quinta-feira, 21 de novembro de 2019

E que tal uma rede sustentável de praias fluviais em Leiria?

Leiria não tem nenhuma praia fluvial formal, mas tem potencial para ter várias. Se tantos outros concelhos têm nós também poderíamos ter, pois temos inúmeras ribeiras e ribeiros, dois rios, e várias lagoas. Mas claro, para isso, teria de haver um planeamento e gestão desses recursos naturais para poderem ser verdadeiras praias fluviais. Os custos de investimento poderiam ser largamente compensados com os naturais retornos que uma eficiente gestão traria. 

Dizem algumas pessoas, provavelmente desinformadas do potencial das praias fluviais, que estamos demasiado perto do mar para precisarmos delas. Leiria tem uma praia e mesmo as praias dos outros concelhos ficam a poucas dezenas de quilómetros. No entanto, uma coisa não substitui a outra, especialmente com o tipo de condições marítimas balneares das praias da região para banhos. Quem gosta de desfrutar de um banho ou nadar nem sempre o pode fazer nas nossas praias. E o fresco, associado à habitual envolvente verde das praias fluviais, proporciona escapatórias ao calor abrasador e permite uma relação única com a natureza. Ainda assim, discordando do pensamento que considera as praias fluviais desnecessárias, muitos de nós gostávamos de as ter em Leiria, especialmente porque já desfrutámos delas noutros locais. 

Também não nos podemos esquecer que todas as deslocações, especialmente em veículos automóveis, geram impactes ambientais negativos. Ter uma praia fluvial por perto permitiria mitigar isso, tal como garantir reservas de água permanentes, cada vez mais importantes em contexto das alterações climáticas.

Imaginem então que existiam várias praias fluviais e ciclovias a ligar todos esses locais aos pontos de interesse do concelho. Imaginem parques de campismo, hotéis e infraestruturas de apoio perto destes locais. Imaginem praias fluviais urbanas e rurais, algumas associadas a património cultural, outras a aproveitar locais naturais únicos: Lapedo, Junqueira, Fontes, Cortes, Caranguejeira, Ervedeira, e muitos outros locais. E uma praia mesmo no centro de Leiria? Parece utopia, mas cidades como Estocolmo conseguiram tornar as suas águas superficiais urbanas próprias para nadar e até beber sem tratamento. 

Com esta rede de praias podíamos aproveitar uma franja importante do turismo cultural, gastronómico e balnear multifacetado para diversificar a nossa economia. Aí sim, Leiria seria distintamente atrativa para o lazer e férias durante todo o verão, em quase todo o seu território. Seria ainda mais atrativa pela qualidade de vida que teria para os seus habitantes.

Se esta fosse uma estratégia de desenvolvimento territorial para Leiria iria garantir-se a proteção ambiental dos nossos recursos naturais. A bacia hidrográfica do Lis teria de ser despoluída. A nossa qualidade de vida aumentaria imenso. 

Não temos de copiar os outros, mas devemos aproveitar o que temos de único, obtendo valor das nossas condições naturais, sem as depreciar. Isso é sinónimo de sustentabilidade. 

Texto publicado no Diário de Leiria

Por uma cidadania divertidamente ativa

Existem muitas teorias para explicar a ausência de mais participação cívica e política por parte dos cidadãos. Se antigamente era por falta de informação ou conhecimentos, ou até mesmo por ausência de liberdade, hoje não é bem assim. Com isto não significa que todas as pessoas estejam informadas de tudo e preparadas para todas as possíveis formas de participação que podem assumir. Por outro lado, significa que, havendo vontade e fazendo um esforço para saber como proceder, é possível ter uma atitude mais ativa no que toca aos assuntos da governação coletiva, que é como quem diz: Política. 

Esperava-se que com a liberdade, generalização de níveis cada vez maiores de educação e acesso à informação, as participações cívicas e políticas aumentassem, e com isso a democracia prosperasse em formas cada vez mais participadas e diretas. Na prática isso não tem sido bem assim. As mobilizações têm ocorrido, mas mais por causas pontuais, associadas a tendências e novidades, ou por resposta a sentimentos de injustiça, habitualmente por revolta. Existe muito menos ativismo positivo, no sentido em contribuir para melhorar e aprofundar o modo como as sociedades funcionam. Talvez isto faça parte da natureza humana, tal como faz parte da natureza da dita classe política a sua pouca vontade em mudar o paradigma, pois seria abdicarem do seu poder, mesmo que seja um poder de aparências.

Típico dos nossos tempos é a constante concorrência de atividades. Nunca tivemos tantos meios para poupar tempo nas mais diversas tarefas e ao mesmo tempo menos tempo para tudo o queríamos fazer. A concorrência é imensa, crescendo o rol de atividades relacionadas com lazer e diversão. Vivemos em sociedades hedonistas e consumistas em que os indivíduos procuram o seu prazer individual. Existe oferta para todos os tipos. Por isso temos incentivos a procurar e seguir apenas aquilo apreciamos, dificilmente optando por coisas que nos incomodam. Parece mais ou menos óbvio.

Participar na vida cívica, em debates, discussões, manifestações, em associações, processos de colaboração e até em eleições tende a ser pouco divertido, pelo menos para a esmagadora maioria das pessoas. Os processos de consulta pública são burocráticos, cheios de papelada técnica para ler e tentar compreender. Os debates, por falta de moderação e de design dos processos, levam a sessões longas e tediosas, onde ódios são destilados e o confronto afasta os menos beligerantes. As eleições são dominadas por partidos que obedecem a lógicas de poder instituído, onde há muito pouco espaço para inovar e abertura a novos atores. Parece que tudo é transformado em aborrecimento, quando o mundo do consumo, físico e imaterial, está cheio de alternativas cativantes. Por isso optamos por consumir. 

A solução não é simples, apesar de óbvia, partindo do princípio que queremos uma democracia participativa. Por isso há que tornar a cidadania ativa mais interessante, mais fácil e mais divertida. Trata-se de uma revolução, mas que não faz correr sangue, quanto muito umas lagrimas de riso.

Usar os jogos de tabuleiro para tornar as empresas mais criativas

A criatividade vai ser o capital do futuro. As empresas terão sucesso se conseguirem captar o potencial criativo dos seus colaboradores. Mas as fórmulas do passado parecem pouco apropriadas para o conseguir. Temos de encontrar novas estratégias, mais centradas nas pessoas e no que as distingue das máquinas.  

Existem muitas opções para estimular a criatividade, e uma das mais poderosas passa pelo recurso a jogos. Os jogos são motivadores intrínsecos, o que significa que transportam, naturalmente, os jogadores para o chamado “círculo mágico”, num estado de alienação consciente onde é possível potenciar a criatividade e novas formas de estimulação cognitiva e comunicativa para a resolução de problemas. É como se os jogos proporcionassem arenas de treino e ensaio em que podemos planear e testar as mais variadas ideias e estratégias, sem os efeitos negativos e consequências da realidade. É aquele espaço imaginário onde podemos estudar e compreender o comportamento humano, as atitudes, a diversidade e imprevisibilidade, as prioridades e reações interativas perante os sistemas de jogo e as opções dos demais jogadores. No entanto os jogos têm a vantagem de terem em si sistemas de regras que permitem avaliar o desempenho e sucesso, tudo isto enquanto garantem diversão – ou seja, motivação. Por serem divertidos são melhores que as simulações. Os jogos são assim espaços de aprendizagem através da experimentação, são modos de aprender fazendo, mas também de produzir. 

Os jogos digitais dominam, pois são imediatamente estimulantes e podem ser utilizados por muitos jogadores em simultâneo e à distância, em múltiplas plataformas cada vez mais portáteis. No entanto os jogos analógicos, que não deixaram de evoluir, exploram a dimensão inigualável da interação presencial. Neste momento o setor dos jogos de tabuleiro está a crescer acima dos 20% ao ano, com volumes de negócios que se estimam em breve passar dos 10 mi milhões de dólares. Milhões de pessoas jogam os novos designs de jogos de tabuleiro: os “wargames”, os “role play games” e os jogos de hobby de modelo “europeu” e “americano”, convergindo para modelo híbridos em que o refinamento dos sistemas se conjuga com as narrativas e temas envolventes. Mais de 5.000 jogos são publicados anualmente, em contínuos processos de inovação e criatividade, cada vez mais acessíveis. Centenas de milhares de pessoas rumam às convenções de jogos, e nós cá temos a maior de todas em Portugal: a Leiriacon. Temos também uma das comunidades de boardgamers mais ativas do país: os “Boardgamers de Leiria” da associação Asteriscos, que implementam projetos de inovação social e educativa, para além de garantirem o espaço para um público e comunidade florescentes. Temos também por cá duas editoras que exportam jogos: “Whats your game?” e a “Pythagoras”. Tudo isto é altamente inspirador e parece estar a fazer emergir um cluster em Leiria.

Estes novos jogos de tabuleiro são também tendências dos polos tecnológicos e financeiros como Silicon Valley e Wall Streat. A D. Dinis Business School reconhece isto, e tem-me permitido incluir estes jogos como introdução à gamification e serious games na sua oferta formativa. Estas abordagens servem para que os jogos possam ser integrados das atividades das empresas de forma a estimular a criatividade e muitas outras competências necessárias para o sucesso. Tenho desenvolvido este tipo de soluções, em paralelo com as minhas investigações académicas sobre o poder motivador dos jogos, que podemos utilizar como incentivadores à participação, teste de ideias e resolução de problemas, que geram processo de cocriação e planeamento colaborativo. Parece brincadeira, mas estamos a falar de coisas bem sérias, com provas dadas, mas onde existe ainda muito espaço de progressão e desenvolvimento. Imaginem se pudessem trabalhar enquanto se divertem a jogar, gerando de forma intrínseca mais motivação, criatividade e até felicidade no mercado de trabalho.

Para que serve uma assembleia municipal e qual o papel dos cidadãos nela?

Sou membro da assembleia municipal de Leiria, sendo a minha segunda passagem por este órgão, depois ter estado a trabalhar no gabinete de apoio à vereação. Devo dizer isto antes de avançar com o texto por questões de transparência. Vou tentar descrever o que é uma assembleia municipal, segundo a minha experiência. 

São membros da assembleia municipal os deputados municipais, que correspondem a três vezes o número de vereadores, perfazendo um total de 33 lugares. Fazem também parte os presidentes de junta de freguesia, igualmente com direito a voto. Todos são sufragados através de listas de partidos ou de movimentos políticos que se podem constituir para concorrerem aos vários cargos nas eleições autárquicas. Ou seja, todos nós representamos partidos ou movimentos políticos, mas, primeiro que tudo, representamos os munícipes. Através de uma votação entre os membros da assembleia municipal elege-se a mesa e o seu presidente. Cabe à assembleia municipal fiscalizar a atividade do executivo municipal, do presidente de câmara e dos vereadores, mas também propor alterações, recomendações, moções e propostas próprias. Ou seja, a assembleia tem poder, os orçamentos têm de ser lá votados, tal como os grandes assuntos e investimentos locais.

Nas assembleias municipais podem também participar os munícipes que se inscrevam previamente. No caso da assembleia de municipal de Leiria os cidadãos são sempre os primeiros a falar, tendo pelo menos 5 minutos para usar livremente como entenderem, o que gera um importante espaço de participação cívica e política. Para além disso as assembleias municipais, tal como as assembleias de freguesia, são abertas ao público. No caso da assembleia municipal também é transmitida online no Facebook, gerando mais um modo de divulgação e partilha de informação, para que os cidadãos saibam o que se vai fazendo nesse espaço. 

A assembleia reúne ordinariamente 5 vezes por ano, podendo haver mais sessões extraordinárias, especialmente porque surgem alguns debates temáticos ou assuntos que possam necessitar de mais tempo para serem debatidos e deliberados. Em 2019 houve mais assembleias do que é habitual, alargando ainda mais este espaço de debate político e possibilidade de participação dos cidadãos. 

Espera-se que os vários membros da assembleia levem alguns dos seus conhecimentos e sensibilidade política para as reuniões de assembleia. Por vezes entra-se em tricas partidárias ou pessoais. Provavelmente isso faz parte da natureza humana, mas sabemos que o ideal seria o debate de ideais e a possibilidade da cocriação e geração de alguns consensos, algo que se consiga fazer algumas vezes. Precisávamos também de mais cidadãos a participar, quer como candidatos diretamente à assembleia, quer com intervenções pontuais enquanto munícipes. Esse hábito iria gerar condições para aprofundar a nossa democracia, porque é desenvolvida para assuntos que nos dizem muito. Remato com o desejo de um dia podermos ter  em funcionamento as assembleias de cidadãos a trabalhar de forma colaborativa e a deliberar sobre múltiplos assuntos.

Related Posts with Thumbnails

Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





TOP WOOK - EBOOKS

Novidades WOOK - Ciências

TOP WOOK - Economia, Contabilidade e Gestão

Novidades WOOK - Engenharia

Novidades WOOK - Guias e Roteiros