sábado, 17 de fevereiro de 2018

Todos andamos no terreno e na escola da vida

Ainda há quem queira alimentar guerras entre os académicos e não académicos. Tendem a ser aqueles que não prosseguiram estudos ou que não conseguem converter os estudos que têm em algo construtivo, não tendo compreendido a utilidade daquilo que estudaram, a alimentar este conflito sem sentido.

Um académico tem de validar os seus conhecimentos na realidade, no mundo em que vive, mesmo que isso seja distante como uma estrela. Quem quiser fazer ciência, e produzir conhecimento, tem de estar sempre no terreno, próximo das informações associadas ao seu objeto de estudo. É na transposição da teoria para a realidade, para múltiplas práticas, que a ciência cria conhecimento capaz de gerar novos desenvolvimentos e concretiza o seu papel social. Não podemos dispensar o conhecimento teórico, pois serve para testar de forma abstrata problemáticas da realidade e testar ideias, evitando as consequências e erros de quem experimenta sem saber as consequências do que faz. 

Dependemos fortemente do conhecimento científico. Mesmo quem nada percebe de determinadas áreas disciplinares como a física, química e muitas outras, utiliza diariamente o produto comercializado desses conhecimentos acumulados. Quem diz das ciências ditas exatas diz o mesmo das ciências sociais e humanas, pois todos os dias refletimos, invocamos a nossa história e não sabemos viver sem ser em sociedade. Muitos outros exemplos não faltariam.

Tendemos a criticar ou desvalorizar o que não compreendemos, ou aquilo que muda o nosso status quo, reduzindo poder e influência. O que é diferente é visto com desconfiança. A novidade pode ser ameaçadora para os poderes instituídos. Quem critica outrem que tem mais conhecimentos em determinada área, acusando essa pessoa de ser académico, teórico e de não conhecer a realidade revela, primeiro que tudo, incompreensão. Ou o tal sábio é arrogante e usa os seus conhecimentos sem grande inteligência, ou então quem desdenha é incapaz de compreender o valor desse saber por falta de conhecimentos científicos prévios. Também pode ser simplesmente inveja, a mera hipocrisia de criticar algo que afinal se valoriza e deseja ter.

Apesar da inveja ser uma coisa muito presente na sociedade portuguesa, importa ir além dessa fatalidade. Não faz qualquer sentido colocar os cientistas de um lado e os não iniciados/formados em ciência no noutro, pois estamos a falar de uma forma de conhecimento entre outras. A ciência pretende compreender a realidade, tentando contribuir para melhorar a vida humana. Qualquer estudo científico precisa de provas de validação. Se há fonte de conhecimento que valoriza a experiência é a ciência, estruturando as informações experimentais.

Quer sejamos cientistas, sábios ou simplesmente todos os outros, não precisamos de ir para o terreno porque todos vivemos nele. Todos fazemos e andámos na escola da vida enquanto vivermos: é inevitável. Se não nos encontramos no dito terreno e na dita escola da vida mais vezes é porque não comunicamos.

Texto publicado no Diário de Leiria em 15 de fevereiro de 2018

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