terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Sustentabilidade urbana: Aprender com o exemplo do mercado de La Varenne

Sempre que vou a Paris visitar familiares há um mercado que visito religiosamente. Costumo ir várias vezes por ano ao mercado de La Varenne, que fica em de Saint-Maur-des-Fossés, parte da área metropolitana de Paris e cidade geminada com Leiria, mais ou menos com a mesma população urbana que Leiria.

A estrutura do mercado é muito simples, pouco mais do que uma estrutura metálica e de vidro que protege da chuva. Mas nem por isso menos digno e atrativo, apesar do clima ser muito mais agreste no inverno que pela nossa terra. O mercado enche, especialmente ao domingo de manhã, com pessoas de toda a envolvente urbana. 

Ao darmos uma volta pelo mercado ficamos a perceber porquê. As bancas são muito apelativas. Mesmo os produtos mais simples, os hortofrutícolas por exemplo, têm ótimo aspeto e estão dispostos e ordenados de modo cativante. Dá vontade de comprar tudo. Por outro lado, existe uma oferta grande de produtos diferenciados, especialmente de comida pronta, quer de petiscos originais quer de refeições completas típicas. Não faltam também as carnes, peixes e mariscos. Há bancas de queijos e enchidos com uma grande variedade. As flores também marcam presença, adornando e sugerindo ofertas que reforçam laços afetivos. Existem bancas com produtos típicos de vários países e até de produtos biológicos. 

Mas não pensem que isto é um mercado gourmet, feito para elites ou pessoas endinheiradas. O mercado tem produtos para todos os preços e existe para servir a população local. Não é o único mercado da cidade. Existem outros, cada um pensado para cada zona urbana. 

Existem várias razões para o sucesso destes mercados em toda a zona urbana de Paris. Os produtos são de qualidade, diferenciados e beneficiam do envolvimento de profissionais jovens e abertos à inovação. A qualidade do mercado não tem relação direta com o edifício, mas com os produtos, a localização urbana e proximidade aos consumidores. Ir ao mercado é um ato social e de passeio, pois a esmagadora maioria das pessoas deslocam-se a pé. Isto só é possível porque resulta de um processo de planeamento urbano, em que cada zona da cidade tem o seu próprio mercado de proximidade, com negócios direcionados para as necessidades locais. A proximidade incentiva, tal como a qualidade da envolvente, dos jardins, das infraestruturas públicas e das lojas de rua que também beneficiam com os movimentos de pessoas que andam pelas ruas. O efeito do transporte público é evidente, pois há sempre autocarros a passar e o metro fica bem perto. E a concorrência com os supermercados e hipermercados não condiciona o mercado, pois existem alguns mesmo ao lado, abertos à mesma hora. São complementos porque os produtos e a experiência que oferecem não são os mesmos.  

Este é um exemplo de sustentabilidade urbana, porque este mercado reforça a produção local, incentiva o surgimento de novos produtos, reforça os laços sociais da comunidade, não querer infraestruturas dispendiosas para funcionar enquanto evita o uso dos automóveis e sugere hábitos saudáveis.

Texto publicado no Diário de Leiria

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Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





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