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segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Melhorar os Mercados de Natal em Leiria e mais além

Há pouco mais de 10 anos era raro existirem animações de natal como como as atuais. Iluminava-se a rua e pouco mais. Óbidos foi quem realmente inovou nesta matéria, através das suas estratégias de animação cultural e de entretenimento. Desde então praticamente quase todos tentaram replicar, copiar ou fazer algo semelhante. 

Mas a origem destas festas está mais a norte. Há muitos anos que os festivais de natal, com os típicos ícones invernais da cultura Anglo-saxónica, Escandinava e de Leste animam o Norte da Europa e da América. Mudam-se os tempos e surgem naturais processos de aculturação, intensificados pelas poderosas ferramentas que hoje todos utilizamos, mas ainda mais por quem precisa de fazer dessa promoção profissão. É ver também os mais velhos a invocar o Menino Jesus perante as invasões de Pais Natais. Esse menino que alguns beijavam o pé e assim arriscavam levar algo mais para casa do que apenas uma alma purificada.

Temos assistido à continua transformação das festividades de Natal em Leiria, cada vez mais próximas do que se vê no norte da Europa. Lembro-me de quando não havia nada, da crise e daquela iniciativa em que se iluminou a Rua Direita com velas em copos oferecidas pelos leirienses. Pena não se integrarem essas iniciativas e recuperar outras que se perderam, tal como a exposição de construções originais em peças de Lego, de grandes dimensões, que trazia milhares de pessoas ao Banco de Portugal. Mas admito que possa ser apenas o meu gosto pessoal a transparecer. Há que lembrar que estas iniciativas devem ser pensadas para todos, no conjunto ou pela articulação de múltiplas atividades complementares.  

Apesar da melhoria notória desconheço a sustentabilidade financeira desta aventura, tal como a ambiental que não deve menos importante. Uma pista de gelo pode ser altamente questionável do ponto de vista ambiental. Mas o certo é que são proporcionadas várias atividades gratuitas, acessíveis a todas as crianças, independentemente do poder de comprar das suas famílias. Há também atividades para adultos, variedade e qualidade crescente nos comes e bebes disponíveis. De salientar também a oportunidade dada às associações culturais e de solidariedade social em participar, e assim reunir apoios para as suas atividades. 

Voltando ao que se presencia nos tais mercados mais a norte, aqueles que influenciam o que por cá fazemos, ainda falta trazer a conjugação do mercado regular com o mercado de Natal. A minha sugestão é que isso seja incluído num próximo passo, em que possamos comprar também produtos locais e diferenciados por quem os produz. Seria uma forma de complementar o comercio tradicional do centro da cidade. Com esta adição ainda mais pessoas seriam atraídas. Seria uma forma de garantir mais sustentabilidade ambiental, uma vez que consumir o que se produz localmente, com produtos da época, é um caminho inevitável para reduzir impactes ambientais. Fica a sugestão. 

Nota: texto publicado no Diário de Leiria

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Para quando uma ludoteca pública de jogos na nossa biblioteca municipal?

Os livros continuam a ser caros face ao poder de compra dos portugueses. Uma das opções para conseguir poupar e manter hábitos de leitura consiste em recorrer às bibliotecas públicas. As bibliotecas podem não ter exatamente tudo o que procuramos, mas se tiverem o mínimo de qualidade e investimento, podem ter bastante, algo muito próximo do que desejamos. No entanto, esses espaços públicos não são meros depósitos de livros. Neles devem haver espaços de apoio ao leitor, recursos humanos que incentivem e apoiem os leitores, mas também outras valências. As bibliotecas têm-se transformado em espaços de cultura acessível. Muitas têm espaços para as crianças brincarem, espaços de lazer, cafetarias, salas de exposições, possibilidade de ver filmes, ouvir musica, entre outras coisas. A biblioteca Afonso Lopes Vieira, a nossa biblioteca pública em Leiria, não é exceção.

Mais para o centro e norte da europa existe algo que tem tornado as bibliotecas ainda mais animadas e frequentadas. Algumas têm ludotecas em que se pode utilizar e requisitar gratuitamente jogos de tabuleiro, podendo aceder aos títulos mais recentes, àqueles que chamamos “jogos de tabuleiro modernos”, fruto de uma industria criativa, sustentável e inovadora. Estes jogos não são baratos, custando várias vezes o preço de um livro. Não aconselho ninguém a comprar sem experimentar primeiro e perceber um pouco da variedade que existe. Nessas bibliotecas as pessoas podem experimentar e partilhar os jogos, reutilizando, o que evita consumos desnecessários. Nelas podem experimentar e testar, com colaboradores informados para auxiliar, tal como fazem com os livros.

Um serviço desta natureza numa biblioteca em Leiria seria valiosíssimo. Estes jogos são formas de cultura, pois geram dinâmicas importantes entre os jogadores, disseminando conhecimento, incentivando a comunicação e sociabilização. São enquadrados em temas e contextos, servindo para comunicar através do ato fascinante de jogar, o que se torna divertido e diferenciador, sem muitas alternativas que possam competir com isso. Estes jogos são um incentivo aos novos criadores das mecânicas conceptuais, investigadores que têm de estudar os temas associados aos jogos de modo a criarem uma abstração coerente, mas também para designers gráficos e de modelação. Um exemplo é o jogo “Lisboa” de Vital Lacerda. Nesse jogo os jogadores competem para contribuir para a reconstrução da capital portuguesa depois do terramoto de 1755. Para isso têm de perceber como funciona o comércio na época, o papel da igreja. Saber quais os poderes dos líderes do estado absoluto. Decidir onde construir os edifícios públicos no novo desenho urbano da cidade, que tipo de lojas incentivar a abrir e que bens produzir. Este é apenas um exemplo. Há muitos outros. 

Ter em Leiria uma biblioteca com estas valências teria um potencial único, especialmente porque estes jogos também poderiam ser utilizados pelas escolas como ferramentas de apoio educativo. Esta ideia não é difícil de implementar, basta querer.

Texto publicado no Diário de Leiria

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Mais um exemplo de projeto culturalmente sustentável em Leiria

A cultura tem de ser sustentável. Por isso se tenta reduzir o rácio de dinheiro investido por participante. Por outro lado, eventos de massas trazem outros benefícios, sendo facilmente associados a fatores multiplicativos. Com muitas pessoas num evento cultural é mais provável que aumentem os consumos diretos e indiretos na economia local. Também se percebe o porquê das réplicas dos eventos culturais para grandes públicos, muitas vezes indiferenciados e descontextualizados. Sabe-se que, segundo aquele modelo, há garantidamente muito público instantaneamente e um modo de poder dizer que foi um sucesso cultural. Mas será sustentável culturalmente?

Quando se fazem múltiplos eventos de massas a partir do nada, e sem um plano de continuidade ou projetos de suporte que aprofundem a dimensão cultural, a sustentabilidade pode ser difícil de garantir. Tão facilmente se mobilizam multidões como de seguida fica o deserto. Se todos fizermos o mesmo, de forma indiferenciada, e se não dermos o devido tempo de maturação para que se criem públicos ávidos de mais e melhor, o esforço pode produzir apenas a sucessos efémeros. A novidade, apesar de ser mais do mesmo, pode acontecer ali ao lado, como subitamente dali pode passar a ocorrer noutro local, feito exatamente pelas mesmas pessoas e nos mesmos moldes.

Existe um projeto que ajudei a fundar e que tem lutado por se implementar de forma sustentável em Leiria. Os Boardgamers de Leiria são hoje um projeto da Associação Asteriscos. Já passaram por várias fases de maturação e estiveram a funcionar noutros locais, instalações, associações e parcerias. O projeto pode ser replicado noutros territórios, tanto que existem grupos semelhantes de apaixonados por jogos de tabuleiro modernos que produzem atividades educativas e culturais noutras geografias, pois estes jogos são formas de inovação e de cultura passíveis de serem utilizados por todos. No entanto dificilmente se poderiam recriar exatamente os Boardgamers de Leiria, pois têm identidade própria, são fruto de anos de persistência e da criação de um público próprio, que cresce de forma sustentável ao seu próprio ritmo. Não nos pareceu sustentável começar por fazer um grande encontro de massas para um publico indiferenciado que dificilmente poderia assimilar toda esta nova vaga cultural de jogos. Em alternativa fazemos encontros todas as semanas. Já vamos quase em 200. Fazemos também encontros mensais para públicos familiares. Visitamos escolas e outras instituições, apostando na formação e divulgação baseada na experimentação na primeira pessoa.

Este caso dos Boardgamers de Leiria serve aqui apenas de exemplo, de um projeto cultural que tenta criar o seu próprio público, consolidando as atividades, para ser sustentável, sem se desvirtuar. Tenta-se aprofundar cada vez mais a variedade de conteúdos, das metodologias, das relações humanas e das aplicações com jogos. Todas as sextas-feiras, a partir das 21h30, podem aparecer gratuitamente para experimentar estes jogos na escola primária dos capuchos. Vão ficar surpreendidos.

Texto publicado no Diário de Leiria

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Um prémio literário para incentivar as indústrias criativas

Na última assembleia municipal de Leiria propus a implementação de um concurso literário. Escrevo com regularidade textos criativos e sempre achei estranho que em Leiria escasseassem concursos e prémios que incentivassem esse tipo de produções. O facto de haver um objetivo, um mote, algo que incentiva o desenvolvimento de competências e capacidades, ou pelo menos tentar ensaiar alguma originalidade nas produções, tem efeitos positivos na criação. Curiosamente, há umas semanas, realizou-se em Leiria uma reunião de vários escritores de Leiria, onde se referiu a ausência e escassez de prémios e concursos. Apercebi-me que afinal não era apenas uma opinião pessoal. Como eleito para a assembleia municipal pareceu-me adequado levar esta ideia a quem decide e constrói as políticas culturais municipais, mas também para perceber se havia concordância da parte dos restantes eleitos.

No entanto há que ressalvar algumas coisas. Instituir um prémio pecuniário ou ajudar à edição de um livro, como evento isolado, fica aquém do que realmente se pode fazer. Se Leiria quer uma comunidade onde a cultura seja mais do que um conceito decorativo, é preciso ir um pouco mais longe. O prémio literário necessita de ter um enquadramento mais abrangente, ser capaz de promover a produção literária regular e criar públicos transversais. Isto não se faz de uma assentada e com um evento mediatizado. Faz-se com regularidade e com uma continuidade de iniciativas coletivas que só vingam se forem assumidas pelos leirienses. Na prática isso passa por implementar regularmente oficinas de escrita criativa para todas as idades, sessões de leitura, onde as artes dramáticas e jogos possam ser incluídos, sem esquecer as novas tecnologias. Há que envolver a rede de bibliotecas locais e regionais nessa missão, homenagear autores de renome associados a Leiria. São imensas as possibilidades, basta querer seguir por essa via. É uma questão de políticas de cultura e para a cultura.
A produção literária é uma indústria criativa. Gera emprego e receitas, mas, tal como as indústrias, devem ser instaladas em infraestruturas adequadas, incorporar tecnologia e mão-de-obra qualificada. Nas indústrias criativas passa-se o mesmo. São atividades geradoras de emprego e de receitas, mas necessitam de condições para existir. Precisam de condições físicas e de uma conjuntura social favorável, mas, ao contrário das outras indústrias, as indústrias criativas são muito pouco intensivas no consumo de recursos naturais e altamente intensivas na utilização de mão-de-obra. Os produtos que produzem não se depreciam ao serem consumidos e entram facilmente numa economia circular. Quanto mais pessoas consumirem os produtos culturais mais sustentáveis se tornam. Isto é muito fácil de explicar na produção de uma música, mas também numa obra de arte que pode ser contemplada sem se consumir fisicamente. Até um livro pode ser lido por muitas pessoas. Consumir cultura é consumir algo que requer poucos recursos naturais, logo é ambientalmente sustentável.

Texto publicado no Diário de Leiria

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Sustentabilidade urbana: Aprender com o exemplo do mercado de La Varenne

Sempre que vou a Paris visitar familiares há um mercado que visito religiosamente. Costumo ir várias vezes por ano ao mercado de La Varenne, que fica em de Saint-Maur-des-Fossés, parte da área metropolitana de Paris e cidade geminada com Leiria, mais ou menos com a mesma população urbana que Leiria.

A estrutura do mercado é muito simples, pouco mais do que uma estrutura metálica e de vidro que protege da chuva. Mas nem por isso menos digno e atrativo, apesar do clima ser muito mais agreste no inverno que pela nossa terra. O mercado enche, especialmente ao domingo de manhã, com pessoas de toda a envolvente urbana. 

Ao darmos uma volta pelo mercado ficamos a perceber porquê. As bancas são muito apelativas. Mesmo os produtos mais simples, os hortofrutícolas por exemplo, têm ótimo aspeto e estão dispostos e ordenados de modo cativante. Dá vontade de comprar tudo. Por outro lado, existe uma oferta grande de produtos diferenciados, especialmente de comida pronta, quer de petiscos originais quer de refeições completas típicas. Não faltam também as carnes, peixes e mariscos. Há bancas de queijos e enchidos com uma grande variedade. As flores também marcam presença, adornando e sugerindo ofertas que reforçam laços afetivos. Existem bancas com produtos típicos de vários países e até de produtos biológicos. 

Mas não pensem que isto é um mercado gourmet, feito para elites ou pessoas endinheiradas. O mercado tem produtos para todos os preços e existe para servir a população local. Não é o único mercado da cidade. Existem outros, cada um pensado para cada zona urbana. 

Existem várias razões para o sucesso destes mercados em toda a zona urbana de Paris. Os produtos são de qualidade, diferenciados e beneficiam do envolvimento de profissionais jovens e abertos à inovação. A qualidade do mercado não tem relação direta com o edifício, mas com os produtos, a localização urbana e proximidade aos consumidores. Ir ao mercado é um ato social e de passeio, pois a esmagadora maioria das pessoas deslocam-se a pé. Isto só é possível porque resulta de um processo de planeamento urbano, em que cada zona da cidade tem o seu próprio mercado de proximidade, com negócios direcionados para as necessidades locais. A proximidade incentiva, tal como a qualidade da envolvente, dos jardins, das infraestruturas públicas e das lojas de rua que também beneficiam com os movimentos de pessoas que andam pelas ruas. O efeito do transporte público é evidente, pois há sempre autocarros a passar e o metro fica bem perto. E a concorrência com os supermercados e hipermercados não condiciona o mercado, pois existem alguns mesmo ao lado, abertos à mesma hora. São complementos porque os produtos e a experiência que oferecem não são os mesmos.  

Este é um exemplo de sustentabilidade urbana, porque este mercado reforça a produção local, incentiva o surgimento de novos produtos, reforça os laços sociais da comunidade, não querer infraestruturas dispendiosas para funcionar enquanto evita o uso dos automóveis e sugere hábitos saudáveis.

Texto publicado no Diário de Leiria

Alguns exemplos de Jogos de Tabuleiro sustentáveis para este Natal

No meu último texto comprometi-me a recomendar alguns jogos de tabuleiro modernos como possíveis prendas de natal, por serem sustentáveis. Mas queria salientar que existem muitas outras opções sustentáveis, especialmente quando optamos por ofertas não materiais. 

Apesar de tudo, os jogos de tabuleiro têm sempre algum impacte ambiental. No entanto, é muito menor que outras opções. Não gastam energia na utilização, têm baixos níveis de obsolescências, altos níveis de durabilidade e podem ser facilmente vendidos e trocados, evitando gerar resíduos depois de, eventualmente, lhes termos esgotado a jogabilidade.  Relembro também as restantes dimensões que os tornam produtos do desenvolvimento sustentável, nomeadamente a dimensão social que têm e a associação a uma nova industria criativa, tal como a promoção cultural da literacia através dos designs de qualidade. Mas o objetivo deste segundo texto passa por recomendar diretamente alguns jogos que podem ser oferecidos ou jogados neste natal, incutindo indiretamente mais sustentabilidade, e convívios mais animados nesta quadra.

Poderia recomendar centenas de jogos, mas vou referir apenas alguns exemplos, dos que são mais baratos e acessíveis, de várias editoras e que podem ser adquiridos com facilidade em Portugal e na região de Leiria. Mas se os quiserem experimentar primeiro podem sempre passar pelos encontros gratuitos dos Boardgamers de Leiria.

Dobble. Jogo em que cada carta tem um objeto em comum com todas demais cartas. O jogador que conseguir descobrir primeiro o seu objeto comum avança no jogo. Este jogo pode ser jogado por crianças a partir dos 3 anos, tal como adultos, mudando a velocidade. 

Catan. Jogo de gestão de recursos, planeamento estratégico e espacial. Os jogadores devem dominar a estatística das localizações para produção de recursos, tal como a arte da negociação, que lhes permite expandir os seus domínios sobre o território. Pode ser jogado por crianças a partir dos 8 anos, e é muito popular entre adultos. 

Dixit. Jogo de narração criativa. Os jogadores recorrem a cartas ricamente ilustradas de forma surrealista para contarem pequenas histórias. Estimula-se a comunicação de forma estratégica e criativa. Indicado para toda a família, podendo ser jogado por 12 pessoas ao mesmo tempo.

Passa o desenho. O jogo do telefone avariado, em que cadernos vão rodando pelos jogadores, criando sequencias hilariantes de palavras e desenhos. É comum chorar a rir no final de uma rodada. 

Mistacos. Jogo de empilhar cadeiras, em que se treina a destreza e um certo nível de estratégia estrutural. 

Skull
. Jogo de bluff com muita tensão, que pode ser jogado rapidamente até 6 pessoas, dada a sua simplicidade. Os jogadores jogam ocultamente peças ou tentam adivinhar por leilão as peças dos adversários, tentando evitar as caveiras.

Soldado Milhões. Jogo de cartas em que cada jogador deve gerir os seus recursos, tentando ganhar cartas de pontos em cada rodada por leilão. Todos começam com os mesmos recursos para os leilões.

Ofereçam produtos sustentáveis no Natal: jogos de tabuleiro modernos

O Natal está a chegar e importa falar de sustentabilidade. Longe de mim querer ser moralista e dizer que esta época é o cúmulo dos vícios consumistas e da hipocrisia. Até pode ser, mas também é muito mais que isso. Acho mesmo que é pena ser somente uma vez por ano, mas antes uma vez que nenhuma. No pior dos caos, pelo menos nesta época somos incentivados a pensar nos outros.

Por isso, quase todos vão tentar escolher os melhores presentes para oferecer, fazendo esticar o orçamento. Proponho acrescentar também, às limitações orçamentais, a preocupação para com a sustentabilidade. Ou seja, será que aquilo que vamos oferecer é sustentável em todas as vertentes do termo: ambientalmente, socialmente, culturalmente e economicamente? 

Proponho que considerem os novos jogos de tabuleiro por serem ambientalmente mais sustentáveis, pois são construídos em materiais facilmente recicláveis e têm baixa taxa de obsolescência. Se o jogo for bom vai dar anos de diversão, podendo ser vendido depois caso não vos interesse mais. Isso será possível porque os materiais tendem a durar e o design do jogo não se desatualiza se for bom. Esse jogo, por essa razão, só se transformará em resíduo depois de muita utilização. Estamos perante uma vertente da economia circular, em que os produtos são constantemente utilizados, na mesma ou em novas formas, evitando-se a produção de um resíduo sem o máximo aproveitamento. Para quem tenha mais curiosidade, estes conceitos estão a ser abordados em Leiria no projeto Urbanwins. Por outro lado, estes jogos não consomem energia para serem jogados, logo baixam consideravelmente a sua pegada ecológica, tal como dispensam qualquer outro tipo de periférico eletrónico. Uma mesa, cadeiras, ou até o chão servem para os jogar. 

Os jogos de tabuleiro são potenciadores do convívio social presencial, promovendo e reforçando os laços sociais, com toda a riqueza da comunicação multidimensional. Se uma imagem vale mais que mil palavras, um olhar transmite mensagens únicas. As emoções sentem-se mais ao vivo e com estes jogos podemos sentar famílias inteiras à mesa, promovendo a aproximação intergeracional. 

Do ponto de vista económico os jogos de tabuleiro são muito relevantes, pois podemos comprar produtos nacionais, e por vezes até locais. Podemos apoiar as editoras e criadores, que geram emprego e uma produtividade concreta, real e exportável. Apoiamos uma industria criativa e abrimos novos caminhos para mais desenvolvimento, pois os jogadores de hoje podem ser os criadores de amanhã. Por ouro lado, o mesmo produto pode ser usado por varias pessoas, podendo ser uma prenda coletiva mais barata.

Até agora falei muito no abstrato. Não recomendei um único jogo. Deixo aos leitores a liberdade de refletirem sobre isso. Se forem procurar por estes novos jogos vão encontrar uma imensidão de novas criações. Não vos quero retirar esse prazer. Mas também não vos quero deixar órfãos destas ideias e sugestões. Por isso, num próximo texto, irei fazer recomendações concretas resumidas. Até daqui a 15 dias!

Texto publicado no Diário de Leiria

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Intervenção na Assembleia Municipal de Leiria: criação de Prémio Literário em Leiria

Nesta semana que agora termina celebrou-se o dia mundial do Livro. Os livros, em todos os seus formatos, são produto das indústrias criativas, geradores de cultura, saber e conhecimento. Geram um valor para além dos valores materiais. são sustentáveis porque os seus conteúdos não se depreciam quando lidos, podendo até incentivar novas criações. São bens que entram facilmente na economia circular, por poderem ser continuamente utilizados em cadeias de leitores. Mesmo quando transformados em resíduos são de fácil tratamento, podendo os seus materiais ser convertidos em novos livros. Os livros, mesmo que sejam digitais ou memorizados, geram cultura e são eles próprios uma forma de produção inesgotável, que pode diferenciar os locais onde são produzidos e consumidos, capacitando as pessoas.

Leiria tem uma história de autores, mas tem também um presente. Leiria não se deve fechar ao mundo e dispensar atrair as novas criações. Existem festivais, certames, prémios e concursos literários um pouco por todo o país. Mas Leiria não tem um que dignifique a sua vida cultural à escala que merece. Está na altura de recuperar esse tipo de incentivos, mas indo mais além do que a mera atribuição de um prémio pecuniário ou apoiar a edição de uma obra vencedora. Faz falta em Leiria uma iniciativa regular, incentivadora da produção literária e capaz de gerar e alimentar públicos.

Assim, deixo a sugestão para que se possa incluir nas atividades culturais e educativas do município a instituição de um prémio literário de ficção, que pode ter uma ou várias modalidades, romance, prosa, contos. Sugiro que se aproveite para enaltecer autores locais de relevância nacional, por exemplo Afonso Lopes Vieira, que poderia dar nome ao prémio literário, servindo para unir esforços culturais, educativos e de promoção da própria biblioteca municipal. Ao evento, a acontecer com regularidade anual ou bienal, poderiam ser incluídas sessões públicas de leitura, de interpretação literária, de teatro, de oficinas de escrita criativa e demais atividades abertas à sociedade civil, fomentando a sua participação dos leirienses nas atividades para que as sintam como suas. Nada impede que se possa juntar música e outras artes performativas, jogos e outras abordagens criadoras de públicos que diferenciassem o evento e os conteúdos nele abordados. As escolas teriam um papel importante, com adaptações dos currículos de forma a incluir as dinâmicas e conteúdos associados à iniciativa.

Estamos a falar de cultura e de educação, mas também de turismo e economia. A produção literária é uma indústria criativa geradora de riqueza e emprego. Não nos podemos esquecer disso. Ainda por cima é sustentável, evitando impactes ambientais. Gera diferenciação e promove os territórios por aquilo que os carateriza sem artificialismos. Fica a sugestão.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Intervenção na Assembleia Municipal de Leiria: ideia de criar uma liga/associação de amigos dos monumentos e espaços culturais de Leiria

Apesar de se poder dizer que só se valoriza aquilo que se paga, os serviços públicos essenciais devem ser gratuitos, pois são uma forma de garantir justiça social e igualdade de acesso à dignidade cívica universal. Embora a cultura não seja identificada como um dos serviços básicos essenciais à vida, não sabemos viver sem ela, pois quase tudo o que resulta do conhecimento, história, interação social e criatividade humana é cultura. A Cultura está no nosso ADN enquanto espécie criativa, emotiva e criadora de história. Concordando-se ou não com as opções políticas tomadas, é inegável o esforço municipal dos últimos anos para tentar dinamizar o panorama cultural local de Leiria.

Todas as iniciativas que visem possibilitar o acesso à cultura são bem-vindas. Dias de entradas gratuitas são de salutar. Partindo desta tendência positiva podemos ir mais além e implementar algumas políticas formais que têm revelado sucesso noutras geografias e que os leirienses também têm ensaiado informalmente. Para dar sustentabilidade aos projetos culturais é essencial criar uma ligação às populações locais e alimentar públicos ávidos do consumo cultural. Não nos esqueçamos de que a cultura, ao contrário de outros consumos, é totalmente sustentável, pois os bens e serviços que produz não se esgotam, podendo ser replicados criativamente.

Gostaria de lançar aqui a ideia de se constituir uma associação ou liga de amigos dos monumentos e espaços culturais de Leiria. Esta nova organização cívica seria constituída por todas e todos aqueles que tenham uma paixão pelo património cultural de Leiria, estando devidamente organizados entre si e coordenados com o município. Ao fazer parte dessa organização os seus membros teriam acessos gratuitos permanentes aos vários espaços, participando e recebendo formação técnica, histórica e científica por parte dos serviços municipais, para que possam ser um apoio às atividades culturais locais. Estes cidadãos poderiam ser então os embaixadores do património de Leiria – slogan que tem vindo a surgir como fruto das políticas culturais locais de promoção e divulgação. Esses embaixadores poderiam facilmente aceder aos locais, tanto para as suas investigações e divulgações, como para convidar e acompanhar amigos em visitas mais intimas e personalizadas. Seriam agentes voluntários complementares aos serviços e funcionários dos espaços, criando sinergias entre sociedade civil, apaixonados pela cultura local e profissionais da área.

Não haveria quebra de receitas, uma vez que os membros da liga ou associação trariam novos visitantes consigo, que não estariam isentos do pagamento dos ingressos. Mais que as questões financeiras esta proposta possibilitaria uma eficaz ligação dos espaços culturais às comunidades locais, pois ficaria estabelecida uma rede que facilmente poderia ser ativada para outras iniciativas. Os participantes sentiriam cada vez mais os espaços como seus, uma vez que também se abria mais facilmente uma via de comunicação com o município, podendo ser propostas e desenvolvidas novas atividades. Os museus e espaços culturais têm uma importante missão social e só poderão funcionar corretamente se as comunidades locais os assumirem comos seus.

Numa altura em que Leiria tenta afirmar a sua candidatura a Capital Europeia da Cultura esta seria uma iniciativa, entre muitas outras, de reforço da rede social real de apoio às iniciativas culturais. Esta é uma ideia que deixo para poder ser discutida e desenvolvida. Sem um suporte forte popular local dificilmente Leiria poderá cumprir todo o seu potencial.

Intervenção realizada na sessão ordinária da Assembleia Municipal de Leiria, em 19 de fevereiro de 2018.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Livros de bolso em Paris

Volto de novo a falar de Paris, cidade que, quanto mais conheço, mais inesgotável me parece ser nas suas várias vertentes. Desta vez falo, indirectamente, do metro, também ele imenso e composto de estações surpreendentes. Mas não é obviamente a dimensão e a própria estrutura e funcionamento do metro que pretendo identificar como algo que se pudesse aplicar à nossa terra. O que me parece relevante a aprender com o modo como os parisienses usam o seu metro passa pela gestão pessoal dos “tempos mortos”.
É muito comum, quando viajamos nas composições ou enquanto esperamos pelo comboio, assistirmos ao sacar de livros de bolso por parte dos passageiros. Parece que a grande maioria das pessoas leva, num dos seus bolsos, um livro, independentemente do crescente uso dos smartphones, com acesso contínuo à internet e quem sabe a e-books.
Tentei perceber então porque era tão comum aquele fenómeno. Curiosamente até parecem ser mais os leitores de livros que de jornais. Curioso, especialmente porque se compra e lê um jornal com mais leveza e facilidade – no bom sentido dos termos, é claro. Já um livro exige, no mínimo, uma pequena vontade planeada de iniciar e continuar uma determinada leitura.
Então descobri que existem praticamente versões de todos os livros em formato bolso, e a preços muito interessantes - cerca de metade ou menos do valor do livro em formato padrão. Assim, não é só a vontade natural e o gosto de querer ler dos parisienses, mas também a própria indústria editorial e cultural que está preparada e direccionada para oferecer livros aos consumidores, que lhes permite aproveitar os “momentos mortos”, lendo em qualquer local.
Por cá, sempre que estivéssemos numa sala de espera ou num transporte público, se tivéssemos os mesmos hábitos e opções, talvez fosse mais fácil suportar os tempos de espera, aproveitando para nos enriquecermos com o que é mais valioso – a cultura.
 
Nota: Texto criado para a rúbrica "Viagens (fora) da minha terra", do Jornal de Leiria

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Ó Ronaldo, ajuda-nos a fazer um museu para os Mirós...

No país sem ministro da cultura vale tudo culturalmente. Esperaríamos que, mesmo não sendo ministro, existisse um secretário para defender a cultura e património de Portugal, independentemente de ser recente ao não. Um homem (ou mulher) da cultura tem, supostamente, visão do potencial que a cultura tem como motor de desenvolvimento. Seria suposto ter ainda mais visão por ser o único membro do governo a quem se permite usar óculos arrojados, daqueles especialmente calibrados para a visão cultural e envergados só por verdadeiros intelectuais – não resisti à brincadeira. Então aqueles “óculos” não deveriam ajudar o senhor secretário a ver todo o potencial gerador de riqueza e dinheiro através da cultura? Será que nunca informou o primeiro-ministro disso? Bem, se calhar fez, mas, como o seu chefe se alistou numa cruzada radical com a demanda de reduzir toda a intervenção do Estado – mesmo a positiva -, somente o sector privado pode gerar dinheiro com a cultura e seu património. Falo em gerar dinheiro porque se falasse em gerar impacto social e cultural positivos, e na importância disso, dificilmente compreenderiam. Será então um problema de comunicação, mas de quem é a culpa desta incompreensão mútua?
Não havendo quem nos salve, só nos resta uma medida extrema. Penso que se justifica chamar às suas responsabilidades, em defesa do interesse nacional, alguém especialista em museus e que por acaso agora é comendador! Pois é Ronaldo, está na hora de fazeres mais um serviço ao teu país. Não podemos recorrer a mais ninguém. Agora como comendador, convence lá o nosso primeiro-ministro que abrir um museu é boa ideia, que até pode dar dinheiro e, de certeza, potenciar indirectamente o turismo e toda a economia a ele ligada. Tu, mais que ninguém, sabes o que fazer para um museu ter sucesso. Imagine-se aquilo que conseguias fazer com uns “Mirós” para expor? Seria de certeza o mais visitado do mundo!
Como patriota que és não nos deixarás na mão! Aproveito também para te retribuir antecipadamente a gentileza, avisando-te do risco que corre o fruto dos teus pés – esse tesouro natural em carne viva. Nunca te lembres de doar as tuas botas de ouro ao Estado português porque, qualquer dia, vem por ai um governo neoliberal capaz de as vender, em vez de as expor e potenciar o turismo de desporto. Sabemos bem que isto de fazer dinheiro com aquilo que é nosso, multiplicando-o, é coisa para os outros. O mais certo seria venderem-te os trofeus e o mundo passar a confundir-te com o Ronaldo brasileiro, tal é o nosso jeito nacional de desperdiçarmos os nossos valores.
Resta-nos recorrer aos ídolos dos nossos tempos, pois naqueles que habitam no panteão governativo da nação a fé está por um fio.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Participação na V Antologia de Poetas Lusófonos

Para grande pena minha não pude participar na sessão de apresentação da V Antologia de Poetas Lusófonos, mas hoje finalmente consegui ter nas mãos as duas obras que me cabiam. Os dois poemas da minha participação - "Viver na Quente Incerteza" e "Que Solidariedade" - resultaram no direito a ter dois exemplares que irão ocupar um lugar de carinho na minha biblioteca. Registo esta redundância pela curiosidade desta coincidência de sair esta participação nesta antologia poética ao mesmo tempo que apresentei um outro livro de poesia - CONTEMPORANEIDADES. Qualquer dia ainda alguém pensa que sou um poeta...


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Choque Cultural de Agosto


Chegou Agosto, com ele chegaram muitos dos nossos emigrantes. Portugal muda temporariamente, sofre influxos humanos que aumentam a nossa diversidade. Surgem então alguns choques culturais.
Apesar de sermos conhecidos por um povo que sabe receber, curiosamente não somos muito tolerantes para com os nossos emigrantes. Em muitos casos, nem os residentes tentam compreender as dificuldades de integração e comunicação dos emigrados, nem os próprios emigrados fazem os devidos esforços para se integrar.
O Português (emigrante) - Braque
Ler mais sobre esta obra de arte aqui
Torna-se evidente que as atitudes e comportamentos dos emigrantes dependem muito do país de acolhimento. Entre eles, há a tendência para destacar os emigrantes portugueses em França dos demais. Vários estudos sociológicos provaram que as caraterísticas dos países de acolhimento influenciam os processos de aculturação – a adaptação a uma cultura nova, com mudanças de comportamento social e até de cariz psicológico. O caso de França é paradigmático, pois constitui-se como uma sociedade de fortíssimo centralismo cultural, exigindo uma forte aculturação a todos os seus imigrantes. Obviamente que os portugueses em França, tal como todos os emigrantes que querem ser bem-sucedidos, inserem-se o mais e melhor que podem, e com isso são fortemente aculturados.
Mas não se deve generalizar em excesso, cada emigrante é um portador de cultura que está em permanente construção. A própria cultura de origem portuguesa não é una, podendo-se dizer que existem muitas em alternativa, dependendo dos meios, dos grupos, da educação e da experiência, da individualidade e personalidade de cada sujeito, etc.
Tal como os emigrados mudaram por aculturação, durante o período de ausência também Portugal mudou bastante, o que tende a amplificar ainda mais o choque cultural. 
Agora em Agosto, quando ouvirem um emigrante a misturar palavras e conceitos, pensem que os portugueses residentes também recorrem abundantemente a estrangeirismos sem fazerem grande esforço para usar termos da língua portuguesa. Se pensarmos nos termos informáticos e da área da gestão/marketing o rol de estrangeirismos é imenso! A aculturação anglo-saxónica por essa via tem sido bem evidente.
Há então que aproveitar o Verão, o clima, as férias e a oportunidade para nos enriquecermos culturalmente com os emigrantes que nos visitam, pois parece que muitos vão continuar a emigrar, esperando um dia voltar.

Nota: Baseado no texto do mesmo autor "

Porque são diferentes os Emigrantes Portugueses em França?


sexta-feira, 20 de julho de 2012

Morreu José Hermano Saraiva mas fica a sua História

Pela avançada idade de José Hermano Saraiva a notícia da sua morte é encarada como um evento inevitável, no entanto quando alguém nos entra por casa através da televisão durante tantos anos ficamos ainda assim tocados.  Cerca de 40 anos de não podia deixar de ter os seus efeitos nos telespectadores, e os programas de José Hermano Saraiva tiveram muito. 
Pela sua própria história, José Hermano Saraiva terá, seguramente, admiradores e detractores. Pessoalmente confesso que quase me choca a relação e admiração que tinha para com o ditador e o Estado Novo - ou não tivesse sido deputado e ministro nessa época. As posições ideológicas podem fazer afastar os mais democratas do célebre historiador português. No entanto, tal como muitas outras figuras das História, a complexidade da personalidade de cada um, com as suas múltiplas facetas e atividades, pode de determinados pontos de vista e para cada vertente haver leituras e simpatias diferentes.No caso de José Hermano Saraiva desta-se o papel de Historiador de Televisão. Ou seja, alguém que tenta fazer levar a História à televisão para os grandes públicos. Não consta que tivesse sido um brilhante historiador do ponto de vista técnico ou académico, mas foi seguramente um dos melhores - se não mesmo o melhor - a comunicar História. A sua ação foi imensa e o seu mérito sem precedentes no modo como conseguiu levar a História a um público muito vasto e como conseguiu despertar nesse mesmo público um interesse por um assunto pouco habitual. Mesmo aqueles que consideram a História como algo chato e pouco útil reconheciam o mérito e interesse da personagem.
Assim, penso que José Hermano Saraiva ficará para a História de Portugal como alguém que muito fez pela própria disciplina utilizando a tecnologia de comunicação de massas do seu tempo: a televisão.
Como apaixonado por História não podia deixar de assinalar aqui, mesmo que ao meu jeito atabalhoado e redundante, estas personalidade do século XX Português, ele próprio parte da nossa História coletiva. Que  História, os Historiadores, e o conhecimento geral o recorde e com ele aprenda.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Intervenção na Assembleia Municipal de Leiria: Sugestão para um Pack turístico/Cultural e Newsletter da AML

No passado dia 29 de Junho de 2012 decorreu mais uma Assembleia Municipal de Leiria, desta vez o espaço não foi o habitual. A sessão decorreu na Freguesia da Bajouca, isto porque comemorava 40 anos de existência.
Para divulgação, deixo aqui as plavras que me guiaram na intervenção que fiz nessa sessão. A intervenção, em jeito de resumo, foi dividida em dois temas diferentes: a sugestão para a criação de um pack/turístico que conjugasse bilhetes de entrada nos espações culturais, mapas temáticos, transportes e restauração; a sugestão para a implementação de uma Newsletter para divulgação de datas, locais e assuntos da Assembleia Municipal de Leiria.
Exemplo do "Roma Pass / Roma Map" - modelo que, com as devidas alterações de escala e interesse, poderia ser aplicado à realidade de Leiria, isto com a devida inclusão da restauração local para tornar a ideia autossustentável.
De seguida a intervenção:
São dois os assuntos que me fazem vir aqui fazer esta intervenção.
O primeiro assunto prende-se com o recente bilhete único cultural criado pelo município. Só podemos felicitar a Câmara Municipal pela ideia de, através da aquisição de um único bilhete, com um desconto considerável, permitir visitar 4 dos principais espaços culturais do concelho. Para além do desconto, cada vez mais importante e preponderante quando os tempos são de crise, esta medida parece-me acertada, pois serve em simultâneo de meio de divulgação e incentivo à visita de alguns espaços que podem ser menos conhecidos.
O princípio do bilhete único é positivo. Essa ideia pode ser um primeiro passo para algo mais à frente. Assim, pegando na ideia, e aproveitando a oportunidade, gostaria de poder sugerir ao município que continue a desenvolver e apostar neste tipo de bilhete de agregação, incluindo novos espaços e novas valências, pois os benefícios e ganhos turísticos podem ser consideráveis. Por exemplo, tornar esse bilhete num pack onde se incluísse: 1 dia de viagens no Mobilis e/ou estacionamento livre, durante um período de tempo definido, nos parques de estacionamento pagos da cidade; Um mapa com percursos de interesse na cidade, onde exista a possibilidade de inserir publicidade aos locais de restauração, que assim poderiam financiar em parte o próprio pack e incluir descontos directos sobre as refeições para os visitantes. Esta possibilidade poderia permitir criar um projecto auto-sustentável de parceiras diversas para ganhos mútuos, contribuindo para o desenvolvimento cultural e turístico do concelho. Exemplos destes são correntes e habituais noutras geografias, nacionais e no estrangeiro.
O segundo assunto prende-se com a proposta da ADLEI. No caso da Assembleia Municipal de Leiria, como tem sido das mais inovadoras, a plataforma “online” já existe e nela estão disponíveis os vários documentos com livre acesso. Ou seja, a informação existe, o que pode e deve ser melhorado são os canais de comunicação. Assim, proponho que se possa instituir a parte da proposta referente à Newsletter de divulgação e informação, permitindo que os munícipes se possam inscrever, através do portal do município, para que recebam directamente na sua caixa de correio electrónico uma comunicação automática, referindo as datas, locais e a ligação para os documentos de acesso livre já disponibilizados no portal do Município. No fundo a Newsletter, para os inscritos, funcionaria como um aviso e lembrete automático, incentivando à participação. Sugiro que se possa fazer algo semelhante também para as várias assembleias de freguesia, embora isso seja mais difícil, pois nem todas dispõem de Sitio da Internet próprio. Mas voltando à assembleia municipal; ai a medida é muito mais simples, até porque o município já tem serviços semelhantes, nomeadamente para a área cultural. O esforço seria mínimo, tendo em conta o ganho cívico que a medida poderá trazer. Estou convicto ser nosso dever tudo fazer para reduzir a distância face aos munícipes que representamos. A opção pela divulgação através da Internet da actividade política e cívica local deve ser uma das vias a seguir, ainda para mais sabendo dos hábitos de comunicação dos mais jovens, já para não falar do potencial imenso das novas tecnologias, passíveis até de mudar no futuro os paradigmas de representação política.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Aprender cultura política à força – A ação governativa


Há muito que as principais tendências pedagógicas desincentivam o ensino com recurso a métodos mais violentos, já para não dizer que os condenam em absoluto. A alternativa tem sido, de um modo simplista, o reforço positivo e afins. E, em muitos casos, ainda bem. Pelo menos isso poderá ser um modo de criar um novo tipo de consciência e empatia social. No entanto, tal como todas as teorias, há sempre que as possa contestar, ou então advogar que não são válidas para todas as realidades.
Em Portugal existe cada vez mais informação à disponibilidade dos cidadãos (contabilizando os Media tradicionais e agora a Internet), mas nem sempre existe a devida formação para lidar com ela. Esses défices de formação nem sempre se relacionam com formação académica. A lacuna prende-se mais com a cidadania e o próprio espirito cívico, na sua relação com os conhecimentos, mais ou menos técnicos e específicos, das várias áreas do saber de interesse comum. Somos recorrentemente alvejados por quantidades imensas de informação – agora muito especialmente por economia e gestão pública – que muitas das vezes se tornam incompreensíveis. Muitas vezes, sem nada mais que o senso comum, somos levados a compreender e ajuizar toda essa panóplia de informação pela parte, pelo aquilo que as nossas limitações nos permitem compreender no imediato. Afinal, que tipo de opinião pública estamos a criar? Opinamos bem? Se calhar não, se calhar poderíamos opinar melhor se tivéssemos a devida formação, abrangente e geral, para que pelo menos evitássemos a infecundidade de uma indignação vã. Sem a devida informação a confrontação dificilmente poderá dar lugar a uma cívica e ativa edificação.
Entre outros, o preconceito sobre questões ideológicas e tão ou mais evidente em Portugal como em qualquer parte do mundo, e relaciona-se com défices de cognitivos e de perceção. Para evitar alguns ajuizamentos usarei outros termos, por exemplo: “cultura de Esquerda” e “Cultura de Direita”, em vez da temida “Ideologia”. Pelo menos com o termo cultura ninguém se ofende e até permite que se possa aprofundar um pouco mais uma discussão política.
Apesar de recorrer a modelos pedagógicos ultrapassados, as nossas lideranças nacionais estão a contribuir ativamente para a nossa formação em cultura política, e a tornar clara a distinção entre “Culturas de Esquerda” e “Culturas de Direita”. Mesmo assim haverá sempre quem diga que não há distinção entre esquerda e direita - normalmente só alguém de Direita (mesmo que não se identifique como tal para si próprio e para os outros) afirma tal coisa. Realidade incontornável e inegável é o reforço da ação governativa segundo modelos proveniente da “Cultura de direita”, tão inegável que somos com isso confrontados na vida do dia-a-dia. Sabemos que o Estado está endividado, mas uma boa formação política, pedagógica e abrangente, deveria demonstrar-nos que existem outras alternativas, mais otimistas e humanistas, menos “pesadas”. Espero que a Direita ainda seja capaz de algum otimismo, nem que seja com outros atores, com uma abordagem mais estimulante das motivações individuais e coletivas, embora isso possa fazê-la afastar-se de algumas tendências da sua própria cultura política.

Texto publicado no Jornal de Leiria e Diário de Leiria

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Leitura de excerto de "As Cidades Invisíveis" na Arquivo

Hoje, com uma enorme satisfação, experimentei ler excertos de obras literárias em público. No dia Mundial do Livro e do Direito de Autor não pude deixar de responder ao desafio que a Livraria Arquivo colocou aos leirienses: ler no seu espaço cultural um excerto de um livro que se apreciasse. A escolha de início não foi fácil, mas depois de um pouco reflectir, nos últimos tempos houvera um livro que me tinha marcado - pelos conteúdos, pelos significados evidentes e pelos que eu próprio interpretei, mas também porque foi sugerido por alguém que admiro.
Na Livraria Arquivo em Leiria a experimentar uma leitura

Assim fiz. Levei o meu exemplar de "As cidades Invisíveis" de Italo Calvino e li uns quantos excerto. Antes de ler três descrições das cidades, li este diálogo entre Marco Polo e Kublai Kan:

Marco Polo descreve uma ponte, pedra a pedra.
- Mas qual é a pedra que sustém a ponte? - pergunta Kublai Kan
- A ponte não é sustida por esta ou aquela pedra - responde Marco, - mas sim pela linha do arco que elas formam.
Kublai Kan permanece em silêncio, reflectindo. Depois acrescenta: - Porque me falas das Pedra? É só o arco que me importa.
Polo responde: - Sem pedras não há arco.

Que neste dia tenhamos e sejamos felizes com livros!, tal como em todos os outros!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A história de uma Festa e História da Martinha

O dia de S. Martinho tinha sido na véspera, por isso dia 13 era o dia da Martinha, e à noite seria o momento da sua festa. As pessoas juntaram-se, queriam saber afinal quem era a Martinha, porque tinha direito ela a uma festa ali na Rua Tenente Valadim. Lá começaram a aparecer os curiosos por volta das 22h00 e logo o espaço da MovDesig se encheu, e enchia-se cada vez mais pois não houve lábios que dessem de comer e beber ao estômago enquanto conversavam; as castanhas quentes e apetitosas, a água-pé e jeropiga satisfaziam sedes de algo mais que água.
Afinal a Martinha ninguém vira nem conhecia. Diziam alguns que sabiam o seu fado passado, tendo-o registado em relatos escritos. Sabendo-se que não se poderia jamais saber qual a verdade sobre Martinha, fez-se a votação. Ganhou uma história em poema que virou canção. Ganhamos todos pois à noite animada da companhia, dos comes e dos bebes, ficou-nos a magia de uma memória mais doce que o açúcar da jeropiga.
 
Parabéns a todos e todas os que fizeram esta festa para amigos e amigas. Parabéns à malta da A fixação Proibida e à Joana Correia pela sua vencedora história/poema.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Texto de apresentação para as fotografias expostas na "Festa do Fred"

Partilho o texto de apresentação para a sala onde tive a honra de poder ter algumas fotografias da minha autoria expostas durante a "A Festa do Fred", organizada pela "A Fixação Proibida" na Movdesign em Leiria:
Micael Sousa, dizem as crónicas dos nossos tempos, é uma pessoa distraída e com queda para muitas coisas, amálgamas e trapalhadas físicas e outras mais intelectuais. No seu jeito calado e tranquilo, por vezes até tímido, fez o ensino secundário em artes, e acabou por se tornar engenheiro civil. Estudou mais umas coisas, mais ou menos técnicas como a higiene e segurança, culminando recentemente no mestrado de energia e ambiente. A próxima aventura será diferente, será a História, mais uma para ajudar à confusão. Várias testemunhas confirmar que casou bem, e com gosto e alegria, orgulhando-se disso.
A vontade se ser um generalista levou-o a fazer várias e diferentes coisas, nem sempre bem é claro, nunca tendo o medo de errar impedido de experimentar o erro. Mas a vontade de aprender, descobrir e experimentar foram sempre a regra e fio condutor. Apesar da participação política e cívica local, os mais recentes pontos de interesse passam também pelas criações de autor, entre elas a: escrita de prosa e poesia; desenho e pintura, construções LEGO; e fotografia. Comprovando tudo isto são os vários blogues onde essas criações são partilhadas, onde se divulga o que vai surgindo naturalmente, aquilo que sempre colocou à disposição da crítica, vendo nisso um modo de tentar melhorar o que ia fazendo.
Hoje, pela mão de amigos aqui na Movdesign, que muito se esforçaram para transformar um recente hobbie - a fotografia -, Micael Sousa tem a honra e privilégio de poder partilhar convosco instantes da sua amada cidade de Leiria. As fotografias registam momentos e espaços característicos da cidade, momentos registados de modo a tê-los sempre perto, de guardar de perto a sua beleza, ainda que nem sempre as fotografias façam jus à bela Leiria.
Fico por fim o convite à visita do blogue "A Busca pela Sabedoria" disponível em www.abuscapelasabedoria.blogspot.com , local onde Micael Sousa vai partilhando fragmentos da busca por mais cultura geral. As criações mais sensoriais, que não devem ser confundidas com arte, entre elas fotografias, desenhos, pinturas e poemas, podem ser vistos no blogue "Desartístico", com morada em www.desartístico.blogspot.com.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Distúrbios em Inglaterra - O pior da Direita, da Esquerda e da Cultura Pop

Chocaram as imagens e sons que chegaram de Inglaterra. Há medida que mais se vai conhecendo e sabendo sobre os distúrbios pela britânica ilha, a preocupação não pode deixar de nos assaltar. Se isto foi possível num pais que passa as imagens do civismo e tolerância, que extrapolações e comparações poderemos fazer para o nosso?
De um modo muito genérico, de imediato diria que presenciamos, ao nível governativo, exemplos do pior das duas grandes ideologias políticas (Esquerda e de Direita) em simultâneo, apesar de em áreas diferentes. O pior da Esquerda no que toca à segurança, pela incapacidade de responder e actuar de imediato no terreno para garantir a segurança; tendencialmente a Esquerda – e bem a meu ver – tende a apostar na prevenção e intervenção para minimização da pobreza, da exclusão social e consequentemente do crime; no entanto, quando as coisas se descontrolam, como foi o caso, tem de haver capacidade de resposta. O Pior da Direita relaciono com a desvalorização da intervenção social; os cortes nos meios de acção social local que garantiam o estabilizar de comunidades e grupos tendencialmente problemáticos potenciaram o caos registado.
Ainda de um ponto de vista político/ideológico, foram os próprios conceitos de liberdade e tolerância que ficaram em causa. Basta notar que, associados aos movimentos de residentes e proprietários que se formaram para proteger os seus bairros e bens, obrigados a isso devido à inacção policial, grupos da “extrema-direita” não democrática aproveitaram de imediato o caos para difundirem as suas ideologias de intolerância e violência.

Mas existe uma perspectiva cultural, talvez essa sim a própria génese do problema e aquela sobre a qual, enquanto sociedade, nos devíamos debruçar. Não falo das minorias étnicas ou religiosas, não! Falo da cultura Pop disseminada nos países ocidentais (incluindo Portugal) desde há uns anos para cá: tem sido habitual, artistas, criadores e “fazedores de opinião” (opinion makers) populares entre os mais jovens, elevarem ao estado de “modelo e conduta a seguir” o "herói bandido” - aquele que recorre a todos os meios para ter aquilo que quer, independentemente disso violar códigos de conduta, a sã convivência e respeito pela liberdade e direitos alheios e colectivos. Mais cedo ou mais tarde os reflexos dos valores culturais, continuamente disseminados, teriam de se manifestar – o efeito só poderia ser incompreensível e explosivo. Parece-me que a ignição começou devido às causas justas de alguns - os verdadeiramente pobres e marginalizados -, mas também às injustas de outros: o continuar da cultura recebida agora manifestada em actos físicos nas ruas; o simples facto de querer ter o que não se pode;  e, como alguns dizem, porque até nem tinham nada para fazer (férias e pausa do campeonato de futebol) - o que é no mínimo triste e revoltante! 

Para além dos problemas apontados, então e soluções? Apronto duas possíveis: meios e modos de garantir a lei e a justiça, sem atropelos às liberdades individuais e colectivas; e uma forte capacidade de transmitir valores e educar cidadãos (formal e informalmente), para que eles próprios possam saber de facto que liberdade não existe sem responsabilidade.

Texto publicado no Diário de Leiria em 18 de Agosto de 2011
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Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





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