segunda-feira, 23 de novembro de 2020

A base para o sucesso da Alta-velocidade em Leiria é o sistema de transportes local

 Tudo indica que em Leiria vamos ter acesso a comboios de alta velocidade. Poder chegar a Lisboa em pouco mais de meia-hora vai mudar o panorama local. No entanto, apesar da velocidade prometida, isto não será obtido automaticamente. De certeza que a futura estação de comboios não será no centro da cidade. Mesmo se fosse, não nos podemos esquecer que cerca de metade da população vive na periferia e nas zonas mais rurais. Estação não irá servir apenas o concelho de Leiria. O que significa que, muito provavelmente, chegar até à futura estação vai ser um problema. Embora, nada de irresolúvel. 

Uma futura linha de alta velocidade vai levar-nos do ponto A ao ponto B, mas até chegarmos a estes pontos temos de nos deslocar também. Usar apenas o automóvel para chegar a A seria estranho, uma vez que o dito comboio serve para reduzir a nossa dependência face ao automóvel, e para nos deslocarmos de modo mais comodo e sustentável até às grandes metrópoles portuguesas. Por isso, para que a alta velocidade se transforme realmente em redução de tempo de deslocação entre Leiria e o exterior urge ter um verdadeiro sistema de transportes, de preferência, intermodal. 

Vamos precisar de usar dos vários modos de transportes, cada um adequado a cada tipo de trajeto, para acedermos à futura estação. Uma rede de transportes públicos local, articulada com os concelhos vizinhos, realmente funcional. Conjugação com o acesso automóvel às zonas que não possam ser servidas de modo eficiente pelo transporte público. Uma ligação a uma rede ciclável que tem de ser conexa e não apenas composta por pequenos troços sem ligação entre si. Precisamos de conjugar as tecnologias de informação e comunicação que nos permitem partilhar veículos e sistemas automáticos de mobilidade. Pode parecer estranho, mas precisamos também de condições para andar a pé porque, no último trajeto, somos sempre peões, quer queiramos quer não.

Para além disto tudo temos a questão do preço. Ir de comboio vai ter de ser economicamente competitivo, ser mais vantajoso do que pegar no automóvel e seguir pela autoestrada, embora neste último modo nem sempre se contabilizem todos os custos associados ao uso do carro. Mas para chegar ao tal comboio de alta velocidade teremos de fazer o percurso de acesso, que será um custo adicional ao bilhete regular. 

Surge também a questão da intenção de transformar a base aérea de Monte Real em aeroporto civil. Com um acesso à alta velocidade, ligação à linha do Norte e uma reabilitação da linha do Oeste, teríamos um forte contributo para o sistema de acesso local e regional ao aeroporto. 

Tudo isto vai exigir avultados investimentos, tal como uma capacidade local de planear um sistema de transportes resiliente e mais complexo, que tem forçosamente de ser articulado com as escalas superiores, regional e nacional. Vai exigir que o processo seja participado e colaborativo, incluídos os atores locais e as populações, pois se assim não for o falhanço será garantido. 


Texto publicado no Diário de Leiria.


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Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





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