sábado, 26 de março de 2011

Depois da Manifestação urge tomar partido e partidos!

Parece que participaram muitas pessoas por todo o país nos protestos que, simbolicamente, pretendiam representar os de uma geração que está "à rasca". Até cá por Leiria, apesar de estarem a acontecer pelo menos mais dois eventos em simultâneo na mesma zona - mercado de artigos antigos e usados e a recriação do grande incêndio de 1811 -, compareceram bastantes jovens propositadamente para a manifestação.
Apesar de eu próprio não ter participado na manifestação, por não ver nela um propósito nem objectivo efectivos que pudessem acrescentar ou mudar algo de facto, considero positivo que esta geração, à qual pertenço, se manifeste e faça ouvir o seu desespero - que em muitos casos e bem real e justificado. Talvez isto seja a necessária centelha ou a ignição para uma maior participação e envolvimento desta geração na "coisa pública",  e para o perder da vergonha da tomada de atitudes políticas.
 Mas e depois da Manifestação? Morrerá essa proclamada "luta"?
Espero que não. Gostaria que estas e estes da minha geração não percam o ímpeto e possam fazer uma verdadeira mudança nesta nossa sociedade: participar activamente e intervir na sua comunidade em cooperação, com ideias e propostas, através de movimentos cívicos e partidos políticos. Seguramente que teríamos mais e melhores movimentos e partidos políticos se os níveis de participação no seu seio aumentassem, especialmente por parte dos jovens. Isso sim seria uma verdadeira inovação, até mesmo revolução! Se houve a coragem para reivindicar na praça pública aquilo que consideravam justo, espero que tenham, finalmente, ainda mais coragem para deixar alguns preconceitos de parte, especialmente o preconceito e atitudes negativas face à política. Quem sabe se este 12 de Março de 2011 poderá ser o iniciar de uma epifania colectiva geracional: a urgência para intervir politicamente de um modo activo. Pois, muitos dos que apelavam à adesão à manifestação apelavam também à tomada de posição ou posições, em conjunto por causas e valores, ou seja, apelavam a tomar de partido ou partidos. Seria isso, essa relação, que esta minha geração necessitava para perceber que o concretizar da mudança, que defendeu dia 12, só se pode dar através do seu contributo para renovar e fortalecer os movimentos e/ou partidos políticos? Espero que sim!

(Texto publicado no Diário de Leiria em 15 de Março de 2011)

quarta-feira, 16 de março de 2011

Uma opinião muito pessoal à pressa sobre hortas comunitárias

Há umas semanas atrás o semanário Região de Leiria perguntava na sua página de facebook: se a sua cidade tivesse uma horta comunitária, arrendaria um talhão para cultivar os seus próprios alimentos?.
Achei a pergunta deveras interessante respondi logo lá, no facebook, à coisa. Atenciosamente e amavelmente o jornal em causa publicou  parte da resposta - aproveito para agradecer o facto -, excerto que passo a citar: Provavelmente não, por mais benéfico, a vários níveis que isso fosse. Admito a minha falta de pro-actividade neste sentido, no entanto, com a minha ausência haveria seguramente espaço para todos os interessados.
Por isso e como a minha opinião se mantém deixo aqui o restante do texto não publicado:  Mas será que na hora da verdade haveriam agricultores para encher essa quinta comunitária de verde e outros coloridos vegetais? Espero que sim!
Pronto, está completa a opinião, se é que isso tem algum interesse - provavelmente não ou não fosse isto uma "redundância da actualidade". Sem dúvida que o projecto das hortas é muito interessante: promove uma saudável actividade lúdica e física que até pode produzir alimentação; tem também uma importante valência social, pois pode desenvolver um benigno espírito de cooperação.
 Apesar do meu cepticismo face a caso concreto - até porque só não me dedico à agricultura de lazer nuns quantos terrenos familiares por opção  espero que realmente, se o projecto for para avançar, que hajam muitos agricultores verdadeiramente no terreno, concretizando mais que mera intenções.

Boas Colheitas!

domingo, 13 de março de 2011

Ir ou não ir à Manifestação “Geração à Rasca”?

Apesar de não ir à manifestação, devido a algumas dúvidas de base e por impedimentos logísticos e de agenda, esta parece-me ser uma iniciativa positiva e um sinal de agitação benéfico, um produto positivo da crise. A minha pouca experiência diz-me que é benéfico pois algo de diferente me parece estar a ser despoletado. Só agora a geração à qual pertenço parece acordar e emancipar-se numa cidadania que parecia adormecida. Finalmente esta minha geração, que se habituara a um nível de vida sem precedentes em Portugal, percebe que tem de lutar na primeira pessoa! Lutar pelo que se acredita apresentando soluções em que quer ser parte activa, sendo esse o único caminho, pelo menos o único de responsabilidade. Até então poucas manifestações neste sentido se viam de forma espontânea na Sociedade Civil portuguesa. Mais vale tarde que nunca e este novo 2011 começa a revelar a coragem de uma geração para intervir, para querer propor novos caminhos e ideias. A crise está-se a demonstrar como uma oportunidade de exercer uma cidadania activa para toda uma geração!
As minhas ressalvas são ao nível do aprofundar dos conteúdos, da estrutura e dos líderes deste movimento. Com mais informação sobre quem organiza, como e o que quer fazer poderiam convencer muitos a faltar a uns compromissos e gastar tempo e dinheiro, porque à rasca de dinheiro estamos todos e isto de manifestar tem os seus custos - deslocações e no trabalho que se perde por não se fazer -, a participar na dita manifestação.

(Texto publicado na edição online do Jornal Público em 9-3-2011, posteriormente em excerto na edição papel do mesmo jornal em 12-03-2011. Texto publicado também no Diário de Leiria em 11-03-2011)

quinta-feira, 10 de março de 2011

“Os Homens da Luta” – política de circunstância

Surpreende-se Portugal com o peso de uma votação! As pessoas votaram e elegeram os “Homens da Luta”. Curiosa a surpresa, não a da vitória do grupo criado e liderado pelo humorista e músico Jel, mas a do despertar de algumas pessoas para o poder do voto. Será que serão precisos programas de televisão e Festivais da Canção para demonstrar que votando, em massa, podemos contribuir para o formar de um determinado resultado?
Mas será que se devem tirar leituras políticas sobre o vencedor do Festival da Canção de 2011? Bem, penso que sim, até porque tudo é política e todos a analisamos, mesmo que inconscientemente, nem que seja apenas política de humor – seguramente uma das perspectivas de análise mais válidas para este caso. 
Os “Homens da Luta” que hoje conhecemos são apenas um produto e resultado de mais uma das muitas criações e personagens do humorista Jel. Do mesmo autor, há que relembrar a polémica banda de Metal intitulada “Kalashnikov” que defendia e prestava culto à guerra – também essa manifestação musical a usar de uma profunda ironia e sarcasmo para fazer um humor mais negro do que é habitual por cá. Para os telespectadores da Sic Radical, ouvintes da Antena 3, e navegantes de uma Internet menos convencional, ou até mesmo “underground”, “Neto e Falâncio” são conhecidos de há muito tempo, tal como a sua capacidade para “gozar” com as “canções de intervenção”. Simplesmente agora puderam sobressair e crescer, na forma de uma espécie de grupo musical de paródia, dada a conjuntura de crise que naturalmente faz elevar o clima de insatisfação popular, e com isso o ressurgimento da música de intervenção (nem que seja em jeito gozo).
O fenómeno “Homens da Luta” nasceu de personagens de rábulas de humor (conhecidas de um pequeno público) e cresceu devido às circunstâncias. Se as circunstâncias fossem outras provavelmente qualquer outra personagem de Jel poderia ter atingido a fama. Por exemplo, se estivéssemos a viver um período de insatisfação e agitação social em torno de mudanças e debates sobre condutas e opções sexuais, especialmente se se tratasse de homossexualidade ou questões de género, provavelmente poderia ter sido a personagem “Carlinhos – o Machista Gay” e não os  “Homens da Luta” a trazer Jel para a ribalta. Quem sabe!?
No fundo é como dizia o filosofo espanhol Ortega y Gasset: “o Homem é as suas circunstâncias”. Neste caso os “Homens” têm uma “luta” e uma oportunidade de atingir a fama e fazer humor devido às circunstâncias, podendo isso resultar de uma mera conjugação fortuita de acontecimentos, não havendo qualquer mensagem política profunda. Ou seja, tudo se resumir a mera política de circunstância.

(Texto publicado no Diário de Leiria em 2 de Março de 2011 e no Jornal de Leiria em 17 de Março de 2011)

segunda-feira, 7 de março de 2011

Assembleia Municipal de Leiria - o ignorar do passado, mesmo o democrático!

Quem ignora a história corre o risco de cometer os mesmos erros do passado ou de começar do zero todos os dias.
Esquecer o que não convém pode até parecer positivo, especialmente quando se teme o passado e os seus efeitos no presente e no futuro. Mas quando esse esquecimento é propositado é a própria ética que vai pelo menos caminho, num claro acto de irresponsabilidade. Começar do zero também pode ter as suas vantagens, especialmente quando a alternativa é o início a negativo.
Ninguém em Leiria quer seguramente repetir erros pretéritos. Em Leiria também não se pode começar do zero, pois dívidas públicas são heranças sem escapatória. Apesar disso exige-se optimismo! Nem toda a herança é má, nem que seja pelo seu potencial pedagógico que surge do analisar das falhas cometidas, mesmo que hoje as contas para pagar sejam mais que muitas.
 É evidente que a bancada Social-Democrata da Assembleia Municipal de Leiria (AML) se tem esforçado por ignorar os aspectos negativos do passado, especialmente os reflexos e limitações que advêm da colossal dívida criada pelos anteriores executivos da sua "cor política". Começar por assumir os erros do "tempo da outra senhora" seria uma excelente maneira de fomentar, e verdadeiramente criar, as dinâmicas de cooperação que se exigem para resolver os graves problemas que a autarquia atravessa.
Surpreendentemente, na última AML, que decorreu dia 24 de Fevereiro de 2011, todos os deputados municipais e vereadores eleitos da direita abandonaram a sessão quando se preparava o inicio da discussão do ponto da ordem de trabalhos, agendado pelo PS, para analise da auditoria financeira ao município (entre 2006 e 2008)  - o que levaria, directa ou indirectamente, à dívida que alguns querem esquecer. Apesar de estarem no seu direito, esta atitude transpareceu a tudo menos a democracia. Com a sala quase meia vazia foi impossível fazer debate.
Provavelmente é por estas e por outras razões que a imagem da classe politica se vai degradando face à opinião pública. Estranho quando são os próprios políticos, de partidos que se afirmam como democráticos, a impedirem o concretizar da democracia. Se não estão disponíveis para debater e apresentar ideias por favor renovem-se com quem esteja! Leiria agradece!
Não surpreende que queiram ignorar o passado politico local e com isso a asfixia financeira que foi deixada de herança ao actual executivo. Mas dai a ignorarem também o passado nacional e a herança democrática do 25 de Abril é que me parece ser inqualificável...

(Texto publicado no Jornal de Leiria em 4 de Março de 2011)

sexta-feira, 4 de março de 2011

A Democracia via Redes Sociais

A revolta no Mundo Árabe avança tão rápido como o clique de um "gosto" ou de um "vou participar" no Facebook. Quem diria, tendo em conta a quase ausência histórica de movimentos cívicos libertários nestas sociedades, que estas nações fossem usar hoje a tecnologia das Redes Sociais como modo de expressão de uma cidadania activa política que quer mais democracia, justiça e equidade social!? 
 As Redes Sociais por cá têm-nos servido para os mais variados e diferentes propósitos: reatar ligações a pessoas que se perdiam no tempo; "cuscar" a vida de amigos e conhecidos; poder comunicar com figuras públicas locais ou nacionais; conhecer novas pessoas, ideias, iniciativas, instituições, etc. As mais importantes, pelo menos de um ponto de vista "macro-social", serão as últimas possibilidades anteriormente referidas, pois podem ser um modo de concretizar e reforçar a nossa cidadania e democracia. Se por terras onde reina o Islão as Redes Sociais estão a servir para tentar coordenar povos e gentes para a implementação da democracia (as mobilizações no Egipto deram-se via Facebook), por cá, as mesmas Redes Sociais, podem muito bem vir a servir para exercermos um novo tipo de cidadania activa, ou pelo menos para permitir que ela aconteça depois na prática, no mundo real do dia-a-dia. 
Eu arriscar-me-ia a dizer que as Redes Sociais, os Blogues, e todos os demais afins, são as Ágoras da actualidade. São aqueles locais onde facilmente podemos partilhar ideias e fazê-las chegar a um público incomensuravelmente vasto e inacessível de outro modo ao cidadão comum, tudo isto com interacções nos dois sentidos que chegam a acontecer em tempo real - podemos ser receptores e emissores em simultâneo. Lembro que as Ágoras eram os locais onde os antigos gregos - os inventores da Democracia -, especialmente os filósofos, ensinavam e apresentavam as suas ideias à comunidade - a polis. Nesses locais de partilha o público interagia livremente com os oradores, havia liberdade para colocar questões e dúvidas, podia-se até colocar em causa as ideias e informações divulgadas pelos próprios oradores. Tudo isto acontecia naturalmente e gratuitamente, sem esforço ou coerção para a participação, numa clara vontade de divulgar e aprender. É esta liberdade, pro-actividade para o debate e troca de ideias, e gratuitidade que me faz considerar que essas Ágoras (que se manifestavam urbanisticamente como praças, mercados, fóruns ou outras estruturas ou infra-estruturas citadinas) do antigamente estejam hoje a ser reedificadas e reinventadas pelas ditas Redes Sociais, num potencial sem precedentes e com efeitos sociais difíceis de prever.

Os povos dos países islâmicos, onde falta a liberdade, já perceberam a importância das Redes Sociais como ferramenta de mobilização para a mudança rumo a uma sociedade democrática. E nós? Será que estaremos ou saberemos utilizar essas mesmas Redes Sociais para algo socialmente benéfico? Não serão as Redes sociais ferramentas com potencial para melhorar a nossa participação cívica e a concretizar uma cidadania activa, ainda que indirectamente?

(Texto publicado no Diário de Leiria em 25 de Fevereiro de 2011)
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Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





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