segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Uma evitável Democracia desinformada

Acreditava-se que quando as sociedades fossem democráticas poderíamos ter espaço de igualdade e liberdade, que poderíamos transitar de um sistema tendencialmente representativo para modelos onde os cidadãos se envolvessem mais nos assuntos cívicos. Esperava-se que a transição fosse gradual e progressivamente geradora de governos onde todos os cidadãos pudessem ser integrados, pois todos teriam o mínimo de competências e discernimento para tal. Esperava-se que com tudo isso, com a melhoria das condições de vida gerais e da elevação dos níveis de educação, uma sociedade mais justa emergisse. Era mais ou menos assim a utopia democrática.

Estaremos apenas a viver um momento de crise antes que os sistemas democráticos se aproximem destes objetivos ou estamos perante uma falência generalizada do modelo? Isto parece muito negativista, no entanto uma dose de realismo é necessária para construir o otimismo democrático que necessitamos. Chamam-se aos movimentos de manipulação política com sucesso eleitoral: populismos. Parece-me uma designação infeliz, pois parte-se do princípio de que a ignorância e o egoísmo são o caminho para a popularidade política entre as populações. Ou seja, de que a população só é mobilizável por emoções negativas, sem outras alternativas.

Sabemos que as emoções negativas são poderosos estimulantes para a ação política. Poucas foram as revoluções sem essa génese. Os jornais vendem mais quanto piores as notícias. Exemplos não faltam. No entanto tudo são construções sociais, que nos influenciam individualmente, mas que também podemos influenciar. É uma questão de consciência, vontade e ação. No entanto, caso nos esqueçamos, por ser algo intrínseco ao nosso modo de viver e pensar, vivemos uma sociedade consumista e hedonista. Onde consumimos por prazer e como forma de ser. São incontáveis as múltiplas formas que nos são proporcionadas para atingir o prazer. E isso tem sido uma forma de evitar, pelo menos nos países mais desenvolvidos economicamente, totalitarismos e extremismos. Mas a nossa sede por mais é insaciável e um mundo inteiro parece não chegar, tanto que não nos apercebemos que só temos mesmo um planeta. 

Então e não haverá esperança? Creio que sim ainda que não seja fácil. Parece-me que a solução terá de passar por um conjunto integrado e interligado de solução, adaptadas aos nossos tempos. Acusar as pessoas não surtirá efeito. Proporcionar novas formas de combater a ignorância sim. Aprender não tem de ser aborrecido. Assumir uma cidadania ativa também não. Há que conhecer aquilo que cativa as pessoas e usar essas técnicas e designs para outros fins, além do mero consumo e impulsionado pela simples razão de acumular capital. O consumo pode ser mais cultural, mais sustentável ainda que material e servir para acumular uma sabedoria rumo à tal utopia democrática. Temos de ultrapassar o limiar do tédio e do desagradável para a democracia não perecer, garantindo qualidade de vida geral. Sem isso, não há democracia que sobreviva.

 Nota: texto publicado n Diário de Leiria

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Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





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