domingo, 14 de novembro de 2010

Crise – uma oportunidade para atacar a democracia

As tensões sociais - ao nível das ideias - começam a crescer em Portugal: não por que viver em crise traga algo de novo a um povo com mais de 800 anos de histórias de crises, mas porque o pessimismo é uma realidade e porque expressões como “apertar o cinto” são usadas sem critério - por tudo e por nada - até a exaustão gerando assim pânico. Pânico esse, fundado ou infundado, que parece ser quase um “hobby” para alguns “especialistas e opinadores”. Se mal estamos, seguramente pior ficamos com o estado de desconfiança e temor que nos trazem todos os dias os videntes da desgraça – alguns bem profissionalizados, servindo poderes e fins obscuros. A opção para vencer a crise é o optimismo capaz de aumentar a confiança – no fundo, uma terapia de psicologia social virada para a economia! Apesar do optimismo ser fundamental, não tenhamos ilusões. Viver acima das nossas possibilidades, quer enquanto cidadãos individualmente quer enquanto Estado colectivamente, tem de acabar. Venha o Governo que vier, essa terá de ser a opção! Resta saber como deve ser conseguido isso - assunto que no momento já gera bastantes discussões e polémicas, havendo opiniões para todos os gostos e ideologias.
Mas gostaria de centrar estas minhas palavras num nocivo e bem conhecido subproduto das crises, num estado de espírito colectivo que coloca seriamente em risco a ideia da Democracia, especialmente perigoso em sociedades onde a participação cívica e cidadania activas dos actores sociais – no papel de cidadão – é pouco expressiva. Refiro-me ao perigo das opções anti-democráticas e até, arriscando-me a cair no exagero, daquelas com aspirações totalitárias e ditatoriais que colocam de lado o valor da multi-opinião. Digo isto porque já se conhecem movimentações, mesmo que não intencionais, nesse sentido, defendendo a ideia de que precisamos de recorrer a um qualquer génio clarividente – um quase super-herói - capaz de nos fazer sair desta crise. Para além de verdadeiros atentados à democracia, este tipo de propostas revelam a falta de hábitos e estrutura democrática de alguns cidadãos, pessoas que se vêm perdidas – compreensivelmente - e sem saber como usar o seu papel e o dos outros enquanto agentes de uma democracia que se quer participativa.
Somente com cidadãos, conscientes de que esta democracia só se revitaliza e pode funcionar com a sua participação, que se interessem pelos assuntos públicos e sociais podemos aspirar a sair da dita crise. Pois basta olhar para o passado e ver no que dá depositar esperanças em “Salvadores da Pátria”...

(texto publicado dia 27 de Outubro no Diário de Leiria)

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