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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Nas catástrofes saltam à vista as fragilidades

O recente mau tempo que assolou a nossa região deixou grande parte da população à beira do desespero. Os prejuízos, seguramente, somam-se em milhões, tanto pelo que se danificou como pelo que não se pôde fazer quando faltou água e eletricidade. Com a queda de árvores também algumas vias ficaram intransitáveis. Estas catástrofes revelam muitas das nossas fragilidades: as mais imediatas, dependentes da qualidade das infraestruturas; e, as mais profundas, decorrentes dos nossos modelos de expansão, desenvolvimento e ocupação do território.


Prever catástrofes naturais é difícil, ou até mesmo impossível. No entanto, é para mitigar essas contingências e imprevisibilidades que se devem: fazer estudos; tomar certas decisões estratégicas e preventivas; e criar planos de resposta para a emergência. Será difícil que as infraestruturas suportem todas as catástrofes e intempéries, ainda que devam ser planeadas e executadas para resistir a casos de exceção – pelo menos assim mandam os vários regulamentos das várias especialidades.
Nestes dias passados demonstrou-se, violentamente, os efeitos do modo desordenado, e por vezes caótico, como nos expandimos, ocupamos e infraestruturamos o território. Os nossos modelos urbanos difusos, com zonas urbanizadas de baixa densidade e descontinuamente espalhadas por grandes zonas do território, são apontados como sendo altamente insustentáveis. Isto porque desperdiçamos solos, aumentamos desnecessariamente as distâncias de transporte e fazemos crescer, de igual modo, a necessidade de mais infraestruturas básicas e serviços. Mas os modelos difusos causam outro problema que só se evidencia em casos de emergência. Devido às descontinuidades, grande parte das nossas infraestruturas não constituem malhas ou anéis entre si, ou seja, não existe redundância ou ligações alternativas quando a ligação principal falha. Normalmente é por essa razão que nas cidades, onde existem sistemas “malhados” de infraestruturas, mais facilmente se resolvem avarias e se conseguem garantir abastecimentos alternativos.
Estando grande parte das redes já montadas, e não se prevendo, a curto prazo, expansões urbanas que ocupem os vazios ou façam ligações alternativas, os problemas das descontinuidades persistirá. Seja qual for a solução, os custos serão sempre elevados. Resta-nos então a intervenção de emergência pública, a do Estado - pelo menos enquanto não for desmantelado.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Feira de Maio – O Renovar da Magia e das Estórias

A partir de uma certa idade admito que a Feira de Maio começou a gerar em mim sentimentos contraditórios. Não pretendo fazer generalizações, mas poderá haver quem, à sua maneira, sinta ou tenha sentido a mesma opinião paradoxal em relação à dita feira.
Se, para mim, antigamente a Feira de Maio tinha uma magia que só era acessível porque a via com olhos de criança e com uma imaginação inocentemente ilimitada, anos mais tarde o sentimento mudou. Já na adolescência, os carroceis, os doces e os brinquedos passaram a não despertar o interesse de outrora. Entre a música, por vezes ritmada até ao absurdo, carros de choque e afins desenhavam-se outras fantasias próprias de outras idades. Na Feira de Maio ensaiávamos histórias de amor desajeitadas, importantíssimas para o nosso desenvolvimento emocional, numa altura em que tentávamos uma adaptação aos novos corpos de adulto.

Fonte da Fotografia: http://newscentermco.blogspot.pt/2010/05/feira-de-maio-leiria.html

Mais tarde, a feira foi ganhando pó e perdendo o interesse. Mas quase sempre por lá passei, procurando réstias dos sonhos de antigamente, desvanecidos e longínquos. Voltava lá, seguindo um ritual, ainda que no fim de cada ida dissesse: isto já não me diz nada… Mas no ano seguinte regressava. Provavelmente retornávamos muitos - eu e outros como eu -, movidos por sentimento paradoxais semelhantes.
Este ano voltei de novo! Fiquei surpreendido! A Feira de Maio mudara! Mudara de sítio e ganhara novos contornos, parecendo querer modernizar-se e adaptar-se às necessidades dos nossos tempos. A Feira ganhou com a qualidade das infraestruturas disponibilizadas, e até se abriu com ela o Estádio à comunidade, rumo a uma utilidade que muitos exigiam há muito tempo. Este foi um passo simbólico importante para que no futuro a Feira evolua e se continue a desenvolver, mantendo as suas características tradicionais, mas adaptando-se à Leiria e aos leirienses de hoje e de amanhã.
Para o ano quero voltar, e nos próximos também, quem sabe trazendo aqueles que pela idade sentem como ninguém a magia especial da nossa Feira de Maio.
 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Choque Cultural de Agosto


Chegou Agosto, com ele chegaram muitos dos nossos emigrantes. Portugal muda temporariamente, sofre influxos humanos que aumentam a nossa diversidade. Surgem então alguns choques culturais.
Apesar de sermos conhecidos por um povo que sabe receber, curiosamente não somos muito tolerantes para com os nossos emigrantes. Em muitos casos, nem os residentes tentam compreender as dificuldades de integração e comunicação dos emigrados, nem os próprios emigrados fazem os devidos esforços para se integrar.
O Português (emigrante) - Braque
Ler mais sobre esta obra de arte aqui
Torna-se evidente que as atitudes e comportamentos dos emigrantes dependem muito do país de acolhimento. Entre eles, há a tendência para destacar os emigrantes portugueses em França dos demais. Vários estudos sociológicos provaram que as caraterísticas dos países de acolhimento influenciam os processos de aculturação – a adaptação a uma cultura nova, com mudanças de comportamento social e até de cariz psicológico. O caso de França é paradigmático, pois constitui-se como uma sociedade de fortíssimo centralismo cultural, exigindo uma forte aculturação a todos os seus imigrantes. Obviamente que os portugueses em França, tal como todos os emigrantes que querem ser bem-sucedidos, inserem-se o mais e melhor que podem, e com isso são fortemente aculturados.
Mas não se deve generalizar em excesso, cada emigrante é um portador de cultura que está em permanente construção. A própria cultura de origem portuguesa não é una, podendo-se dizer que existem muitas em alternativa, dependendo dos meios, dos grupos, da educação e da experiência, da individualidade e personalidade de cada sujeito, etc.
Tal como os emigrados mudaram por aculturação, durante o período de ausência também Portugal mudou bastante, o que tende a amplificar ainda mais o choque cultural. 
Agora em Agosto, quando ouvirem um emigrante a misturar palavras e conceitos, pensem que os portugueses residentes também recorrem abundantemente a estrangeirismos sem fazerem grande esforço para usar termos da língua portuguesa. Se pensarmos nos termos informáticos e da área da gestão/marketing o rol de estrangeirismos é imenso! A aculturação anglo-saxónica por essa via tem sido bem evidente.
Há então que aproveitar o Verão, o clima, as férias e a oportunidade para nos enriquecermos culturalmente com os emigrantes que nos visitam, pois parece que muitos vão continuar a emigrar, esperando um dia voltar.

Nota: Baseado no texto do mesmo autor "

Porque são diferentes os Emigrantes Portugueses em França?


sábado, 21 de julho de 2012

O Estado somos nós, mas só quando dá jeito!

Os políticos podem-nos ser – ainda que não seja suposto – indiferentes, mas quando esses “atores” assumem papéis de governação, nem que seja por respeito institucional, devemos-lhe dar a devida atenção (ao que fazem e dizem).
Bem sérias são as implicações e significados do que disse recentemente um dos nossos ministros. Segundo ele, agora que não serão, supostamente, apenas os funcionários públicos a perder subsídios,  levantam-se problemas de vária ordem: problemas sociais e da própria economia nacional. Agora até juízos de valor, e ajuizamos de justiça informal com conotações claramente subjetivas, aparecem dos discursos dos homens do governo.
O tal ministro, na sua carreira política de verdadeiro sobrevivente com grandes e impressionantes capacidades adaptativas, vem dar mais uma prova dos seus dotes. A sua forma de utilização da palavra, o modo profissional como comunica,  é magistral - ninguém lhe poderá criticar ou diminuir essas capacidades. Como bom comunicador que é, o nosso ministro adapta o discurso ao público-alvo. Esse público em causa exigia que se dissesse que o setor privado não deve ser tão responsabilizado pelo défice do Estado como o setor público. De um modo abstrato até concordo com o nosso ministro, mas aqui o caso é mesmo concreto. Na prática, neste caso, não se está a falar de sectores mas sim de trabalhadores. Segundo sei só os trabalhadores auferem subsídios de férias e natal, para as empresas e instituições os subsídios são outros. Segundo a posição pública do nosso ministro, sou levado a colocar a seguinte questão: Então agora os cortes já são injustos se forem para todos?! Vem-me logo à memória uma expressão muito utilizada: “com os males alheios posso eu bem”. Faltará empatia e inteligência social quando estas expressões conduzem a nossa vida? Não é preciso ser-se um génio do social para saber que os males alheios, mais tarde ou mais cedo, direta ou indiretamente, acabam por nos bater à porta. Pobre Estado este que se baseia no “tu” e no “eu” em oposição ao “nós” - é no mínimo um Estado de contrassenso.
Então não somos todos nós o próprio Estado? Não usufruímos e contribuímos todos para a sua existência? São só os funcionários públicos que utilizam os sistemas púbicos de justiça, educação, saúde e todos os demais existentes?
Infelizmente temos tendência a assumir o coletivo somente quando isso nos traz vantagens, já nos outros casos não é bem assim... Isto demonstra bem a sociedade que temos e fazemos por perpetuar. Falta a empatia que nos permitiria pensar e fazer diferente.

Texto publicado em Julho de 2012 no Diário de Leiria e no Jornal Tinta Fresca

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Então também fico sem subsídio?

Parece que afinal o corte dos Subsídios de Férias e Natal para a função pública é inconstitucional. Se o era ou não só os especialistas o saberão, mas que nunca aparentou ser justo ou equitativo era evidente - legalismos à parte. O assunto do corte dos subsídios, quanto a mim, vai forçar todos os cidadãos à reflexão sobre a problemática em causa e as dificuldades - ou oportunidades como dizem alguns - daí decorrentes, especialmente as de âmbito social.
“Demonizou-se o funcionalismo público”, sem a tolerante capacidade para perceber as suas funções, características e limitações. Ou seja, trabalhar no sector público tende a ser menos valorizado do que trabalhar no sector privado. Então, mas como pode ser pouco importante quem trabalha para cuidar do que é de todos? Culpa das generalizações negativas? Há muito que deveríamos ter tentando compreender a diferença, dando tratamento adequado e devidamente conjugado com uma igualdade que respeite o particular. Sem isso, todos perdemos e ficamos longe de melhorar ou evoluir.
Agora, com a ilegalidade do corte aos funcionários públicos, o Governo, de modo a cumprir a execução orçamental, tem várias possíveis opções: ou alarga a medida a todos os trabalhadores (do sector público e privado os cortes), ou cria novo mecanismo de sobre taxação/coleta de receitas.
O corte nos vencimentos é catastrófico - se a economia falasse penso que não diria melhor. Mas cortar apenas em alguns é igualmente catastrófico do ponto de vista das relações sociais. A pouca empatia social que existe em Portugal corre o risco de desaparecer de facto.
Apesar de tudo, com a possibilidade de todos perderem parte do seu vencimento, provavelmente, as dificuldades alheias passam a ser mais facilmente compreendidas, pois passam a ser generalizadas. Apesar de tudo cria-se empatia social, não por reforço e desenvolvimento cívico e cooperativo mas pela força do corte, da repressão e da imposição que leva à incompreensão. Os fins podem não justificar os modos e os meios.
O corte dos subsídios pode ser geral, para mal de todos nós! Se isso acontecer é certo que ninguém ficara indiferente às dificuldades que só alguns agora já sentem. Será que aprenderemos a colocarmo-nos no lugar dos outros? Talvez sim, pois passámos a ser todos tendencialmente iguais, ou talvez não…

Texto publicado em Julho de 2012 no Diário de Leiria e no Jornal Tinta Fresca

terça-feira, 8 de maio de 2012

Parqueamento Pago – O conflito de Interesses Coletivos e Particulares


Num país que nunca se habituou a planear, nem sempre é fácil demonstrar a mais-valia de um ordenamento pensado. Quando esses planos chocam diretamente com alguns interesses particulares, que por vezes até parecem ser do interesse geral, e se a isso  juntarmos a noção coletiva de que as autoridades públicas oprimem mais que defendem, o caldo pode entornar! Pelo menos o caldo pode azedar e fazer inquinar a opinião pública, condicionando o relacionamento e compreensão entres poderes públicos e populações.
Em leiria, como em qualquer outro local onde se façam restrições a hábitos enraizados, mesmo que essas quase tradições tenham efeitos negativos ou perversos, a mudança não deve ser feita sem cuidados especiais. Nas sociedades democráticas as cidadãs e cidadãos devem ter direito à sua opinião, e ninguém tem de ser especialista em tudo. No entanto, há o dever ético/cívico de cada um tentar estar o mais informado possível. Essa procura deve partir dos próprios cidadãos e ser também uma demanda dos poderes públicos. É preciso informar e consciencializar, sem isso dificilmente teremos a harmonia e empatia social que precisamos para as construções coletivas.


Apesar do senso comum dizer que o estacionamento tarifado é injusto, a técnica e o saber específico podem dizer o contrário. Em meio urbano é imperativo ordenar e coordenar o parqueamento automóvel com os sistemas de transportes, garantido mobilidade e acesso. O espaço disponível para estacionar nos centros urbanos é um bem escasso, é algo que exige uma gestão racional. O custo dos solos urbanos centrais até agora tem-se refletido quase só no preço dos imóveis, mas será impossível que não passe a ser refletido também nos transportes, nomeadamente no parqueamento. Como todos sabemos, 10 m2 - o espaço que ocupa em média um automóvel – é algo caro, mesmo que seja para usar temporariamente. Não é por acaso que se vive cada vez mais nas periferias.
 A opção pelo pagamento serve para garantir o uso mais racional do parqueamento enquanto bem, evitando que seja monopolizado e utilizado em excesso por alguns. O próprio uso indevido do estacionamento pode condicionar todo o sistema de tráfego. Com veículos estacionados sem critério pode ser impossível circular nas ruas, e nessa luta são sempre os peões e os cidadãos de mobilidade mais condicionada que saem a perder. Existem outras opções para o controlo do estacionamento sem se recorrer ao pagamento, no entanto seriam economicamente insustentáveis. Para além disso o parqueamento pago, com critérios e rigor, pode ser uma oportunidade de criar novos sistemas de transportes, mais eficazes e eficientes, e menos pesados para o ambiente. Tal é possível quando, por exemplo, as receitas do parqueamento servem para financiar sistemas de transporte coletivo e o incentivo ao uso dos modos suaves - andar a pé e bicicleta -, em sistema intermodais de transportes articulados com parqueamento de periferia gratuito ou de preço integrado com o próprio transporte público.
Será então que, com a devida informação e funcionamento dos esperados sistemas eficientes – sejam eles quais forem -, com os devidos custos e benefícios, não poderão algumas opiniões mudar?

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O positivismo e as festividades em extinção

Reclamar só pelo simples facto de o fazer, habitualmente e compreensivelmente – pois sem alternativas não há mudanças -, não serve de nada. Mas criticar, de um modo positivo e construtivo, por outro lado, faz todo o sentido: concretiza e eleva a cidadania e a participação cívica.
As dificuldades que o país atravessa são mais que evidentes, mesmo para quem não as note no seu dia-a-dia, os Media encarregam-se de nos fazer lembrar delas diariamente. Difíceis são os tempos presentes, por isso é normal que se veja o futuro de um modo mais acinzentado. No entanto, a tonalidade com que pintamos os dias vindouros depende do modo como queremos ou somos levados a ver a realidade – esse conceito por vezes tão subjetivo. A dita crise – jargão que de tão usado já quase nada significa para os portugueses – é uma consequência de medidas tomadas (ou não) no passado, sendo, na mesma medida, também o futuro condicionado pelas decisões que hoje tomamos, ou não fosse o passado desse futuro o nosso atual presente
Fonte:  http://contracrise.com/
Sim, precisamos de aumentar a produtividade, e há pelo menos dois caminhos para isso: pela quantidade ou pela qualidade. No imediato, a segunda opção – a da qualidade – exige maior investimento (a vários níveis), algo que está muito condicionado pela falta de financiamento disponível. Apesar disso, tal opção não pode ser abandonada, pois isso implicaria abdicar da evolução social e melhoria da qualidade de vida de quem trabalha, já para não falar da qualidade do produto do trabalho. No entanto, a curto prazo, dadas as limitações económicas e financeiras, provavelmente seremos obrigados a trilhar pelo aumento da produtividade através da quantidade daquilo que já se produz; daí ser defensável que tenhamos de dedicar mais horas ao trabalho. Até aqui tudo bem, mas nem sempre mais tempo de trabalho significa maior quantidade de produção associada, pois nas tarefas produtivas entram outros fatores, especialmente quando são as pessoas os “motores da produção”.
Nenhum trabalhador sem a devida motivação será verdadeiramente produtivo. Trabalhar, muitas vezes, horas e horas a fio não significa produzir muito. Precisamos é de produzir bem, e o mais possível com o mínimo de tempo, sem desperdícios e com real sustentabilidade. Para isso precisamos de cuidar da motivação, saúde mental e emocional dos trabalhadores. As pessoas têm de trabalhar, contribuindo para o crescimento da almejada produtividade, com otimismo e esperança no futuro, sentindo-se úteis e recompensadas por isso.
A responsabilidade de transmitir otimismo, cuidar da motivação e alegria dos cidadãos deveria ser abraçada por todos os Governos, pois disso dependerá a própria produtividade laboral, seja no sector público como no privado. Retirar feriados, dificultar celebrações e festividades (cívicas, laicas, ou até mesmo religiosas), que contribuem para alegrar o país (por exemplo o Carnaval), será um mau serviço à demanda por mais produtividade, apesar do aparente potencial bruto dessas medidas, já para não falar das perdas económicas associadas ao fim das próprias festividades. 
A economia tem de ser cada vez mais coadjuvada por medidas e políticas que assentem na psicologia positiva, até porque a economia não é tão racional como alguns a teorizam, tendo o lado emocional uma influência imensa e inquantificável!

Texto publicado no Jornal Tinta fresca em 11 de Fevereiro de 2012, no Diário de Leiria em 15 de Fevereiro de 2012 e parcialmente no semanário Região de Leiria em 10 de Fevereiro de 2012

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Ressuscitar o otimismo em inícios de novo ano!

Neste início de ano tenho notado algo de estranho em Portugal. Os portugueses nem sempre dedicam muita atenção e entusiasmo aos cumprimentos e saudações formais e informais entre desconhecidos – por exemplo, nem sempre se diz “bom dia” quando se entra numa loja, e, nos pequenos centros urbanos, já quase ninguém cumprimenta desconhecidos que passam pelo seu bairro. Não significa que sejamos “mal-educados”, mas comparativamente com outros povos ficamos um bocado aquém da etiqueta do dia-a-dia, o que é um pouco estranho pois até somos um povo aberto, caloroso, amistoso e que sabe receber. Apesar disso, costumamos, pelo menos nos primeiros dias de um novo ano, aquando dos nossos formais ou informais cumprimentos, fazer votos e desejar “um bom ano” ao nosso interlocutor. Parece, no entanto, que nestes inícios de 2012 as pessoas estão ainda mais reticentes em fazer esses votos. Parece que para muitos é quase ofensivo ser demasiado otimista nas felicitações de “ano novo”. Isso parece-me preocupante, pois revela indícios de uma psicologia negativista nefasta que leva a abdicar do que nos pode fazer superar este ano 2012, que se avizinha difícil. Seguramente que as dificuldades económicas e financeiras virão, seguramente que o Estado terá menos condições para nos aliviar e auxiliar naquilo que deveriam ser as suas funções, seguramente que continuará a ser difícil encontrar emprego, seguramente que a pobreza e desigualdades sociais continuarão a crescer. Por tudo isso, há que não baixar os braços e o otimismo ativo passa a ser cada vez mais uma necessidade imperativa!

   Para além dos cumprimentos, até nos nossos noticiários e serviços de informação reina o pessimismo e o espirito catastrofista. Por exemplo, ao compararmos os noticiários portugueses com os franceses ficamos chocados. Por cá os nossos duram o dobro do tempo e estão repletos de notícias catastróficas – e, quando as nacionais não chegam, procuram-se no estrangeiro. Não me parece que a culpa seja dos jornalistas, parece-me mais que é também aqui o funcionamento descontrolado do mercado da informação em ação. O negativismo está demasiado bem cotado nos Mass Media como fonte de audiência, erradamente a meu ver pois todos estamos já fartos dessas abordagens! São cada vez mais os que desligam as televisões… Precisamos de inovar no modo como se transmite a informação. Todos temos de fazer o nosso papel, por isso ficamos também à espera que os Media possam continuar a informar-nos mas optando por uma maior ênfase otimista na transmissão da notícia.
 
   Já é velho o ditado “tristezas não pagam dívidas”, já o otimismo se não o tentarmos nunca saberemos se servirá ou contribuirá para minimizar os nosso problemas. Não podemos abdicar do que melhor nos resta: a esperança de dias melhores! Se não tentarmos ser otimistas, ainda que realistas e conscientes, não poderemos tirar o melhor partido do que poderá vir neste ano de 2012. Pois, tudo na vida tem sempre um lado positivo e por vezes as crises trazem também oportunidades!

(Texto publicado no Jornal Tinta Fresca em 8 de Janeiro de 2012, no Jornal de Leiria em 12 de Janeiro de 2012 e no Diário de Leiria em 12 de Janeiro de 2012)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Vão-se os homens, ficam as obras e os exemplos

Este início de ano foi, de algum modo, estranho. Sabemos que a morte faz uma parte inevitável e derradeiramente integrante da vida de todos nós, mas quando vemos algumas pessoas desaparecer (especialmente aquelas que consideramos mais importantes) é inevitável pensarmos no silêncio e vazio da morte. Desde o início deste 2012 desapareceu Leonel Costa, depois Mário Brites e recentemente José Ribeiro Vieira (referências que faço e lembro sem diminuir todos os outros, mais ou menos desconhecidos, que, tendo desaparecido também, mereçam ser recordados pelos seus feitos e obras). Neste que foi assumido por algumas teorias da conspiração como o fim do mundo, infelizmente o ano começou com o fim para destacados e importantes cidadãos da nossa cidade e região. Ficou Leiria mais pobre com estas perdas, com o desaparecimento destes homens empreendedores - em muitas e diversas áreas - e que pelo seu trabalho, iniciativa e atividades, a desenvolveram [a região].  

Desapareceram os homens mas ficam as obras, sendo que não ficará o silêncio e o vazio quando as vidas foram preenchidas e repletas de nobres feitos e atos - mesmo que desconhecidos e por vezes de dimensões difíceis de reconhecer à primeira vista. 
Penso que a melhor homenagem - a estes, e outros e outras, grandes cidadãos - que lhes devemos fazer é contribuir também, o mais que pudermos - individualmente e/ou em grupo -, para elevar a cidadania e desenvolver a nossa terra, e com isso o país. Sendo que desenvolvimento não será somente melhorar a economia ou "fazer dinheiro", mas sim também contribuirmos para o desenvolvimento de todas as nobres atividades humanas, à semelhança dos exemplos que bebemos destes ilustres desaparecidos de Leiria.

domingo, 27 de novembro de 2011

Para que serve uma Juventude Partidária?

Se a pergunta “para que serve um partido político?” tem cada vez mais pertinência será igualmente importante questionar sobre qual a razão de ser, de existirem, e para que servem as juventudes partidárias - as “jotas”.
Se os partidos políticos servem para fazer política em grupo, com indivíduos que partilham princípios, visões semelhantes e ideologias relacionadas com as práticas de governação conjunta que querem implementar, nas jotas o objetivo é também esse, mas não só. As juventudes partidárias, para além da atividade política que se espera que exerçam em representação e defesa dos jovens, servem também de espaços de experimentalismo político e aprendizagem cívica e política para os jovens. Será então nas “jotas” que os jovens experimentam a prática da política partidária, cientes da teoria da ideologia e dos princípios políticos associados a cada partido – ou pelo menos assim deveria ser.
Mas e se os jovens forem, logo desde o berço político, ensinados, pelo exemplo, a seguir as más praticas políticas? Apesar do seu potencial enquanto espaços de formação política e cívica, e se as “jotas” forem escolas de maus costumes políticos e até da reprovável conduta pessoal? É muito importante pensar na importância das “jotas”, pois muitos dos futuros políticos dos vários partidos por lá se formam politicamente. É importante dar os “bons exemplos” desde logo, ensinar aos jovens das juventudes partidárias que a política serve para servirem e não para se servirem, que a atividade política deve ser um modo de exercício da cidadania, não o único meio de a fazerem e muito menos como opção de emprego para toda a vida. É importante cultivar a independência do cidadão político – especialmente do jovem político -, de que será tanto melhor cidadão quanto melhor for: a sua formação e percurso profissional; a sua atividade cívica e de voluntariado em prol da sua comunidade; quanto tiver conquistado pelos seus méritos e capacidades, sem favorecimentos e favores de cor.
Tem de acabar o hábito de transformar as juventudes partidárias em distribuidores de brindes de campanha e abanadores de bandeiras. O futuro da nossa sociedade não se constrói com isso, e nem sequer a atividade política útil e consequente.
Os partidos são os modos preferenciais – para não dizer únicos da atualidade, apesar de soprarem ventos de mudança – para se fazer política consequente (não existe nenhuma democracia sem partidos políticos). A qualidade dos partidos depende também do papel das juventudes partidárias a eles associadas, especialmente para a renovação com novos membros e ideias novas e inovadoras, e até - se calhar mais importante que tudo - pela necessidade imperativa de aproximar mais os jovens da política. No entanto, se alguns dos maus exemplos políticos oriundos dos partidos começarem desde cedo a ser replicados nas camadas das suas “jotas”, muito dificilmente teremos melhor política e melhores atores políticos no futuro.

(Texto publicado no jornal Tinta Fresca em 21 de Novembro de 2011 e no Diário de Leiria em 15 de Novembro de 2011)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Política da terra queimada – o caso da venda do Estádio Municipal de Leiria

Enquanto jovem que ainda sou, e Leiriense que sempre serei, sinto-me lesado. As recentes notícias da impossibilidade da venda do Estádio Municipal, que permitiria aliviar a asfixia a que está sujeito o nosso município, devem, no mínimo, preocupar os Leirienses. Enquanto jovem, eu e os/as da minha geração, vemos cada vez mais o nosso futuro hipotecado. Os custos diários de manutenção, da infraestrutura e principalmente da própria dívida, roubam-nos os fundos que deveriam ser utilizados para outros fins – consta que o custo diário é de mais de 8000€ ao dia (que afinal até são mais). Não seria preferível usar desse dinheiro para investimento e prestação de serviços reais aos munícipes, pois, afinal, quem utiliza o Estádio? Mesmo sendo utilizado e servindo alguns Leirienses, será que esse serviço justifica os custos? Na minha opinião não! Ou a realidade dos usos e atividades no Estádio Municipal mudam - implicando isso ainda mais investimento e gastos (com dinheiros que não existem) - ou este será mais um elefante branco, mais um presente inútil e insustentável a legar às gerações vindouras.

Fonte: Blogue http://desartistico.blogspot.com/, da autoria de Micael Sousa

Os jovens de Leiria pagam hoje, em parte, mas pagarão muito mais no futuro as várias faturas deste nosso Estádio - um dos reflexos de erros de anteriores gestões públicas. Recentemente a oportunidade de vender o Estádio poderia ter resolvido isso, poder-se-ia ter saldado uma pesada herança. Mas os entraves, especialmente por quem deveria contribuir também para a resolução do problema, logo surgiram. Faltou capacidade democrática de deixar quezílias partidárias e pessoais de lado para remediar erros do passado. É de lamentar que isso não se tenha conseguido, nós leirienses merecíamos outras resoluções! São estes e outros casos que contribuem para afastar os cidadãos da política e dos partidos, pois vêm que o bem-comum - o principal objectivo que deveria nortear as lides políticas - tende a ser remetido para segundo plano. Alguém disse - e com razão - “é a política da terra queimada”: tudo se faz para ter vantagem na guerra da política, independentemente do que se queime ou de quem saia queimado destas lutas inúteis, e por vezes fratricidas. Ainda mais grave são os efeitos que este tipo de atitudes tem nos mais jovens, que vêm estes maus exemplos como o “modo normal de fazer política”. Sem dúvida que isso condiciona, negativamente, a formação que se dá aos mais jovens do ponto de vista cívico e político.
Para além de nos hipotecarem pela via económica, hipotecam a capacidade de acreditarmos nos políticos e suas políticas, levando a que muitos jovens – muitos deles íntegros e competentes - se queiram afastar o máximo da nobre arte de governar as sociedades! Assim como nos governaremos, democraticamente por cidadãos e cidadãs conscientes dos seus deveres cívicos e políticos, no futuro?

(Texto publicado no Tinta fresca em 30 de Outubro de 2011, no Diário de Leiria em 2 de Novembro de 2011 e no Jornal de Leiria em 3 de Novembro de 2011)
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Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





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