quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Para quando uma ludoteca pública de jogos na nossa biblioteca municipal?

Os livros continuam a ser caros face ao poder de compra dos portugueses. Uma das opções para conseguir poupar e manter hábitos de leitura consiste em recorrer às bibliotecas públicas. As bibliotecas podem não ter exatamente tudo o que procuramos, mas se tiverem o mínimo de qualidade e investimento, podem ter bastante, algo muito próximo do que desejamos. No entanto, esses espaços públicos não são meros depósitos de livros. Neles devem haver espaços de apoio ao leitor, recursos humanos que incentivem e apoiem os leitores, mas também outras valências. As bibliotecas têm-se transformado em espaços de cultura acessível. Muitas têm espaços para as crianças brincarem, espaços de lazer, cafetarias, salas de exposições, possibilidade de ver filmes, ouvir musica, entre outras coisas. A biblioteca Afonso Lopes Vieira, a nossa biblioteca pública em Leiria, não é exceção.

Mais para o centro e norte da europa existe algo que tem tornado as bibliotecas ainda mais animadas e frequentadas. Algumas têm ludotecas em que se pode utilizar e requisitar gratuitamente jogos de tabuleiro, podendo aceder aos títulos mais recentes, àqueles que chamamos “jogos de tabuleiro modernos”, fruto de uma industria criativa, sustentável e inovadora. Estes jogos não são baratos, custando várias vezes o preço de um livro. Não aconselho ninguém a comprar sem experimentar primeiro e perceber um pouco da variedade que existe. Nessas bibliotecas as pessoas podem experimentar e partilhar os jogos, reutilizando, o que evita consumos desnecessários. Nelas podem experimentar e testar, com colaboradores informados para auxiliar, tal como fazem com os livros.

Um serviço desta natureza numa biblioteca em Leiria seria valiosíssimo. Estes jogos são formas de cultura, pois geram dinâmicas importantes entre os jogadores, disseminando conhecimento, incentivando a comunicação e sociabilização. São enquadrados em temas e contextos, servindo para comunicar através do ato fascinante de jogar, o que se torna divertido e diferenciador, sem muitas alternativas que possam competir com isso. Estes jogos são um incentivo aos novos criadores das mecânicas conceptuais, investigadores que têm de estudar os temas associados aos jogos de modo a criarem uma abstração coerente, mas também para designers gráficos e de modelação. Um exemplo é o jogo “Lisboa” de Vital Lacerda. Nesse jogo os jogadores competem para contribuir para a reconstrução da capital portuguesa depois do terramoto de 1755. Para isso têm de perceber como funciona o comércio na época, o papel da igreja. Saber quais os poderes dos líderes do estado absoluto. Decidir onde construir os edifícios públicos no novo desenho urbano da cidade, que tipo de lojas incentivar a abrir e que bens produzir. Este é apenas um exemplo. Há muitos outros. 

Ter em Leiria uma biblioteca com estas valências teria um potencial único, especialmente porque estes jogos também poderiam ser utilizados pelas escolas como ferramentas de apoio educativo. Esta ideia não é difícil de implementar, basta querer.

Texto publicado no Diário de Leiria

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Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





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