terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Alterações climáticas e as catástrofes de outubro em Leiria

Quem esteja minimamente atento já ouviu muitas informações sobre as alterações climáticas. A possibilidade transformou-se em certeza e as provas estão por todo o lado. Infelizmente, em outubro de 2017 e outubro de 2018, sentimos isto na pele na nossa região. 

Se no ano passado a baixa humidade, elevada temperatura e vento moderado criavam as condições propícias para a deflagração e avanço de fogos violentos incontroláveis, neste outubro os efeitos climáticos geraram outras catástrofes. Rajadas de ventos além da centena de quilómetros por hora, dignas de comparação com os furacões que nos chegam pelos noticiários de terras distantes, deixaram rastos de destruição na região de Leiria. Os danos ainda estão a ser contabilizados, mas sabemos que são enormes para já.

Nada disto é fruto do acaso. As estações estão instáveis. As mudanças são súbitas e os eventos climáticos extremos, mesmo em países como o nosso, onde estas ocorrências eram raras e as estações previsíveis. Estes perigos obrigam a planos de contingência e adaptação para lidar com as catástrofes cada vez mais prováveis. Os desafios são imensos. O território está ocupado, nem sempre da forma mais adequada. Falta ordenamento e planeamento para a nova realidade a que vamos estar sujeitos. Os próprios sistemas construtivos, em zonas mais sensíveis, provaram não ser adequados. Mas será que estamos preparados para abdicar de algumas coisas para melhor nos prepararmos para o futuro? 

Se os cientistas nos avisavam há anos para a insustentabilidade do nosso comportamento porque fizemos tão pouco para mudar e evitar as consequências? A razão prende-se com o sistema económico, social e cultural vigente, assente no consumismo e individualismo. Dificilmente alguém irá abdicar do seu direito ao consumo para minimizar o somatório dos efeitos e todos. Ainda hoje temos imensa relutância em abdicar do uso excessivo dos automóveis, de consumir bens alimentares de elevada pegada ecológica, de abusar de outros consumos evitáveis em alternativa a opções menos impactantes. Continuamos a viajar demasiado, a gastar águas e eletricidade de forma desregrada. Participamos nos ciclos intensivos de consumo de bens descartáveis. Não promovemos os consumos de curta distância, de produtos endógenos à nossa área territorial de proximidade. Não estamos preparados para fazer decrescer o nosso consumo, porque no fundo toda a economia assenta em princípios contrários a isso, em que o crescimento é um bom sinal. O consumo elevado chega a ser também uma demonstração de estatuto social. A tecnologia disponível ainda não se implementou de forma a manter o nível de consumo sustentável, e essa não parece ser a prioridade. Somos egoístas, mas vamos sofrer as consequências.

Será que vamos continuar a ficar chocados e alarmados com as catástrofes sem mudarmos comportamentos? O ponto de não retorno está quase aí, se é que não passou já. Como espécie temos a capacidade de nos adaptarmos para sobreviver. A grande questão será se essa adaptação será à força se por opção própria?

Texto publicado no Diário de Leiria

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