quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Intervenção na Assembleia Municipal de Leiria: ideia de criar uma liga/associação de amigos dos monumentos e espaços culturais de Leiria

Apesar de se poder dizer que só se valoriza aquilo que se paga, os serviços públicos essenciais devem ser gratuitos, pois são uma forma de garantir justiça social e igualdade de acesso à dignidade cívica universal. Embora a cultura não seja identificada como um dos serviços básicos essenciais à vida, não sabemos viver sem ela, pois quase tudo o que resulta do conhecimento, história, interação social e criatividade humana é cultura. A Cultura está no nosso ADN enquanto espécie criativa, emotiva e criadora de história. Concordando-se ou não com as opções políticas tomadas, é inegável o esforço municipal dos últimos anos para tentar dinamizar o panorama cultural local de Leiria.

Todas as iniciativas que visem possibilitar o acesso à cultura são bem-vindas. Dias de entradas gratuitas são de salutar. Partindo desta tendência positiva podemos ir mais além e implementar algumas políticas formais que têm revelado sucesso noutras geografias e que os leirienses também têm ensaiado informalmente. Para dar sustentabilidade aos projetos culturais é essencial criar uma ligação às populações locais e alimentar públicos ávidos do consumo cultural. Não nos esqueçamos de que a cultura, ao contrário de outros consumos, é totalmente sustentável, pois os bens e serviços que produz não se esgotam, podendo ser replicados criativamente.

Gostaria de lançar aqui a ideia de se constituir uma associação ou liga de amigos dos monumentos e espaços culturais de Leiria. Esta nova organização cívica seria constituída por todas e todos aqueles que tenham uma paixão pelo património cultural de Leiria, estando devidamente organizados entre si e coordenados com o município. Ao fazer parte dessa organização os seus membros teriam acessos gratuitos permanentes aos vários espaços, participando e recebendo formação técnica, histórica e científica por parte dos serviços municipais, para que possam ser um apoio às atividades culturais locais. Estes cidadãos poderiam ser então os embaixadores do património de Leiria – slogan que tem vindo a surgir como fruto das políticas culturais locais de promoção e divulgação. Esses embaixadores poderiam facilmente aceder aos locais, tanto para as suas investigações e divulgações, como para convidar e acompanhar amigos em visitas mais intimas e personalizadas. Seriam agentes voluntários complementares aos serviços e funcionários dos espaços, criando sinergias entre sociedade civil, apaixonados pela cultura local e profissionais da área.

Não haveria quebra de receitas, uma vez que os membros da liga ou associação trariam novos visitantes consigo, que não estariam isentos do pagamento dos ingressos. Mais que as questões financeiras esta proposta possibilitaria uma eficaz ligação dos espaços culturais às comunidades locais, pois ficaria estabelecida uma rede que facilmente poderia ser ativada para outras iniciativas. Os participantes sentiriam cada vez mais os espaços como seus, uma vez que também se abria mais facilmente uma via de comunicação com o município, podendo ser propostas e desenvolvidas novas atividades. Os museus e espaços culturais têm uma importante missão social e só poderão funcionar corretamente se as comunidades locais os assumirem comos seus.

Numa altura em que Leiria tenta afirmar a sua candidatura a Capital Europeia da Cultura esta seria uma iniciativa, entre muitas outras, de reforço da rede social real de apoio às iniciativas culturais. Esta é uma ideia que deixo para poder ser discutida e desenvolvida. Sem um suporte forte popular local dificilmente Leiria poderá cumprir todo o seu potencial.

Intervenção realizada na sessão ordinária da Assembleia Municipal de Leiria, em 19 de fevereiro de 2018.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Todos andamos no terreno e na escola da vida

Ainda há quem queira alimentar guerras entre os académicos e não académicos. Tendem a ser aqueles que não prosseguiram estudos ou que não conseguem converter os estudos que têm em algo construtivo, não tendo compreendido a utilidade daquilo que estudaram, a alimentar este conflito sem sentido.

Um académico tem de validar os seus conhecimentos na realidade, no mundo em que vive, mesmo que isso seja distante como uma estrela. Quem quiser fazer ciência, e produzir conhecimento, tem de estar sempre no terreno, próximo das informações associadas ao seu objeto de estudo. É na transposição da teoria para a realidade, para múltiplas práticas, que a ciência cria conhecimento capaz de gerar novos desenvolvimentos e concretiza o seu papel social. Não podemos dispensar o conhecimento teórico, pois serve para testar de forma abstrata problemáticas da realidade e testar ideias, evitando as consequências e erros de quem experimenta sem saber as consequências do que faz. 

Dependemos fortemente do conhecimento científico. Mesmo quem nada percebe de determinadas áreas disciplinares como a física, química e muitas outras, utiliza diariamente o produto comercializado desses conhecimentos acumulados. Quem diz das ciências ditas exatas diz o mesmo das ciências sociais e humanas, pois todos os dias refletimos, invocamos a nossa história e não sabemos viver sem ser em sociedade. Muitos outros exemplos não faltariam.

Tendemos a criticar ou desvalorizar o que não compreendemos, ou aquilo que muda o nosso status quo, reduzindo poder e influência. O que é diferente é visto com desconfiança. A novidade pode ser ameaçadora para os poderes instituídos. Quem critica outrem que tem mais conhecimentos em determinada área, acusando essa pessoa de ser académico, teórico e de não conhecer a realidade revela, primeiro que tudo, incompreensão. Ou o tal sábio é arrogante e usa os seus conhecimentos sem grande inteligência, ou então quem desdenha é incapaz de compreender o valor desse saber por falta de conhecimentos científicos prévios. Também pode ser simplesmente inveja, a mera hipocrisia de criticar algo que afinal se valoriza e deseja ter.

Apesar da inveja ser uma coisa muito presente na sociedade portuguesa, importa ir além dessa fatalidade. Não faz qualquer sentido colocar os cientistas de um lado e os não iniciados/formados em ciência no noutro, pois estamos a falar de uma forma de conhecimento entre outras. A ciência pretende compreender a realidade, tentando contribuir para melhorar a vida humana. Qualquer estudo científico precisa de provas de validação. Se há fonte de conhecimento que valoriza a experiência é a ciência, estruturando as informações experimentais.

Quer sejamos cientistas, sábios ou simplesmente todos os outros, não precisamos de ir para o terreno porque todos vivemos nele. Todos fazemos e andámos na escola da vida enquanto vivermos: é inevitável. Se não nos encontramos no dito terreno e na dita escola da vida mais vezes é porque não comunicamos.

Texto publicado no Diário de Leiria em 15 de fevereiro de 2018

Dar sustentabilidade ao voluntariado

Fazer voluntariado pode trazer vantagens a quem o pratica e dele beneficia. Mas nem tudo deve ser transformado em voluntariado e nem todas as pessoas o podem fazer constantemente. O voluntariado permite realizar algumas atividades que não poderiam ser economicamente sustentáveis de outra maneira, não se devendo substituir atividades económicas geradoras de emprego. O emprego tem um valor social estruturante importantíssimo. Substituir emprego por voluntariado é uma subversão pouco sustentável a médio e longo prazo.

Ser voluntário é assumir uma função cujos os ganhos estão para além dos benefícios materiais e monetários. Sabemos que existem muitos outros valores que mobilizam as pessoas, especialmente nas sociedades pós-industriais, onde, felizmente, a grande maioria das necessidades básicas estão garantidas, permitindo o surgimento de novas prioridades.

No entanto, os voluntários tendem a atingir um nível de saturação nas atividades que realizam, uma vez que o fazem livremente e sem remuneração. Fazer voluntariado, mesmo que seja perante um período de tempo curto, é uma forma de criar uma rede social, de ganhar novas experiências, de aprender coisas novas e, para alguns, uma forma de ocupar o tempo com algo de útil. Mas muitas vezes o voluntariado é entendido como um frete, uma atividade pesada, quase um castigo expiador autoinfligido.

Vivendo na pós-modernidade, fazemos parte de movimentos de crescente fragmentação social, individualismo, relativismos de toda a ordem, frutos de uma crescente liberdade. Cada vez mais as pessoas procuram o que as tornam felizes e fazem sentir relevantes. Fazer fretes ou algo a contragosto não encaixa neste novo sistema valorativo, por vezes nem mesmo quando se é bem pago para isso. Isto leva a que as ações de voluntariado vistas como vantajosas, mais-valias, para quem as realize tendam a ser efémeras e reduzidas. O segredo para dar sustentabilidade ao voluntariado é torná-lo algo agradável e gratificante para quem o pratica, sem pressões e obrigações.

Assistimos a esse fenómeno de voluntariado nos Boardgamers de Leiria. É algo transversal que queremos incutir na associação Asteriscos e todos os seus projetos. Temos conseguido fazer várias atividades de puro voluntariado, apoio educativo e integração social com jogos de tabuleiro porque os nossos voluntários são apaixonados por esses jogos, porque gostam genuinamente deles e porque ninguém é obrigado a nada, num grupo onde reina a boa-disposição. Quando se descobre algo que conjuga uma paixão e o impacto social encontra-se a fórmula de dar mais sustentabilidade ao voluntariado e a oportunidade para desenvolver novos projetos e mais iniciativas, úteis para os voluntários e para a comunidade em geral. Se a isto juntarmos uma organização horizontal, que trabalhe de forma colaborativa, esse potencial cresce ainda mais. Só não nos podemos esquecer que este e outros voluntários nunca deverão substituir empregos e outras atividades formais.

Texto publicado no Diário de Leiria em 1 de fevereiro de 2018

Planear o território para mais sustentabilidade

Ao nível do planeamento territorial há um debate que continua inconclusivo: será que devemos aglomerar ou descentralizar?

Se concentrarmos conseguimos os benefícios da aglomeração e da escala superior de funcionamento e concentração de recursos e infraestruturas que pode permitir oportunidades únicas. Temos o caso dos centros escolares que permitem concentrar mais alunos de modo a potenciar a interação social e a disponibilizar-lhes mais e melhores infraestruturas, por exemplo mais cantinas, ginásios, salas lúdicas e de estudo, entre muitas outras coisas. No entanto há aspetos negativos do ponto de vista urbano, social e ambiental, aspetos que se repetem noutras concentrações de atividades e edificado espacialmente localizadas.

Se descentralizarmos garantirmos maior equidade pelo território e proximidade às populações, mantendo relações sociais e funcionais mesmo nos locais mais pequenos. A descentralização também evita a necessidade de deslocações, especialmente quando a esmagadora maioria das viagens são realizadas em transporte automóvel individual, provocando grandes impactes ambientais e disfuncionalidade na utilização das infraestruturas rodoviárias.

Se concentrar pode evitar o consumo de solo, que é um recurso natural não renovável, descentralizar evita viagens e permite que muitas deslocações possam ser realizadas através dos modos suaves (andar a pé e de bicicleta), promovendo também relações sociais e económicas de rua. A descentralização pode ser uma forma de intervenção social, ao contribuir para a equidade social. Mas pode ser economicamente menos eficiente numa análise direta. Considerando os custos de oportunidade subsistem dúvidas, pois haveria outras opções onde esse investimento poderia ter mais rentabilidade. Mas nem tudo é dinheiro e determinados investimentos trazem outro tipo de ganhos. Importa quantificar, por exemplo, os ganhos sociais, culturais e ambientais e não apenas os financeiros.

Estas questões e opções relacionam-se com as atividades que ocorrem no território, que dependem dele e que se interrelacionam em redes espaciais. Tudo está ligado. Quando optamos por localizar um equipamento público em determinado local, quando um município aprova a urbanização de um novo solo tudo isso tem influência nas redes existentes de vias de comunicação, de infraestruturas, de fluxos de bens e pessoas, com os recursos e património natural, com as áreas de atividade económicas e culturais. Com tudo isso e muito mais, daí a necessidade de fazer planeamento, de traçar cenários e de fundamentar todas as decisões, envolvendo cada vez mais as população e atores sociais do contexto territorial.

Por vezes parece que determinadas opções políticas relacionadas com o desenvolvimento do território são feitas sem a devida fundamentação e de forma avulsa. Por vezes são, por vezes são só mal comunicadas. Muitas focam-se em resolver apenas um problema concreto ou aproveitar uma oportunidade, ignorado todos as demais questões que ficam por tratar ou que daí irão surgir no futuro.

Texto pulicado no Diário de Leiria em 18 de janeiro de 2018.

Jogos de tabuleiro modernos: uma aposta no desenvolvimento sustentável

Há uma nova tendência que se tem afirmado no estrangeiro e que agora vai chegando a Portugal. Apesar da indústria de videojogos ser imensa, ter um poder económico e cultural massivo, os jogos de tabuleiro não desapareceram. Depois de algumas décadas de reajuste os jogos de tabuleiro souberam reinventar-se a si próprios, tanto que hoje se apelidam de “modernos” para melhor explicar o fenómeno em causa.

Há várias razões para este ressurgimento, que se deve muito à influência alemã, sendo um dos grandes polos de influência da indústria, tanto no design/produção como no consumo. A partir dos anos 80, quando o setor apresentou sinais de degradação, em vez de desistência surgiu um investimento grande em design. Os jogos de tabuleiro passaram a ser peças de design aperfeiçoado e diferenciado, com autores para a conceção mecânica da ideia e para o design gráfico e dos demais componentes materiais. Hoje, na capa de um jogo de tabuleiro moderno, encontramos de imediato o nome dos autores, tal como ocorre nos livros. Os jogos também se especializaram, com títulos adequados a diferentes idades e gostos temáticos.

Estes novos jogos não são uma resposta reacionária à tecnologia, muito pelo contrário. Eles só atingiram a escala e qualidade atual porque as novas tecnologias de informação e comunicação permitiram trocar facilmente informações entre criadores, produtores e consumidores desta nova tendência que se transformou em passatempo de milhares de pessoas. O desenvolvimento dos próprios jogos também melhorou com as novas tecnologias.

As vantagens diferenciadoras dos novos jogos de tabuleiro explicam o seu sucesso. Ao contrário de muitos videojogos, os jogos de tabuleiro aproximam as pessoas, fomentando a sociabilidade presencial. Nos bons jogos os melhores componentes são as pessoas e seus comportamentos. Com isso surgem imensas potencialidade de utilização lúdica ou como ferramentas adaptadas a determinados contextos. A título de exemplo, utilizámos no projeto UrbanWins parte de um destes jogos de tabuleiro para dar início ao processo colaborativo.

Do ponto de vista ambiental estes jogos são bastante sustentáveis. Podem ser feitos de materiais reciclados, têm um grande tempo de utilização, menos suscetíveis aos ciclos de obsolescência, não precisam de energia e podem ser jogados por várias pessoas em simultâneo. A única energia associada à sua utilização são as emoções e atividades cognitivas, o que transforma estes jogos em promotores de exercício mental. Do ponto de vista económico os jogos de tabuleiro são também uma oportunidade para as industrias criativas, de pequena e média escala.

Não foi por acaso que referi o potencial dos jogos de tabuleiro nas vertentes do desenvolvimento económico, ambiental e social. Estes são três pilares básicos do conceito de desenvolvimento sustentável, aos quais se foram juntando mais vertentes, todas elas compatíveis com as possibilidades dos jogos de tabuleiro. Não tenho dúvidas de que os jogos de tabuleiro fazem parte do nosso futuro, que tem forçosamente de ser mais sustentável.

Texto Publicado no Diário de Leiria em 4 de janeiro de 2018

Ensaiar um processo colaborativo: caso do projeto UrbanWins

Como espécie social que somos, colaborar é algo que nos é natural. Mas no que toca à tomada de decisão pública, política e coletiva a cooperação e colaboração dificilmente surgem naturalmente. Dominam, acima de tudo, as vicissitudes das hierarquias e organização do poder formal e vertical na estruturação das nossas organizações e sociedade no geral. Qualquer coisa que mude isso terá sempre reações.

A primeira dificuldade é a semântica. Os termos e expressões utilizadas podem ser confusos. Tornar um processo de decisão pública participativo não é o mesmo que fazer um processo colaborativo ou cooperativo. Participar implica uma ação muito mais individual, podendo ser passiva ou apenas unidirecional. Participar pode simplesmente implicar estar presente, aprovar ou reprovar. Vemos isso no sistema eleitoral vigente em Portugal, em que se incute a participação como forma de validar ou escolher, sem componente ativa produtiva ou criativa. Já o termo colaborativo implica uma intervenção coletiva. Também pode ser passiva, embora colaborar pressuponha algum tipo de ação, em que se contribui para o resultado final. Ou seja, não é apenas uma validação da ideia ou projeto de outrem, mas o contributo para um objetivo que depende do envolvimento dos vários sujeitos.

Então, quando vemos utilizar os conceitos de participativo e colaborativo na mesma frase podemos ficar de imediato desconfiados. Será que estão a ser erradamente utilizados como sinónimos ou realmente se está a propor implementar um processo com vários níveis de envolvimento cívico?

No projeto UrbanWins faz-se um esforço para que a participação dos cidadãos na identificação das prioridades na problemática dos resíduos urbanos crie um processo colaborativo. Neste projeto os cidadãos são convidados a participar ativamente, sendo que os seus contributos têm forçosamente de ser debatidos e validados em grupo. Procedem-se a múltiplas votações individuais e várias etapas de trabalho colaborativo, aprofundando as ideias mais votadas. Este tipo de procedimento centra-se muito na força das ideias e da sua capacidade de ultrapassarem várias fases de validação e votação, anulando os efeitos negativos do individualismo. Dificilmente assim uma ideia será apenas boa pelo simples facto de ter sido apresentada pela pessoa X ou Y. Num mero processo participativo os efeitos individuais de notoriedade do proponente, capacidade comunicativa ou outro tipo de poder individual e de liderança sobre o grupo poderiam fazer com que uma ideia mais fraca, que não fosse do interesse comum ou tivesse fragilizada tecnicamente, pudesse vencer. Através destas metodologias isso evita-se em grande medida.

Atualmente as metodologias colaborativas são aplicadas em contextos mais criativos e inovadores, sendo que os poderes mais tradicionais tendem a evitá-las, chegando mesmo a ridicularizá-las. É por isso que a cidadania ativa deve tentar abraçar estes procedimentos, evitando os poderes de condicionamento cívico de determinados poderes instituídos.

Texto publicado no Diário de Leiria em 21-12-2017

UrbanWins: um passo para novas formas de participação cívica

As democracias são construções sociais politicamente utilitaristas que mudam com o tempo. A necessidade de constante reinvenção é imperativa para que não definhem. Neste momento sente-se um clima de incerteza nas democracias maduras dos países mais desenvolvidos. Há uma clara sensação de que os sistemas políticos necessitam de reformas para se adaptarem às exigências contemporâneas e futuras.

Quando se fala em democracia existe uma natural tendência para pensar de imediato no sistema político, em partidos, em câmaras municipais e assembleias. Mas a democracia é muito mais do que o sistema político representativo. Aliás, essa é apenas uma forma de democracia. Existem outras, a serem testadas em múltiplos contextos, com metodologias alternativas e direcionadas para objetivos muito específicos, que testam os limites da participação ativa dos intervenientes. A democracia e os seus princípios organizativos extravasam em muito a esfera política.

As ditas novas formas de democracia tentam colmatar os défices de formação política e participativa dos cidadãos na vida da comunidade em que vivem. A própria União Europeia tem formatado os projetos que financia para que neles se incorporem cada vez mais metodologias participativas e colaborativas. Por princípio, os planos de desenvolvimento sustentável deveriam contribuir também para melhorar o sistema de governança, que é como quem diz: os processos de decisão locais com o envolvimento dos vários stakeholders e cidadãos. Apesar do nome estranho, os stakeholders não são mais nem menos do que pessoas, instituições e organizações que defendem determinadas causas, têm conhecimento especifico numa determinada área ou representam grupos de pessoas e interesses. Exemplos são as associações de moradores, de defesa e proteção ambiental, etc.

Na prática estes processos de participação e colaboração para definição de planos e projetos de intervenção são uma raridade. Em Leiria nem a Agenda XXI local não teve continuidade, apesar do potencial cívico que tinha, partindo de uma metodologia colaborativa orientada para a melhoria do desenvolvimento sustentável. Nos raros processos em que os cidadãos são chamados a participar a tendência remete para o reforço do elitismo, por vezes pouco democrático, favorecendo quem tem mais espaço de comunicação pública, melhor oratória ou a arte de trabalhar as palavras. Também é recorrente nos processos de consulta pública, muito comuns nos instrumentos de gestão do território, tais como os Planos Diretores Municipais, Planos de Pormenor e afins, a participação resumir-se a um somatório de reclamações com base no interesse privado e particular de cada interveniente.

Felizmente há uma novidade em Leiria. Está a decorrer um novo projeto que promete ensaiar novas metodologias de participação cívica. Nos próximos textos irei falar desse projeto que tem o nome de UrbanWINS, de assuntos de índole ambiental e cultural, inspirados também nos textos do blogue “A Busca pela Sabedoria”.

Texto publicado no Diário de Leiria em 6 de dezembro de 2017.
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Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





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