segunda-feira, 29 de março de 2010

Apesar de tudo, o Neoliberalismo vai ganhando força em Portugal

O maior partido da oposição tem um novo líder, mas aparentemente não foi só a liderança que mudou. Interpretando o que se foi transmitido, pelo actual líder desse mesmo partido, ao comum dos cidadãos durante a campanha eleitoral própria dessa estrutura partidária: pode-se concluir que há um fortalecimento das políticas neoliberais nessa estrutura partidária, sendo cada vez mais gritante o afastamento da para com a Social-democracia enquanto ideologia política. No entanto esta opção não surpreende, pois há muito que essa tendência se ia evidenciando, tornando-se num dos principais pontos de ruptura ideológica com o partido do Governo em funções. Este modelo, apelidado de neoliberal, semelhante ao praticado em países como os EUA, assenta no princípio da não intervenção do Estado na economia, ou seja, desresponsabilizando e retirando ao Estado os meios necessários para coordenar e controlar a economia, tornando-o incapaz de evitar crises económicas e sociais.
Pensemos então na actual crise financeira e económica mundial. O que nos permite constatar que foram estes modelos económicos permissivos que permitiram o actual estado de coisas. Chegamos assim facilmente à conclusão que, mesmo não sendo inteiramente culpa das políticas neoliberais, a intensidade e os impactos causados a nível mundial que esta crise provocou na vida das pessoas poderiam ter sido evitados se os estados tivessem maior capacidade de intervenção, salvaguardando a sua economia nacional e o bem-estar dos seus cidadãos. Assim sendo, enveredar pela opção neoliberal é sinónimo de risco constante, beneficiando apenas desse sistema os “especialistas”, capazes de grandes manobras financeiras e especulativas. Não pretendo dar qualquer lição de ciências políticas ou económicas (pois não tenho competências para tal), mas apenas chamar a atenção para estas questões e para o mal que pode advir em seguir esse tipo de políticas, já que são apontadas pelo maior partido da oposição como a salvação económica do país. Muito pelo contrário, essas orientações podem levar à nossa perdição, repercutindo-se negativamente, e com maior impacto, nas populações em geral, enquanto alguns investidores e especuladores são os únicos a beneficiar dessas políticas. Os grandes partidos nacionais divergem e distinguem-se cada vez mais nestas materiais. Sendo a actual liderança do maior partido da oposição prova disso mesmo, pois espelha a vontade e os ideais dos seus militantes. Não podiam estar mais longe da social-democracia e do Socialismo democrático.

Já que o tema tratado é o neoliberalismo sinto-me na obrigação de referir uma situação por mim presenciado que me pareceu caricata. Recentemente numa feira dedicada à juventude, ensino e formação profissional, realizada no distrito de Leiria, deparei-me com o stand de um dos partidos da esquerda mais contestatária e radical a oferecer propaganda política em troca de capital, ou seja, dinheiro! Sem comentários.

(Texto publicado dia 1 e 7 de Abril de 2010 no Diário de Leiria e no dia 6 de Maio no Jornal de Leiria)

5 comentários:

  1. O texto original tinha um pequeno lapso que me esqueci de emendar antes de enviar. Aqui fica o texto corrigido. As minhas desculpas ao Diário de Leiria que publicou o texto com a minha gralha.

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  2. Muito obrigado ao Diário de Leiria por ter voltado a publicar o texto já corrigido.

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  3. Exmo. Sr.

    Esquecer-se-á, na sua opinião que respeito, de um ponto importantíssimo. Não se contradiz quando de forma oculta, evidencia despojo pelas políticas neo-liberais de direita, e milita num partido que é responsável pela inoperacionalidade do controlo financeiro da banca? Em que ficamos?
    Um abraço.
    Alberto Sousa

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  4. Nem sempre as opções ou medidas de um determinado governo (nacional, em empresas publicas ou a nível local) são coincidentes com a opinião dos militantes do partido de origem desse mesmo governo.

    Parte-se do principio que há pluralidade e liberdade de opinião dentro dos próprios partidos. Há sempre muita discussão interna que é construtiva, sem represálias ou limitações da liberdade de expressão, isto acontece no partido que milito. Apesar do debate interno há sempre alguns valores comuns, a chamada ideologia, e essa continua viva e bem definida no meu partido, unindo os militantes e simpatizantes. Sendo o combate ao neoliberalismo selvagem um desses valores.

    Considerar como responsável pela inoperacionalidade bancária um partido, ainda por cima um que tem lutado pela sua regulamentação, é estar sem dúvida uma leitura errónea. Apesar da vontade de regulamentar o sistema, formam-se sempre interesses corporativos e pessoais, verdadeiras forças de bloqueio, que não são mais do que os reflexos de uma sociedade democracia, e ainda bem. Como ninguém é dono da verdade, estes entraves e conflito de interesses ajuda ao fortalecimento das ideias e obrigam a uma vontade forte e bem fundamentada de mudar.
    As mudanças que se pretendem não devem acontecer de um dia para o outro, ou então teríamos de defender o sistema revolucionário associado aos partidos de extrema esquerda. As mudanças e evoluções querem-se graduais, continuais e sustentáveis, defendendo sempre o processo democrático, tentando assim alcançar o objectivo principal que é o bem comum.

    Responsáveis são as pessoas e não os partidos, pois os partidos ficam, enquanto que militantes e dirigentes estão sempre a prazo. Não confundir responsabilidade partidária com responsabilidade pessoal ou de alguns grupos específicos que exercem o poder num determinado período de tempo.

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  5. “Para o PS, a economia de mercado funda-se na livre iniciativa e na pluralidade de iniciativas, havendo lugar para a iniciativa privada, a iniciativa pública e a iniciativa social; deve estar sujeita a uma regulação institucional adequada, cuja existência, independência e eficácia compete ao Estado garantir..."

    Este extracto, retirado da declaração de princípios do PS de 2007, creio que espelha muito bem a ideologia de grande parte dos militantes do Partido Socialista. Sendo apenas um mero espectador atento, consigo encontrar este denominador comum na grande maioria das politicas económicas de todos os governos PS (Soares, Guterres e Sócrates). Logicamente, houve falhas, algumas delas gravosas, mas passar daí a achar que o PS é o principal responsável pela "inoperacionalidade do controlo financeiro da banca" parece-me abusivo, até porque muitas das pessoas que dizem que o PS é o principal responsável têm brilhante raciocínio: A culpa é do Constâncio; Constâncio é do PS; Logo a culpa é do PS.

    No meu entender, essa operacionalidade tem muitos culpados, incluindo alguns do PS, mas acho muita graça quando partidos como o PSD e o CDS/PP se excluem dessas responsabilidades.

    Não tenho dúvidas que os problemas de rugulação dos bancos centrais se devem, maioritariamente a duas instituições: PPE - Partido Popular Europeu (onde se sentam PSD e CDS) que têm dominado a Europa neste século, e o Partido Republicano encabeçado pelo Sr. Bush.

    Enfim, entre o deve e o haver, vale e pena lembrar algumas coisas:
    Vale a pena lembrar que foi a falta de regulação e de regras que levou à crise.
    Vale a pena lembrar que quem dominava o mundo (pelo menos o ocidente) política e economicamente eram os partidos de Direita.
    Vale a pena lembrar que as instituições que provocaram isto ainda estão entre nós, e pasmem-se, continuam a ditar as regras como se nada se tivesse passado, refiro-me às agências de rating.
    Vale a pena lembrar, que a coisa ficou feia, vieram todos pedir aos estados.
    Vale a pena lembrar que toda a gente, incluindo os senhores da direita diziam a alto e bom som: "Temos que injectar dinheiro na economia para a salvar" então e o défice? "O défice resolve-se na retoma".
    Vale a pena lembrar que os senhores que disseram isso agora dizem: "esse malvado PS deixou o défice passar os 9%"
    Por fim, vale a pena lembrar que já foi o PS que corrigiu o défice que o governo PSD/CDS deixou.

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Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





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