Recentemente comemoraram-se os 100 anos da implantação da República. Hoje, provavelmente, olha-se para a 1ª república através de lentes, um tanto ou quanto, desfocadas pela distância histórica que nos separa dessa época - reina uma visão quase fantástica/mitológica em torno desse importante período histórico.
Sem dúvida que os propósitos dos primeiros republicanos foram bem-intencionadas, que as suas intenções verdadeiramente filantrópicas e prenhes de vontade de levar Portugal para o modernidade esclarecida e cientifica. Mas claro, nem tudo correu como se pretendia e planeara. Os entraves e as dificuldades foram muitas. As heranças, ou não fosse Portugal um país já na altura bem antigo e cheio de história – com todas as implicações que isso traz –, de algum modo incapacitantes. As finanças públicas andavam nas penúrias devido ao desgoverno da monarquia parlamentar – onde já vimos isto? O grande analfabetismo que existia em Portugal (cerca de ¾ da população) dificultara a divulgação dos ideais republicanos e da sua verdadeira difusão pela sociedade, tendo ela própria de responder com participação cívica para que o regime democrático e republicano pudesse persistir. Sem educação, sentido de pertença e empatia social pela mesma causa, disponibilidade para governar e ser governado segundo os princípios democráticos, respeito por valores e exercício de deveres – algumas definições e pressupostos para se ser verdadeiramente cidadão – o regime definhou, entrou em convulsão e quase anarquia até que pereceu com a concretização das ditaduras. Já para não falar do adverso contexto internacional, do advento da 1ª Guerra Mundial, que nada contribuiu para a estabilidade do Regime.
Apesar dos intuitos e vontades serem elevados, as conjunturas e dificuldades reais de governar dificultaram a concretização de tudo ao que se propunham os primeiros republicanos.
Tudo o que aconteceu foi História, acontecimentos que vieram dar maturidade ao republicanismo - nas várias formas em que se manifestou nestes últimos 100 anos. Hoje, acima de tudo, o que devemos celebrar é o dia em que deixámos de ser súbditos (e vassalos) e passámos a ser cidadãos com direitos fundamentais e deveres não menos importantes. Agora resta honrar este estatuto que alcançamos expressando-o através da cidadania activa – não vejo melhor forma de celebrar os 100 anos da república.
Apesar dos intuitos e vontades serem elevados, as conjunturas e dificuldades reais de governar dificultaram a concretização de tudo ao que se propunham os primeiros republicanos.
Tudo o que aconteceu foi História, acontecimentos que vieram dar maturidade ao republicanismo - nas várias formas em que se manifestou nestes últimos 100 anos. Hoje, acima de tudo, o que devemos celebrar é o dia em que deixámos de ser súbditos (e vassalos) e passámos a ser cidadãos com direitos fundamentais e deveres não menos importantes. Agora resta honrar este estatuto que alcançamos expressando-o através da cidadania activa – não vejo melhor forma de celebrar os 100 anos da república.
(texto publicado em 7 de Outubro de 2010 no Jornal de Leiria e dia 11 de Outubro no Diário de Leiria)
Este artigo é interessante. No entanto, perpassa a ideia de que não há verdadeira participação de cidadania num regime que não seja republicano - o que não é verdade! http://nblo.gs/8QbiK
ResponderEliminarPois, mas o próprio conceito de cidadão avém da república e da democracia enquanto formas de governo abertas à participação universal, embora isso possa em parte ser também verdadeiro para algumas monarquias democráticas e parlamentares, mas mesmo nesses casos as pessoas são sempre vassalos ou súbditos, ou até outra coisa qualquer.
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