terça-feira, 18 de outubro de 2011

O Governo e as suas lições de ideologia política

Com o título que escolhi para estas minhas palavras opinativas provavelmente não despertei grande interesse em potenciais leitores. Afinal, com tantos casos sórdidos de políticos e suas políticas, quem afinal, para além dos académicos e próprios políticos, quer saber de ideologia política?
Provavelmente, preocupado com isso, o actual Governo parece querer dar verdadeiras lições de ideologia governativa aos portugueses. Se isso fosse um exercício pedagógico, capaz de reforçar a participação cívica, a tarefa seria louvável, pois não se pode ser um cidadão civicamente completo e activo sem estar atento e participar politicamente na sua sociedade. No entanto, os propósitos do Governo parecem ser outros, e o método pedagógico assente na política dos cifrões
Este Governo tem vindo lentamente a demonstrar as suas fortes convicções liberais de direita: do peso mínimo do Estado; da desvalorização do serviço público; da redução dos salários como desculpa para a necessária maior produtividade; da precariedade e falta de direitos no emprego; da economia liberalizada sem rédeas; das privatizações sem regra; etc. As preocupações sociais assumidas durante a campanha eleitoral cedo se esqueceram, e foi conseguido o prodígio nefasto de agravar ainda mais o programa da troika. É obra, má obra!
Agora alguns governantes, qual país “terceiro-mundista”, assumem que o valor pago pela mão-de-obra deve ser reduzido! Ir por essa via ainda nos afastará mais da Europa e do nível de vida e desenvolvimento que procuramos! Porque não inovar de facto e proporcionar aos trabalhadores e empresas as condições para produzirem mais? Como esperam estimular e incentivar a produção assim? Isto é de tal maneira incompreensível que até os defensores das ideologias económicas mais liberais consideram que “ganhar mais” contribui para maior motivação laboral e logo mais produtividade. Por cá, a demanda da eficiência tem passado sempre por cortar onde é mais fácil: nos salários. A opção mais difícil, e trabalhosa, de alterar os modelos de gestão, organização e produção parece ser sempre descurada. Olhando lá para fora, falta-nos a organização, a responsabilidade e a motivação. Capacidade de trabalho é coisa que demonstramos ter enquanto povo, vejam-se os casos dos emigrantes portugueses no estrangeiro. Este exemplo é constantemente utilizado mas parece que nunca é verdadeiramente entendido… para nosso mal…
Assim, de um modo indirecto, o Governo, pelas suas políticas erradas – na minha opinião – tem tido um papel positivo: ensinar como as políticas e ideologias da direita neoliberal (ou ultra-liberal) prejudicam quem vive do seu trabalho, especialmente aqueles que vivem do trabalho assalariado – no fundo quase todos nós.

(texto publicado no Jornal de Leiria em 13 de Outubro de 2011 e no Diário de Leiria em 17 de Outubro de 2011)

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