sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Como estacionar a "humanidade" no Hospital de Santo André?

O Hospital de Leiria, ao tentar resolver o problema do uso indevido dos seus parques de estacionamento, trouxe para o debate público a discussão em torno do pagamento, pelos utentes, do parqueamento disponível dos serviços públicos.
Antes de mais começo por analisar os problemas gerais associados ao estacionamento. O principal problema é sempre o espaço. As nossas cidades não estão preparadas para os volumes de tráfego a que são sujeitas todos os dias e muito menos para fazer face às necessidades de estacionamento. Torna-se simplesmente impossível ou impraticável aumentar as capacidades existentes. Criar mais estacionamentos nas zonas centrais agravaria ainda mais os congestionamentos, pois o afluxo de veículos seria maior e cedo o novo acréscimo de lugares seria insuficiente. Ainda mais difícil é aumentar a capacidades das vias e nós rodoviários que serviriam esses ditos parques - novamente uma questão de espaço. Assim, a solução é taxar o estacionamento de modo a que os lugares existentes sejam utilizados criteriosamente e por curtos períodos de tempo, de modo a  permitir também que exista sempre alguma oferta, mesmo que pagando. Trata-se de um modo pragmático de gerir os estacionamentos existentes que assenta no principio do utilizador pagador, especialmente  se tivermos em conta quanto custa a utilização de 10m2 (área média de ocupação de um veiculo automóvel) de espaço público urbano.
Mas para além dos parques pagos, o que verdadeiramente precisamos são: mais transportes públicos e de promover os "modos suaves" (andar a pé e de bicicleta), tudo isso devidamente coordenado com circulares externas radiais, servidas por zonas de estacionamento gratuitas exteriores, devidamente ligadas ao centro por transportes públicos.
O modo como hoje utilizamos os automóveis não é sustentável, ambientalmente e economicamente! Temos de mudar!
Tudo o que anteriormente referi seria aplicável aos Hospitais se eles fossem comuns serviços ou zonas urbanas. A saúde é um bem essencial e um direito constitucional - pelo menos por enquanto. A necessidade e natureza destes serviços mexe com os sentimentos das pessoas e com a própria condição humana - é na doença que verdadeiramente estamos frágeis.
Sem dúvida que o estacionamento no Hospital de Santo André tem de ser controlado, mas obrigar pessoas que, pelas agruras da vida, já estão tão fragilizadas, por elas próprias ou por familiares e amigos, a terem de suportar mais este custo é quase desumano. Deveria ser previsto um sistema que isentasse os pacientes e aqueles que, através das suas visitas, contribuem para a sua recuperação do dito pagamento. Até porque a oferta de transportes públicos não é adequada. É certo que essa isenção se transformaria em custos para o hospital, mas se o problema em causa é a utilização indevida dos parques então não vejo qual seria o problema.

(Texto publicado dia 11 de Janeiro de 2011 no Diário de Leiria e 13 de Janeiro de 2011 no Jornal de Leiria)

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