segunda-feira, 22 de abril de 2019

Um prémio literário para incentivar as indústrias criativas

Na última assembleia municipal de Leiria propus a implementação de um concurso literário. Escrevo com regularidade textos criativos e sempre achei estranho que em Leiria escasseassem concursos e prémios que incentivassem esse tipo de produções. O facto de haver um objetivo, um mote, algo que incentiva o desenvolvimento de competências e capacidades, ou pelo menos tentar ensaiar alguma originalidade nas produções, tem efeitos positivos na criação. Curiosamente, há umas semanas, realizou-se em Leiria uma reunião de vários escritores de Leiria, onde se referiu a ausência e escassez de prémios e concursos. Apercebi-me que afinal não era apenas uma opinião pessoal. Como eleito para a assembleia municipal pareceu-me adequado levar esta ideia a quem decide e constrói as políticas culturais municipais, mas também para perceber se havia concordância da parte dos restantes eleitos.

No entanto há que ressalvar algumas coisas. Instituir um prémio pecuniário ou ajudar à edição de um livro, como evento isolado, fica aquém do que realmente se pode fazer. Se Leiria quer uma comunidade onde a cultura seja mais do que um conceito decorativo, é preciso ir um pouco mais longe. O prémio literário necessita de ter um enquadramento mais abrangente, ser capaz de promover a produção literária regular e criar públicos transversais. Isto não se faz de uma assentada e com um evento mediatizado. Faz-se com regularidade e com uma continuidade de iniciativas coletivas que só vingam se forem assumidas pelos leirienses. Na prática isso passa por implementar regularmente oficinas de escrita criativa para todas as idades, sessões de leitura, onde as artes dramáticas e jogos possam ser incluídos, sem esquecer as novas tecnologias. Há que envolver a rede de bibliotecas locais e regionais nessa missão, homenagear autores de renome associados a Leiria. São imensas as possibilidades, basta querer seguir por essa via. É uma questão de políticas de cultura e para a cultura.
A produção literária é uma indústria criativa. Gera emprego e receitas, mas, tal como as indústrias, devem ser instaladas em infraestruturas adequadas, incorporar tecnologia e mão-de-obra qualificada. Nas indústrias criativas passa-se o mesmo. São atividades geradoras de emprego e de receitas, mas necessitam de condições para existir. Precisam de condições físicas e de uma conjuntura social favorável, mas, ao contrário das outras indústrias, as indústrias criativas são muito pouco intensivas no consumo de recursos naturais e altamente intensivas na utilização de mão-de-obra. Os produtos que produzem não se depreciam ao serem consumidos e entram facilmente numa economia circular. Quanto mais pessoas consumirem os produtos culturais mais sustentáveis se tornam. Isto é muito fácil de explicar na produção de uma música, mas também numa obra de arte que pode ser contemplada sem se consumir fisicamente. Até um livro pode ser lido por muitas pessoas. Consumir cultura é consumir algo que requer poucos recursos naturais, logo é ambientalmente sustentável.

Texto publicado no Diário de Leiria

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