Quando se aborda a possibilidade de passar a pagar estacionamento, a reação dos pagantes nunca é favorável, e só o será mediante uma profunda mudança, de várias ordens e a vários níveis. No nosso caso, essa mudança, que terá de acontecer ao nível dos hábitos de transporte, da perceção dos impactos do modo como nos deslocamos, e também do modo como as entidades públicas/gestoras dos sistemas de transportes atuam, será quase revolucionário! No entanto, será uma revolução - paradoxos à parte - que se terá de fazer gradualmente. O problema aqui não é, propriamente, só o do estacionamento, mas sim o do funcionamento de todo o sistema de transportes da cidade. Exigem-se soluções interrelacionadas, e não só uma medida isolada e desconexa.
A oferta de estacionamento, tal como existe nos centros urbanos, exige controlo e gestão. Deixar de intervir e controlar resultará no mau funcionamento de todo o sistema de transportes. Para além de ser caótico estacionar, os fluxos de tráfego seriam afetados e constrangidos. Passeios e outros espaços não destinados ao estacionamento de veículos seriam ocupados, condicionando a mobilidade de todos os restantes modos, e com isso a segurança de bens e pessoas – especialmente das pessoas. Tal como demonstram todos os estudos, também os impactes ambientais e efeitos para a saúde humana – coisa quase sempre esquecida – seriam potenciados.
Assim, a taxação será uma solução, por duas razões: permite gerir e controlar a utilização dos espaços, limitando abusos desse bem público; permite recolher fundos para investimento em sistemas de transportes e modos mais eficientes e sustentáveis.
Por isso Senhor Presidente está é a oportunidade para ir, gradualmente, criando um novo sistema de transportes em Leiria, pensado para o futuro. Mas, como já referi, para além de taxar será preciso investir!
As opções serão muitas e diversas. Não existe modelo absoluto infalível. O sistema terá de ser adequado e flexível para se adaptar à realidade de Leiria, defendendo a funcionalidade dos sistemas, os utilizadores, e especialmente os moradores com alternativas viáveis, pois esses serão os principais afetados.
Haverá tempo para fazer ajustes e criar as devidas alternativas, sendo que se deverão recolher o máximo de dados e ideias, especialmente junto de técnicos e especialistas, mas sempre sem esquecer as pessoas afetadas. Desse modo, aproveito a oportunidade que aqui tenho, para deixar algumas sugestões:
• Aumentar o número de trajetos e veículos do Mobilis (ou outros) para servir as zonas afetadas, devidamente coordenados com parques de estacionamento gratuitos na periferia.
• Ações de informação e sensibilização para a adoção de hábitos de mobilidade sustentáveis.
• Instalar sistemas de informação e gestão de tráfego que auxiliem os automobilistas nos seus trajetos e indiquem zonas de estacionamentos livres.
• Apoio aos modos suaves – andar a pé e de bicicleta -, com mobiliário urbano, ligações e pavimentos adequados.
• Construir silos de estacionamento, a baixo custo e inseridos no edificado das zonas afetadas, com bolsas para moradores e mais oferta de estacionamento pago.
• Intervir nas rodovias e arranjos exteriores das vias afetadas onde não ocorreram intervenções recentes, pois muitas ainda estão por otimizar a todos os níveis.
• Permitir, quando devidamente justificado, a aquisição, mediante pagamento, de um segundo cartão de estacionamento por fogo.
• Parcerias com o comércio e serviços de cada zona, de modo a garantir o investimento necessário para soluções adequadas e alternativas que respondam às necessidades de transporte e estacionamento.
As possibilidades são muitas, as sensibilidades também, como muitas e muitos afetados. Por isso, na minha opinião, acima de tudo é preciso capacidade para explicar, informar e deixar sempre alternativas como opção. Ir melhorando com gradualmente!
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