sábado, 2 de outubro de 2010

T.G.V. – Transporte que pode trazer Grandes Vantagens!

Todos nos lembramos daquele fenómeno geológico islandês que paralisou a Europa durante vários dias. Bastou um fenómeno natural, uma nuvem repleta de partículas incandescentes expelida por um vulcão de nome complicado perdido lá longe, para que se provasse que o nosso sistema de transportes [português e europeu] é frágil e de que não temos verdadeiras alternativas ao avião para transportes de longa distância.
Os projectos trans-europeus de transportes, que prevêem uma aposta significativa nos caminhos-de-ferro, têm sido de execução morosa. A linha de alta velocidade (TGV) em Portugal faz parte desses projectos estratégico para o desenvolvimento regional e europeu – ou não fosse a ferrovia um dos modos mais sustentáveis de transporte. Mas para que esta obra se realize temos de a defender, caso contrário é mais uma a ficar no papel.
As fragilidades e atrasos de Portugal no modo ferroviário são bem evidentes pois, a somar à tendência que se verifica por toda a Europa de diminuição dos transportes por comboio, por cá há quase 100 anos que não se acrescentam verdadeiramente novas linhas, sendo que muitas das actuais ou estão obsoletas – caso da nossa linha do Oeste – ou simplesmente já foram desactivadas. Outro problema dos caminhos-de-ferro Portugueses, mas também de Espanha, é a dimensão da bitola (distância entre carris) que por ser diferente da do resto da Europa impede a ligação directa entre Europa e Península Ibérica, aumentando assim ainda mais os custos de manutenção e utilização das infra-estruturas ibéricas.
Construir a linha de alta velocidade é a oportunidade de reformular as linhas férreas nacionais, de uniformizar a bitola e de ficarmos verdadeiramente ligados a Europa pela ferrovia. E já que a economia está na ordem do dia, a aposta no TGV seria também uma oportunidade de reduzir a grande dependência nacional face ao modo rodoviário. Algo que influencia directamente a nossa balança de importações pois todo o combustível utilizado para movimentar por cá os automóveis é importado. Já para não falar dos impactos ambientais que afectam o ambiente, a saúde humana e até o nosso potencial turístico devido ao uso excessivo de veículos automóveis. Outra oportunidade é o potencial de criação de empregos do projecto, quer seja na construção quer seja posteriormente na manutenção e exploração.
Assim, apostar nos caminhos-de-ferro é apostar também no TGV pois, quando se fazem projectos desta natureza e volume, há que planear para o futuro e para os comboios que virão. Lembro aqui a acção do Marquês de Pombal que, dotado de uma visão estratégica, criou largas ruas e avenidas para a capital. Hoje essas vias podem parecer insuficientes, mas na altura pareceram aos contemporâneos do Marques um exagero e um despesismo injustificado devido à sua grande dimensão que apresentavam para a época. O mesmo acontece com o TGV que, para além das necessidades de hoje, tem de responder às necessidades do amanhã.
As finanças públicas não estão bem mas sem investimento e sem infra-estruturas modernas para hoje, e especialmente para o amanhã, como se poderá recuperar a economia?

(texto publicado em 30 de Setembro de 2010 no Diário de Leiria)

4 comentários:

  1. Caro Micael,
    Eu adoro comboios e acho que são um dos meios de transporte do futuro. Este século, seguramente, Portugal terá linhas de alta velocidade a ligar norte ao sul e Portugal a Espanha.

    No entanto, considero um erro este investimento nesta década. Por duas razões: temos prioridades muito mais importante ao nível de investimentos público, por outro lado, não temos "economia" para suportar a magnitude deste investimento nem a sua operação.

    É como os submarinos. Até são úteis, mas têm um custo que não é comportável para a dimensão da nossa economia.

    Não posso aceitar por exemplo que o investimento como alargamento da rede pré-escolar a toda a população, qualificar as nossas escolas publicas com as todas as condições para receber e ensinar os alunos, capacitar a rede universidades de meios para crescerem nas áreas criticas para o nosso futuro (medecina, engenharias etc...) entre outras prioridades não estejam 100% à frente de um TGV. E de notar que estes investimentos geram crescimento, emprego e têm muito mais incorporação nacional.

    Se temos pouco dinheiro para investir, devemos investir naquilo que gerará mais retorno em termos de crescimento do país. O TGV é um investimento de baixo retorno.

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  2. Sabemos que se pararmos os investimentos públicos para também a economia. Vejam-se os investimentos pós depressão de 1929, o"new deal" e o investimento de guerra que relançaram as economias.

    Claro que há investimentos prioritários, de várias naturezas e para vários fins. Neste caso este investimento se não for feito agora perdem-se os fundos europeus que não podem ser utilizados para outros fins. Fazer o TGV no futuro será obrigar o Estado a mais gastos no futuro e adiar os problemas de transportes nacionais pois um povo mais "educado" seguramente trata melhor das suas finanças, é mais activo civicamente e sabe decidir melhor seus investimentos.

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  3. Nesta altura, em que Portugal tem pouquíssimos recursos financeiros para sustentar a educação, a saúde, ao combate da analfabetização, que é o maior problema do país, a vida social toda no geral, porque continuar a apostar no projecto do TGV?
    O TGV para Madrid vai custar uma desmesurada fortuna, se bem que alguns digam que vai trazer grandes vantagens, quando não tem qualquer viabilidade financeira e certamente andará vazio.
    O governo diz que vai trazer postos de trabalho, que vai trazer riqueza, que vai alargar o desenvolvimento do sistema de transportes. Mas, antes deveria se preocupar com outros investimentos básicos, como erradicar a analfabetização. Depois disso, o povo estará mais apto a aceitar novos investimentos, porque se torna mais competente, mais apto a responder às situações de dificuldade financeira em Portugal.
    Acredito na República, acredito na democracia, mas tudo feito de forma que se possa sustentar esta dificuldade que atravessamos.

    Lumena

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  4. Refiro só que esta obra é financiada quase na integra e que os custos que as viagens têm hoje não serão os mesmo dos futuro porque a carga ambiental ainda não se faz repercutir devidamente. Nesse caso o comboio será a aposta pois é o meio de transporte mais sustentável, muito mais que o avião para este tipo de distâncias.
    A educação custa dinheiro e a capacidade de ter fundos para a pagar pode depende invariavelmente da força da economia e sua capacidade para através da tributação financiar o Estado. A economia, referindo exemplos históricos, pode-se estimular com investimentos públicos, sendo este um deles, ainda por cima quando é financiado pela UE e é uma mais valia ambiental.

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