Existem muitas teorias para explicar a ausência de mais participação cívica e política por parte dos cidadãos. Se antigamente era por falta de informação ou conhecimentos, ou até mesmo por ausência de liberdade, hoje não é bem assim. Com isto não significa que todas as pessoas estejam informadas de tudo e preparadas para todas as possíveis formas de participação que podem assumir. Por outro lado, significa que, havendo vontade e fazendo um esforço para saber como proceder, é possível ter uma atitude mais ativa no que toca aos assuntos da governação coletiva, que é como quem diz: Política.
Esperava-se que com a liberdade, generalização de níveis cada vez maiores de educação e acesso à informação, as participações cívicas e políticas aumentassem, e com isso a democracia prosperasse em formas cada vez mais participadas e diretas. Na prática isso não tem sido bem assim. As mobilizações têm ocorrido, mas mais por causas pontuais, associadas a tendências e novidades, ou por resposta a sentimentos de injustiça, habitualmente por revolta. Existe muito menos ativismo positivo, no sentido em contribuir para melhorar e aprofundar o modo como as sociedades funcionam. Talvez isto faça parte da natureza humana, tal como faz parte da natureza da dita classe política a sua pouca vontade em mudar o paradigma, pois seria abdicarem do seu poder, mesmo que seja um poder de aparências.
Típico dos nossos tempos é a constante concorrência de atividades. Nunca tivemos tantos meios para poupar tempo nas mais diversas tarefas e ao mesmo tempo menos tempo para tudo o queríamos fazer. A concorrência é imensa, crescendo o rol de atividades relacionadas com lazer e diversão. Vivemos em sociedades hedonistas e consumistas em que os indivíduos procuram o seu prazer individual. Existe oferta para todos os tipos. Por isso temos incentivos a procurar e seguir apenas aquilo apreciamos, dificilmente optando por coisas que nos incomodam. Parece mais ou menos óbvio.
Participar na vida cívica, em debates, discussões, manifestações, em associações, processos de colaboração e até em eleições tende a ser pouco divertido, pelo menos para a esmagadora maioria das pessoas. Os processos de consulta pública são burocráticos, cheios de papelada técnica para ler e tentar compreender. Os debates, por falta de moderação e de design dos processos, levam a sessões longas e tediosas, onde ódios são destilados e o confronto afasta os menos beligerantes. As eleições são dominadas por partidos que obedecem a lógicas de poder instituído, onde há muito pouco espaço para inovar e abertura a novos atores. Parece que tudo é transformado em aborrecimento, quando o mundo do consumo, físico e imaterial, está cheio de alternativas cativantes. Por isso optamos por consumir.
A solução não é simples, apesar de óbvia, partindo do princípio que queremos uma democracia participativa. Por isso há que tornar a cidadania ativa mais interessante, mais fácil e mais divertida. Trata-se de uma revolução, mas que não faz correr sangue, quanto muito umas lagrimas de riso.
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