segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Treinar, aprender e simular com jogos de tabuleiro

Na semana passada fui distinguido com prémio de formador do ano de 2019 pelo “Forma-te: Portal nacional dos formadores”, no VII encontro nacional de formadores que decorreu no Instituto Politécnico de Viseu. Trata-se de um prémio simbólico, mas que para mim foi imensamente importante. Ajudou-me a manter a sanidade mental, pois nos últimos 3 anos tenho dedicado esforços à inovação na aplicação de jogos de tabuleiro a contextos sérios. Gabarolices à parte, o objetivo desta introdução é para ajudar a fundamentar o que vem a seguir.

A aplicação de jogos à formação não é nada de novo. Quase todos os formadores recorrem a técnicas deste tipo para cativar e motivar formandos. Os professores desenvolvem múltiplos jogos para usar com os seus alunos. Estes esforços são meritórios e quem passa por estes processos de aprendizagem não esquece as experiências. Sabemos, através de vários estudos científicos, que a aprendizagem pela experimentação, pela manipulação de objetos, feitas em grupo e em atividades que geram prazer intrínseco são altamente impactantes e eficazes. Nada de novo também. É por isso que tantos formadores e professores aplicam jogos. Mas será que poderiam aplicar jogos melhores e ter ainda mais resultados? Eu tenho a certeza que sim.

Depois da 2.ª Guerra Mundial surgiram inúmeros jogos de tabuleiro de Hobby, diferentes daquilo que nos oferecem as marcas mais conhecidas, aqueles que vemos nas grandes lojas há décadas. Do hobby surgiram os jogos de guerra, depois os jogos narrativos e, por volta dos anos 80, vindos da Alemanha, surgiu um novo paradigma de jogos de tabuleiro. Estes novos jogos detinham um design cuidado, com simulações temáticas através de sistemas elegantes, tempos de jogo controlados e ausência de eliminação de jogadores. Ganhava quem fosse mais eficiente, resultando de interações que iam além dos jogos destrutivos de soma zero, em que para alguém ganhar algo o outro tinha de perder nessa proporção. Adultos e crianças poderiam jogar estes jogos. Assim foi e assim continua a ser na Alemanha e países das proximidades, onde o ato de jogar é considerado saudável, socialmente incentivado e a produção de jogos uma atividade cultural e intelectualmente respeitável. Esta influência inspirou outros criadores de muitos outros países. Geraram-se múltiplas influências e interações num mundo já globalizado. Hoje chamamos-lhes “jogos de tabuleiro modernos” e as novidades não param de surgir. 

Por isso não precisamos de inventar a roda. Podemos utilizar estes jogos. Podemos adaptar e conjugar vários. Foi isso que me fez receber o tal prémio que falei no início. Foi essa a inovação. Foi também essa a inspiração que me levou à investigação científica de aprofundamento do papel dos jogos como ferramentas de planeamento territorial colaborativo. Veremos quem ganha no fim desta aventura. A minha esperança é que sejamos todos, quando conseguirmos começar a colaborar em processos cívicos de participação, mais divertidos, para uma melhor gestão dos nossos territórios. 

Nota: texto publicado no Diário de Leiria

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