Todos presenciamos ou ouvimos falar do estranho fenómeno meteorológico ocorrido no passado Domingo dia 8 de Agosto: fazia calor e caiu uma curta chuva fugaz. Mas mais surpreendente foi o efeito da dita chuva no parque automóvel nacional – não que a frota automóvel portuguesa não seja já por si só curiosa por ser das melhores da Europa. A chuva, ao contrário do que todos os proprietários e condutores esperavam – nos quais me incluo -, não desempenhou o seu normal e habitual papel de limpeza, muito pelo contrário, a chuva sujou ainda mais os veículos desprotegidos. Apesar de invulgar o fenómeno nada tem de misterioso ou metafísico, pois, não chovendo há muito tempo, as poeiras e partículas – chamadas de aerossóis – tendem a acumular-se na atmosfera (muitas delas transportadas por ventos desde o Norte de África), especialmente nesta época do ano. Para mais, devido aos incêndios que têm lavrado por terras Lusas a quantidade de material em suspensão na atmosfera era ainda mais abundante, e, como a chuva foi curta nem sequer se deu o tempo necessário para que se depositassem todas as poeiras acumuladas e caísse “chuva limpa”.
Tal como a chuva que cai e não limpa, hoje parece-me que vivemos também em Portugal um fenómeno social algo peculiar. Provavelmente este fenómeno nada tem de novo, provavelmente a sua visibilidade deve-se apenas os novos meios e modos de comunicação, acessíveis e de fácil utilização para a uma franja cada vez maior da população – sendo a Internet o mais preponderante -, e à crescente taxa de literacia da sociedade portuguesa. Por todo o Portugal, com a maior das facilidades, “precipitam” críticas e comentários de pessoas que até há bem pouco tempo não o podiam ou queriam fazer - um reflexo de uma jovem democracia que vai amadurecendo à medida que a discussão e debates cívicos se generalizam. Mas teremos a formação necessária para compreender e lidar com toda a informação que recebemos? Teremos os meios e autonomia para convertermos essa informação em acção? Teremos os hábitos e ferramentas de cidadania necessários? Com muita facilidade “precipitamos” criticas uns aos outros, ao país e a nós mesmos. Mas será que criticamos “bem”? Será que criticamos devidamente informados, fundamentando o acto de criticar com a devida predisposição para tornar as nossas próprias críticas fecundas de acções e resoluções?
Tal como estes aguaceiros de Agosto, tendencialmente criticamos a quente. Usualmente, à semelhança do que acontece com as nuvens espessas e as chuvas abundantes que delas advêm, só as criticas consistentes e na devida quantidade podem ter algum efeito positivo sobre o ambiente em que caem. Para evitar que a culpa destas ineficazes “precipitações” morra solteira podemos adoptar uma atitude “poligâmica” e casar todos [os Portugueses] com ela [a culpa]. Podemos fazer mais e melhores críticas, consistentes e a longo prazo, e evitar cair no marasmo do sofá logo que a nossa voz crítica se cala à espera que outros ouçam e atendam com reverência os nossos ditames. Agora que fiz também eu mais um critica – uma que me parece também vazia e precipitada - chega-me a vontade de voltar ao meu próprio divã, no qual permaneço meio sentado meio de pé olhando para a rua e esperando, tal como a maioria dos Portugueses, uma chuva que molhe e limpe.
Bem, lirismos à parte, tenho mesmo de me levantar e ir limpar o meu automóvel, porque, provavelmente até já sabem, há uns dias caiu uma chuva que em vez de lavar sujou.
Tal como estes aguaceiros de Agosto, tendencialmente criticamos a quente. Usualmente, à semelhança do que acontece com as nuvens espessas e as chuvas abundantes que delas advêm, só as criticas consistentes e na devida quantidade podem ter algum efeito positivo sobre o ambiente em que caem. Para evitar que a culpa destas ineficazes “precipitações” morra solteira podemos adoptar uma atitude “poligâmica” e casar todos [os Portugueses] com ela [a culpa]. Podemos fazer mais e melhores críticas, consistentes e a longo prazo, e evitar cair no marasmo do sofá logo que a nossa voz crítica se cala à espera que outros ouçam e atendam com reverência os nossos ditames. Agora que fiz também eu mais um critica – uma que me parece também vazia e precipitada - chega-me a vontade de voltar ao meu próprio divã, no qual permaneço meio sentado meio de pé olhando para a rua e esperando, tal como a maioria dos Portugueses, uma chuva que molhe e limpe.
Bem, lirismos à parte, tenho mesmo de me levantar e ir limpar o meu automóvel, porque, provavelmente até já sabem, há uns dias caiu uma chuva que em vez de lavar sujou.
(texto publicado no Diário de Leiria em 17 de Agosto de 2010 e no Região de Leiria em 20 de Agosto de 2010)
A analogia da "chuva que suja" com o "fenómeno social" está muito bem equiparada!
ResponderEliminarVejamos: a internet deu a muita gente possibilidade de se comunicarem ou, melhor, de se manifestarem perante as informações recebidas.
É assim, porque de uma outra forma, uma pessoa que não seja "convicta", é simplesmente acusada de ser incoerente, sem ideias, contraditória e sabe-se lá mais o quê!
Na sociedade actual, convivemos com pessoas diferentes de nós. Cada pessoa tem o seu ponto de vista, a sua mentalidade e o seu modo próprio de ajuizar os acontecimentos políticos e sociais.
Somos todos livres para pensar por conta própria, mas só temos valor se o fizermos na verdade. Recebemos informações por todo o lado, pelos jornais e revistas, pela televisão e a rádio, o que temos na Internet, ou ainda, por alguma pessoa que nos cruzamos na rua.
Tudo isto pode nos conduzir a uma certa "alienação" psicológica e espiritual, para uma pessoa que vive para as coisas imediatas.
O excesso de informação também pode ser outro grande impedimento para pensar. Vivemos na era dos meios de comunicação de massas. Recebemos uma grande quantidade de informação. Quem tenta aceder a toda a informação, quem não perde a nenhuma tertúlia televisiva, a nenhum comentário político, ou que se converta numa espécie de robot.
Não temos nem tempo, nem forças suficientes para assimilar toda a informação recebida.
Os conhecimentos da humanidade duplicam cada quatro anos. Será difícil para uma pessoa chegar a ter convições próprias, sem ter uma atitude distante em relação aos meios de informação.
"Mas será que criticamos "bem"?
Geralmente muito criticamos e pouco elogiamos. Por vezes denota-se, no nosso dia-a-dia, muitas críticas, mas pouco fazem, ou melhor, é mais fácil ser-se crítico, a que saibamos elogiar e a maior virtude que podemos ter é sabê-lo fazer; saber fazê-lo no momento exacto, saber dar a palavra, saber dar o reconforto, e valorizar tudo o que fazemos e assim o merecermos, um elogio de reconhecimento.
Aliás, criticar não é todo de mau, desde que o saibamos fazer, fazer de forma construtiva. desta forma é que podemos analisar o que de mau fazemos e corrigir em melhores aspectos.
Bem, o meu automóvel estava cheio de lama, ao sair de casa e ao deparar-me com ele, assustei-me. Pensei: "Não acredito no que vejo, das duas uma: ou puseram lama durante a noite no meu carro, ou deve ser um fenómeno atmosférico!" olhei para os outros carros que passavam e alguns estavam assim também.
Vim a saber depois pela TV que era um fenómeno atmosférico. Fiquei tranquila e fui logo lavá-lo. A chuva que caiu ainda fazia pior.
Lumena
A critica é essencial para uma cidadania activa. Mas não qualquer critica, aquela que precisamos é a crítica construtiva acompanhada de propostas de melhoria e abertura de espírito para admitir o nosso próprio erro, pois muitas vezes criticamos "mal".
ResponderEliminar