O projeto do Urbanwins em Leiria foi inovador em muitos aspetos, principalmente nos processos colaborativos, que são coisa rara por cá. Quando me refiro a processo colaborativos quero descrever aqueles em que a participação ocorre, mas em que o resultado desse envolvimento é um produto do grupo e não das individualidades, mais ou menos iluminadas. No fundo, estes processos não são novos, a novidade é gerarem medidas concretas e práticas.
O poder político tem medo destes processos, porque lhes retira função decisória. No entanto, querer ignorar este tipo de processos colaborativos é perigoso para quem quer fazer carreira política – seja lá o que isso for no futuro. Para manter o poder político vai ser necessário alinhar neste jogo. Reprimir estas inovações não será opção, pois, mais tarde ou mais cedo, os atores políticos e as conjunturas mudam. Hoje é possível, sem grande logística, reunir concentrações de poder transitório consideráveis. Na era da informação e da comunicação em tempo real, sem limitações territoriais, o controlo de um processo político e de mobilização coletiva rege-se por outras regras. As pessoas mobilizam-se se acharem que podem fazer a diferença e se sentirem injustiças, seja contra quem for. É uma questão de emotividade.
Mas os processos colaborativos não são simples. Há que ter a noção das suas limitações e modos de funcionamento. Apesar de tudo é preciso acompanhamento e mediação. Quando se trata de assuntos complexos é impossível evitar o acompanhamento técnico. Sem esse acompanhamento as dinâmicas só por acaso produzem algo de concreto. Os projetos colaborativos têm de gerar resultados, caso contrário descredibilizam-se. Foi isso que se evitou e que o projeto Urbanwins pretende trazer de novo, especialmente para Leiria.
No Urbanwins foram sendo desenvolvidas prioridades de atuação para o problema dos resíduos, com especial enfoque na mitigação da produção. Depois da contínua participação, debate, aprofundamento e melhoria das ações, nas múltiplas sessões do projeto, foi tomada a decisão conjunta de implementar 3 medidas concretas. No passo final a decisão foi tomada colaborativamente através de uma análise multicritério. Escolheu-se então implementar: um guia para a redução de resíduos alimentares; um regulamento para eventos sustentáveis; e fazer formação para a restauração. Mas isto só foi possível com a devida mediação e acompanhamento. Notamos então algumas restrições nos graus de liberdade que eventualmente se poderia atribuir a um processo colaborativo. É normal.
Por ter havido a devida mediação técnica podemos ter alguma segurança na capacidade de implementação das propostas feitas através do método colaborativo. Podemos ter a certeza que estas opções não surgiram num qualquer gabinete isolado, não foram fruto de uma única cabeça iluminada e não resultaram de uma mera votação passível de ser controlada ou manipulada por desinformação ou interesses ocultos estranhos à democracia. Este método é um bom exemplo prático para continuar a melhorar os processos democráticos, não acham?
Texto publicado no Diário de Leiria
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