segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Criação da Associação Start-Up Leiria poderá ser instrumento de regeneração urbana - Intervenção na Assembleia Municipal de Leiria

Criar uma Start-Up pode ser apenas mais um exercício mediático, com o simples intuito de demonstrar dinamismo económico ao sabor da onda da moda. Mas se a criação de uma Start-Up promover o surgimento de novas empresas, capazes de gerar emprego de qualidade e um crescimento económico sustentável, então só podemos aplaudir. Tudo indica ser esse o caso da associação que aqui se propõe constituir.


Na era da informação somos fruto da terceira revolução industrial, que comunica agora nos ambientes online, moldando as sociedades numa rede que por vezes escapa às logicas territoriais. Mas estas redes necessitam forçosamente de assentar os seus nódulos comunicantes no território, pois, por mais virtuais que sejam os serviços e produtos prestados pelas novas empresas, as operações têm sempre uma parte territorialmente localizada. Parece-me que a criação desta Start-Up tem esse intuito, de localizar no território de Leiria a materialização desta economia ligada à industria 4.0, à inovação e à vanguarda da comunicação e tecnologia. Este tipo de criação poderá ser mais uma ferramenta importante para transferir conhecimento das universidades, no nosso caso particular do Instituto Politécnico de Leiria, para as empresas, fixando mão-de-obra especializada e capitais privados no nosso território. Pode ser a possibilidade de aproveitar as boas ideias dos jovens das nossas academias, que de outro modo, sem o investimento privado associado à Start-up, dificilmente poderiam vir a ser concretizadas.

A localização propriamente dita de uma Start-Up assume grande relevância. A proposta de instalação no Torreão do Mercado de Santana é uma solução que conjuga o pragmatismo com uma estratégia de planeamento futuro, aproveitando uma infraestrutura existente. Trata-se de um exemplo simbólico de como as novas empresas podem dar uma nova alma ao património edificado, contribuindo para a sua sustentabilidade. Tal como acontece noutras cidades que têm Start-ups de sucesso, Leiria poderá seguir o exemplo de aproveitar os investimentos realizados, diretos e indiretos, para ajudar a alavancar a regeneração urbana do centro da cidade. Havendo criação de emprego, num grupo-alvo jovem e instruído, que valoriza a vivência urbana, surge a possibilidade de dar uma nova sustentabilidade às zonas centrais das cidades. Ao surgirem novas empresas no centro da cidade surgirá a necessidade de ter habitação de proximidade, a possibilidade de utilizar racionalmente as infraestruturas urbanas existentes, tal como todos os serviços e equipamentos que acompanham a vida urbana e ativam a economia local. Relembrando que em Leiria estão constituídas Áreas de Reabilitação Urbanas, que permitem uma gestão e intervenção municipal especial, criam-se as condições para que o município possa participar ativamente na regeneração do edificado devoluto e das atividades urbanas que dão vida real à cidade, por si só ou em múltiplas parceiras. Lembro, a titulo de exemplo, a possibilidade de invocar o direito preferencial de aquisição de imóveis por parte do município. Ou seja, o crescimento da Start-up, poderá ser mais um veículo de crescimento económico, de criação de emprego mas também de regenerar o próprio centro Histórico de Leiria, desde que sejam tomadas medidas concertadas de investimento nesse sentido que atendam ao interesse públicos e legítimos direitos individuais.


Se o município investe neste momento 6.000€ para a constituição da associação Start-Up Leiria, que vai usar um espaço edificado reabilitado do centro da cidade, dando-lhe vida económica, no futuro, com o crescimento do projeto, poderá surgir a necessidade de mais espaço e investimento.  Há que ter a noção de que o projeto prevê o surgimento de cerca de 200 postos de trabalho, mas que se considerarmos outros casos de Start-ups noutros locais, e tendo em conta o dinamismo económico e pujança da academia Leiriense e das tantas empresas inovadoras sediadas em Leiria, estes números podem facilmente crescer. No entanto, os 200 postos de trabalho previstos, terão impactos, por si só, consideráveis na cidade.

Deixo então a sugestão de que os futuros investimentos na Start-ups contribuam também para a regeneração urbana da cidade de forma sustentável, relembrando que regenerar as cidades é recuperar e criar novas atividades económicas e culturais. Para que o investimento público neste projeto e associação não sirva apenas para gerar dividendos privados, que forçosamente acontecerão com o sucesso do projeto, será importante que o município tenha um papel ativo na associação, trabalhando com os demais parceiros, aproveitando as oportunidades de transferir direta e indiretamente para o interesse e bem-comum as potenciais sinergias positivas que dificilmente poderiam acontecer de outro modo. A Start-up Leiria poderá ser uma ferramenta importantíssima de desenvolvimento local, com forte componente na valorização do capital humano e do conhecimento, mas poderá ser também um modo de garantir a regeneração urbana que todos pretendemos para o nosso património urbano, que é mais do que meros edifícios: esse património é também a nossa cultura, as nossas gentes.

Intervenção proferida na Assembleia Municipal de Leiria em 20 de Novembro de 2017

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