda seja capaz de algum otimismo, nem que seja com outros atores, com uma abordagem mais estimulante das motivações individuais e coletivas, embora isso possa fazê-la afastar-se de algumas tendências da sua própria cultura política.

Texto publicado no Jornal de Leiria e Diário de Leiria

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Do IGNITE Portugal para o IGNITE Leiria – Uma oportunidade cívica informal

Quando soube que o evento IGNITE se fazia já por Lisboa não pude deixar de querer participar nessa oportunidade única. Mais do que simplesmente partilhar algo que me parecia ser inovador, do ponto de vista social, vi também a oportunidade de ser inspirado e alargar horizontes pelas partilhas dos demais participantes. O IGNITE era uma verdadeira oportunidade de fazer cidadania ativa, pois, ao contrário de muitas outras conferências, a informalidade do evento permitia a qualquer pessoa os seus 5 minutos de atenção, minutos esses que posteriormente passariam a estar disponíveis no Youtube, em forma de vídeo devidamente editado, para todo o mundo poder ver e conhecer. Motivado pela possibilidade da partilha, inspirado pela causa que me parecia civicamente importante, tentei esquecer medos e faltas de à-vontade em falar em público. Esses receios tinham de ser secundarizados, todas essas inseguranças eram insignificantes perante o potencial do evento.


Alguns dias depois de submeter a candidatura para um “talk” – que é como quem diz uma “intervenção” - no 10º IGNITE Portugal, evento de 2011, recebi a confirmação que tinha sido aceite. O nervosismo cresceu e a angústia com ele: a responsabilidade e exposição da situação em causa seriam grandes. Tentando não pensar muito nisso, lá fiz a minha apresentação de 20 slides para passarem automaticamente nos 5 minutos que dispunha, o tempo que todos os oradores teriam (nem mais nem menos). No dia em causa, sempre nervoso, lá fui rumo a Lisboa. No evento, a informalidade e ambiente otimista, divertido e descontraído, repleto de mentes abertas, permitiu facilmente conhecer muitas pessoas, os seus projetos e ideias. À medida que o tempo de fazer o “talk” se aproximava crescia também em mim a ansiedade. Lembro-me de, imediatamente antes de subir ao palco, as minhas mãos gelarem, que o diga a minha esposa. Apesar disso subi para as paletes, pois o palco era mesmo feito de paletes - um sinal de informalidade e irreverência. Fiz o meu ”talk”, transparecendo grande nervosismo. Lá tentei apresentar, na essência, as prerrogativas daquilo a que me propunha: a possibilidade de combater a corrupção através da consciencialização, informação, formação e educação. Com sucesso ou não, fiquei de consciência tranquila! O exercício da participação cívica, ainda que informalmente, é sempre gratificante! Todos deveriam experimentar!
Descido da palete, aliviado e de missão cumprida, senti que um IGNITE em Leiria fazia também todo o sentido. Mais pessoas por Leiria partilhavam da mesma ideia, ou ainda mais, e queriam concretizar o acender de consciências e o libertar novas ideias na cidade do Lis. Assim, duas associações que marcam a vida cívica e cultural de Leiria abraçaram e assumiram esse desafio: a Associação Fazer Avançar e a Célula & Membrana - Associação/a9)))). Então, com o primeiro IGNITE Leiria (o 23º Nacional), a realizar dia 19 de Maio de 2012 no mi|mo, haverá por Leiria, ao jeito de cada um e cada uma, a oportunidade de fazer intervenção e partilha cívica, quer seja falando de cima da palete quer em discurso direto nas conversas informais e animadas, sempre associadas a estes eventos!


terça-feira, 8 de maio de 2012

Parqueamento Pago – O conflito de Interesses Coletivos e Particulares


Num país que nunca se habituou a planear, nem sempre é fácil demonstrar a mais-valia de um ordenamento pensado. Quando esses planos chocam diretamente com alguns interesses particulares, que por vezes até parecem ser do interesse geral, e se a isso  juntarmos a noção coletiva de que as autoridades públicas oprimem mais que defendem, o caldo pode entornar! Pelo menos o caldo pode azedar e fazer inquinar a opinião pública, condicionando o relacionamento e compreensão entres poderes públicos e populações.
Em leiria, como em qualquer outro local onde se façam restrições a hábitos enraizados, mesmo que essas quase tradições tenham efeitos negativos ou perversos, a mudança não deve ser feita sem cuidados especiais. Nas sociedades democráticas as cidadãs e cidadãos devem ter direito à sua opinião, e ninguém tem de ser especialista em tudo. No entanto, há o dever ético/cívico de cada um tentar estar o mais informado possível. Essa procura deve partir dos próprios cidadãos e ser também uma demanda dos poderes públicos. É preciso informar e consciencializar, sem isso dificilmente teremos a harmonia e empatia social que precisamos para as construções coletivas.


Apesar do senso comum dizer que o estacionamento tarifado é injusto, a técnica e o saber específico podem dizer o contrário. Em meio urbano é imperativo ordenar e coordenar o parqueamento automóvel com os sistemas de transportes, garantido mobilidade e acesso. O espaço disponível para estacionar nos centros urbanos é um bem escasso, é algo que exige uma gestão racional. O custo dos solos urbanos centrais até agora tem-se refletido quase só no preço dos imóveis, mas será impossível que não passe a ser refletido também nos transportes, nomeadamente no parqueamento. Como todos sabemos, 10 m2 - o espaço que ocupa em média um automóvel – é algo caro, mesmo que seja para usar temporariamente. Não é por acaso que se vive cada vez mais nas periferias.
 A opção pelo pagamento serve para garantir o uso mais racional do parqueamento enquanto bem, evitando que seja monopolizado e utilizado em excesso por alguns. O próprio uso indevido do estacionamento pode condicionar todo o sistema de tráfego. Com veículos estacionados sem critério pode ser impossível circular nas ruas, e nessa luta são sempre os peões e os cidadãos de mobilidade mais condicionada que saem a perder. Existem outras opções para o controlo do estacionamento sem se recorrer ao pagamento, no entanto seriam economicamente insustentáveis. Para além disso o parqueamento pago, com critérios e rigor, pode ser uma oportunidade de criar novos sistemas de transportes, mais eficazes e eficientes, e menos pesados para o ambiente. Tal é possível quando, por exemplo, as receitas do parqueamento servem para financiar sistemas de transporte coletivo e o incentivo ao uso dos modos suaves - andar a pé e bicicleta -, em sistema intermodais de transportes articulados com parqueamento de periferia gratuito ou de preço integrado com o próprio transporte público.
Será então que, com a devida informação e funcionamento dos esperados sistemas eficientes – sejam eles quais forem -, com os devidos custos e benefícios, não poderão algumas opiniões mudar?

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Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





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