Com as novas medidas de austeridade não há hoje português indiferente aos que nos governam. Pelo menos, no final do mês, quando sobressair o corte na folha de vencimento - para quem a tiver -, há garantia de um mau estar coletivo, de tendencial revolta, para com a ação dos dirigentes políticos.
Pensando nas medidas recentemente anunciadas propriamente ditas, podemos fazer várias leituras políticas mais conceptuais. Há várias tendências políticas – para não lhes chamar “ideologias”, pois isso intimida muito boa gente – com soluções diferentes para o caso dos défices das contas públicas e para a crise. Haverá quem defenda o aumento das receitas e quem defenda a redução da despesa, ou então um misto ponderado de ambas as alternativas – pessoalmente, aquela que me parece mais equilibrada e adequada, mas que exige mais esforço informativo, organizativo e estratégico. Teorizando ao de leve, é difícil de enquadrar politicamente a opção deste Governo. Digo deste especificamente pois todos sabemos que se trata de uma Governo de Direita que defende uma visão neoliberal de “Estado Mínimo” - menos intervenção, menos sector empresarial público, menos peso e responsabilidade pública na saúde, educação e ação social, e menos outras mais coisas importantes -, acompanhado da redução da carga fiscal. Depois das notícias que ouvirmos – e parece que mais ainda virão -, é difícil de encaixar a teoria com a prática governativa. É mesmo chocante! Foi o próprio atual Primeiro-ministro (PM) que disse, em tempos passados, que a economia funcionaria muito melhor se estivesse menos restringida por impostos e burocracias, com um estado “ágil e leve” – a velha teoria liberal da “mão invisível” de Smith que autorregularia e salvaguardaria a eficiência os sistemas económico-sociais. Por mais que custe a admitir, mesmo que o Governo quisesse seguir essas políticas de fundo – novamente uso este termo para evitar o recurso à temida “ideologia” – a Troika provavelmente não deixaria. No entanto, se recuarmos pouco mais de um ano, veríamos o atual PM a forçar o PM da altura, por falta de apoio parlamentar ao Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) 4, a criar as condições para que a tal Troika tomasse conta do país.
Então afinal a culpa é de quem? Dos que estiveram, dos que estão ou dos que virão? A culpa seguramente é pelo menos dos dois primeiros, sendo a percentagem de cada um discutível. O que não é admissível é desculparmo-nos também da nossa responsabilidade cívica. É nosso direito e dever contribuir para a governação política, nem que seja demonstrando descontentamento, alternativas e que queremos outras soluções!
Texto publicado no Jornal Tinta Fresca
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