segunda-feira, 22 de abril de 2019

O queremos dos políticos e da democracia?

Vivemos então em liberdade democrática, apesar de todas as falhas que conhecemos. Podíamos dizer que a utopia era a solução, no entanto seria utopia considerar que saberíamos definir que tipo de utopia nos dava jeito. Estaremos então num beco sem saída? 

Acho que não, porque a democracia não é uma obra acabada e totalmente definida, mas um produto em melhoria contínua. Isto só por si é uma posição política, quiçá uma ideologia se alguém a doutrinar. E é segundo este processo, rumo a uma democracia melhor, que devemos questionar sobre o queremos dos nossos políticos e qual o nosso papel em tudo isto. 

Dizem que a meritocracia é um mito instituído apenas para manter as elites dominantes. Dizem também que a igualdade de oportunidades total é impossível. Dizem muitas coisas, os outros e nós mesmos. Isto significa que gostamos de dizer coisas. Aí está um pilar essencial da democracia: queremos fazer-nos ouvir e não penas ouvir o que os outros dizem. Por isso queremos que os políticos nos ouçam, porque sabemos hoje que são pessoas tão banais como nós. No entanto persiste um défice global de disponibilidade para ouvir, acentuado pela crescente vontade de todos quererem falar ao mesmo tempo.

Adoramos narrativas e metáforas.  Os políticos sabem disso e nós por vezes esquecemo-nos. Mas na prática queremos mais que uma boa história. Queremos políticos que nos ouçam e façam o que lhes pedimos, mesmo quando não sabemos o que queremos. É um paradoxo, porque queremos mais do que as condições básicas de vida. Desejamos coisas muito mais complexas, sem limites como dizem os economistas, querendo-as independentemente dos recursos que este nosso mundo nos oferece, tal como nos alertam os ambientalistas. E queremos tudo agora, porque duvidamos do amanhã.

Assim, qualquer pessoa que ouvisse, fizesse a vontade dos cidadãos, mas tivesse uma noção dos limites do possível, seria um bom político? Talvez fosse uma boa base de partida. Mas para ser isso tudo é necessário ter muitas qualidades e competências, algumas indefinidas. Qual será a formas de garantirmos tudo isso? Será através do atual regime político, em que não temos forma de avaliar os políticos e as políticas durante os períodos de governação? Como mudar o sistema de listas fechadas? Qual a segurança do voto se os políticos não seguem claramente linhas de orientação de base que assumem, as chamadas ideologias que supostamente os distinguem? Qual a validade dos programas eleitorais descartáveis na hora da governação? E qual o papel de todos nós na melhoria do próprio sistema político? Podemos ser mais que meros espetadores? Haverá forma de nos envolvermos na governação?

Parece-me que estamos perante um momento de mudança de paradigma político. Sabemos que precisamos de mudar e reformar, experimentar coisas novas, embora não saibamos exatamente o quê, de que forma e como. No entanto começam a surgir algumas soluções que abordarei futuramente. São riscos que a democracia precisa de correr para continuar a evoluir e evitar uma estagnação que a fará morrer.

Texto publicado no Diário de Leiria.

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