quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A Quem Interessa Piorar o Serviço Público?

Todos sabem que o sector privado está em crise. Há desemprego e os portugueses estão em dificuldades. Mesmo quando o privado perde o valor, mesmo falindo nos casos extremos, o coletivo e o sector público vão sempre persistir, pois sabemos que nas crises mais graves são aqueles os últimos que nos podem valer. Apesar de todas as críticas, no fundo espera-se sempre que seja o Estado a assumir tudo aquilo que mais ninguém pode. No entanto, ignorando esse seguro coletivo que é a existência de um Estado com meios eficazes, parece haver um plano estratégico para fazer reduzir meios imprescindíveis mínimos e desmotivar todos os que trabalham, direta ou indiretamente, no sector público ou para a causa pública, mas também os que deles dependem para atingir o mínimo de qualidade de vida e dignidade. Assim facilmente se encontra justificação para dizer: o sector público funciona pior que o privado. Acrescentando à falta de meios, a crescente e esmagadora burocracia do sector público dificilmente o pode tornar eficiente e flexível quando comparado com o sector privado. Obviamente que nessas condições é impossível uma confrontação adequada e justa entre as duas realidades. As regras simplesmente não são as mesmas.
 
Parece existir uma vontade em desvalorizar o serviço e meios públicos, para que seja mais fácil desmonta-los. Sem meios e funcionando em modelos arcaicos, modernos apenas na burocracia que se acrescenta em camadas, será impossível defender e colocar uma organização pública diretamente em igualdade comparativa com uma empresa privada. Mais complicado ainda é quando tudo se resume a comparações financeiras, sem que os impactos socioculturais sejam convertidos em mais-valias económicas.
Um dia serão os nossos filhos, e não os mercados, a acusar-nos de ineficiência e destruição da riqueza herdada e não legada depois. Isto porque a salvaguarda que garantia um Estado capaz de assegurar igualdade de oportunidades será uma miragem do passado. Para alguns não fará diferença pois podem deixar heranças desafogadas às descendências, tornando-as quase independentes de tudo e de todos. Então e os outros que nunca tiveram tais oportunidades?
O Estado e o serviço público, em democracia, constituíram-se para garantir mínimos de dignidade aos cidadãos, independentemente da sua sorte de nascimento e percurso de vida que não puderam controlar. Agora, que o pouco existente vai sendo demolindo, justificado em comparações incomparáveis entre sector público e privado, afinal a quem verdadeiramente interessa perder este seguro civilizacional coletivo que é um Estado com serviços públicos capazes?
 
Nota: texto publicado no Jornal de Leiria em 24 de Abril de 2014

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Um nacionalismo para a União Europeia (sobreviver) - Um texto que saiu de um ensaio

Recentemente fiz um ensaio sobre a o "pan-nacionalismo" da União Europeia, sobre como essa vertente nunca foi desenvolvida na UE, e como isso condicionou a coesão e efetiva união e adesão dos cidadãos a essa nova entidade política.

Partindo desse ensaio escrevi mais uma crónica para o P3 do jornal Público.

Para os curiosos aqui fica o link para o texto: Um nacionalismo para a União Europeia (sobreviver)

 

terça-feira, 29 de abril de 2014

Os meus preconceitos e Porque “Bem-vindos a Beirais” só pode ser ficção

Este promete ser um dos textos mais redundantes deste blogue, mas não resisti a falar de uma das séries me acompanha quando estupidamente ligo a televisão da cozinha para cozinhar ou jantar. Tenho esse hábito estupido de ligar a tv, e como nos restantes canais a programação é ainda pior lá vai o canal 1 reinando. Refiro-me à série “Bem-vindos a Beirais”. Não é a primeira série do género, mas nesta até depositava algumas esperanças. Umas que se cumpriram, outras que nem por isso.

Espero que ninguém leve "Beirais" muito a sério, pois qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. Provavelmente estou a ser apenas exagerado. De qualquer dos modos certas coisas na série são caricatas.
Então vejamos. Só mesmo em beirais é que acontece isto e em mais nenhuma aldeia do país:
  • Ninguém vê televisão;
  • Todas as pessoas ouvem a emissão local de rádio;
  • Existem imensos serviços públicos;
  • O(a) presidente de junta de freguesia tem poder político de fazer lei;
  • O(a) presidente de junta de freguesia tem meios para fazer projetos e pode trabalhar a tempo inteiro na sua junta.
  • A GNR tem imensos poderes de intervenção e ação;
  • A GNR fiscaliza tudo e prende pessoas a seu bel-prazer;
  • Existe um médico que faz tudo, mesmo sem apoio de enfermagem e pessoal administrativo;
  • As mulheres andam sempre de saltos altos, mesmo em casa, e sempre maquiadas;
  • Os habitantes exprimem-se num português imaculado, mesmo sem qualquer calão, quanto mais brejeirices - este tipo de linguagem nem na literatura se encontra;
  • Cada um fala na sua vez sem interrupções;
  • Apesar de poderem estar muitas pessoas no café ninguém fala alto;
  • Estão constantemente pessoas em circulação pelas ruas;
  • Quase não existem carros;
  • Os padres são todos moderníssimos;
  • Ninguém pergunta o preço de nada;
  • É sempre primavera;
  • Existem mais adultos em idade ativa que idosos;
  • Todos têm imensa consideração pelos idosos;
  • A escola primária tem crianças;
  • As crianças adoram a sua professora e não qualquer problema ou questão com os pais;
  • Os jovens adultos, nem os seus pais, não demonstram qualquer interesse por frequentar o ensino superior, por serem doutores ou engenheiros;
  • Os negócios não abrem falência apesar de quase nunca existirem clientes;
  • Praticamente ninguém trabalha, ou necessitam de trabalhar apenas algumas poucas horas por dia para sobreviver - lembrado as tribos da amazónia que vivem isoladas;
  • Poucos se dedicam à agricultura, mesmo a de quintal;
  • Não existem conflitos nem pessoas desavindas;
  • Praticamente não existem mexericos;
  • Os homens não falam de futebol e clubismos;
  • Não há um rancho folclórico na aldeia nem um clube de futebol associado ao clube recreativo;
  • As famílias alargadas são uma exceção, e as personagens poucos laços de família têm entre si - parece que não existem primos;
  • O genérico mostra imagens rurais do norte e interior de Portugal, quando depois o espaço edificado da aldeia é da Extremadura/Zona Centro;
Havia muito mais com certeza, mas isso obrigava-me a ver a série com um bloco de notas, coisa que não irei fazer com certeza.
Beirais é assim, uma ficção redundante, mas está muito longe de ser das piores, ainda que possa fazer alguma desinformação. É uma série ligeira e que entretém porém. Espero que ninguém retire dali fontes de ensinamento para descrever e compreender o mundo rural, nem para saber quais as responsabilidades e funções de certas instituições públicas. Mas pronto, lá estou eu a exagerar outra vez. Ninguém vai fazer isso é claro.
Bem, em jeito de resumo, a principal conclusão deste texto é que tenho muitos preconceitos e até alguma sobranceria. Pronto, ai está uma coisa útil identificada. Vou fazer por melhorar. Obrigado Beirais.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Um desafio do P3 sobre o 25 de Abril

Enquanto cronista do P3 - pelo menos assim me foi dito -, de tempos a tempos, para além dos nossos textos sobre as temáticas que mais me agradam e parecem adequadas ao tipo de publicação, surgem alguns outros desafios.
Desta vez o P3 desafiou-me a escrever algo sobre aquilo que familiares amigos me tinham contado sobre o 25 de Abril, sobre as suas histórias e vivências.



Aqui está o resultado: 25 de Abril: as vidas que nasceram da revolução

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Livros de bolso em Paris

Volto de novo a falar de Paris, cidade que, quanto mais conheço, mais inesgotável me parece ser nas suas várias vertentes. Desta vez falo, indirectamente, do metro, também ele imenso e composto de estações surpreendentes. Mas não é obviamente a dimensão e a própria estrutura e funcionamento do metro que pretendo identificar como algo que se pudesse aplicar à nossa terra. O que me parece relevante a aprender com o modo como os parisienses usam o seu metro passa pela gestão pessoal dos “tempos mortos”.
É muito comum, quando viajamos nas composições ou enquanto esperamos pelo comboio, assistirmos ao sacar de livros de bolso por parte dos passageiros. Parece que a grande maioria das pessoas leva, num dos seus bolsos, um livro, independentemente do crescente uso dos smartphones, com acesso contínuo à internet e quem sabe a e-books.
Tentei perceber então porque era tão comum aquele fenómeno. Curiosamente até parecem ser mais os leitores de livros que de jornais. Curioso, especialmente porque se compra e lê um jornal com mais leveza e facilidade – no bom sentido dos termos, é claro. Já um livro exige, no mínimo, uma pequena vontade planeada de iniciar e continuar uma determinada leitura.
Então descobri que existem praticamente versões de todos os livros em formato bolso, e a preços muito interessantes - cerca de metade ou menos do valor do livro em formato padrão. Assim, não é só a vontade natural e o gosto de querer ler dos parisienses, mas também a própria indústria editorial e cultural que está preparada e direccionada para oferecer livros aos consumidores, que lhes permite aproveitar os “momentos mortos”, lendo em qualquer local.
Por cá, sempre que estivéssemos numa sala de espera ou num transporte público, se tivéssemos os mesmos hábitos e opções, talvez fosse mais fácil suportar os tempos de espera, aproveitando para nos enriquecermos com o que é mais valioso – a cultura.
 
Nota: Texto criado para a rúbrica "Viagens (fora) da minha terra", do Jornal de Leiria

sexta-feira, 28 de março de 2014

Portugal - um país de pobres

Soubemos recentemente que 1 em cada 4 portugueses é pobre, e ainda por cima o limite para se ser considerado pobre passa por viver com um valor mensal abaixo dos 409€. Imagine-se então se fosse, por exemplo, um valor 50% acima disso, uns 600€ para concretizar. Parece-me a mim que a vida não seria fácil também para essas pessoas com esse tipo de rendimento, e se calhar seriam a maioria da população. Portugal é cada vez mais um país de pobres. É um facto.


Link para o vídeo
 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O Corvo que virou um conto em formato PLIP

Tendo eu um conto infantil em rascunho sobre um "corvo" diferente, acabou por fazer todo o sentido criar uma versão desse conto para fazer parte d´ "O Projeto de Leitura Inclusiva Partilhada (PLIP)".
Então, depois das devidas adaptações, pois parecia-me fazer todo o sentido que o conto se passasse em Leiria, lá fomos adaptando a formatos alternativos. Uma grande equipa, de voluntários, fez nascer "O Corvo Laranja" em multiformato, acessível a um público verdadeiramente vasto.
Assim, deixo o link do projeto abaixo para que o possam conhecer melhor, sendo que todos podem descarregar os conteúdos, e os agradecimentos a esta vasta equipa que tornou esta ideia numa realidade. Que venham mais PLIPs.
Aceder ao "O Corvo Laranja" aqui.
 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Ó Ronaldo, ajuda-nos a fazer um museu para os Mirós...

No país sem ministro da cultura vale tudo culturalmente. Esperaríamos que, mesmo não sendo ministro, existisse um secretário para defender a cultura e património de Portugal, independentemente de ser recente ao não. Um homem (ou mulher) da cultura tem, supostamente, visão do potencial que a cultura tem como motor de desenvolvimento. Seria suposto ter ainda mais visão por ser o único membro do governo a quem se permite usar óculos arrojados, daqueles especialmente calibrados para a visão cultural e envergados só por verdadeiros intelectuais – não resisti à brincadeira. Então aqueles “óculos” não deveriam ajudar o senhor secretário a ver todo o potencial gerador de riqueza e dinheiro através da cultura? Será que nunca informou o primeiro-ministro disso? Bem, se calhar fez, mas, como o seu chefe se alistou numa cruzada radical com a demanda de reduzir toda a intervenção do Estado – mesmo a positiva -, somente o sector privado pode gerar dinheiro com a cultura e seu património. Falo em gerar dinheiro porque se falasse em gerar impacto social e cultural positivos, e na importância disso, dificilmente compreenderiam. Será então um problema de comunicação, mas de quem é a culpa desta incompreensão mútua?
Não havendo quem nos salve, só nos resta uma medida extrema. Penso que se justifica chamar às suas responsabilidades, em defesa do interesse nacional, alguém especialista em museus e que por acaso agora é comendador! Pois é Ronaldo, está na hora de fazeres mais um serviço ao teu país. Não podemos recorrer a mais ninguém. Agora como comendador, convence lá o nosso primeiro-ministro que abrir um museu é boa ideia, que até pode dar dinheiro e, de certeza, potenciar indirectamente o turismo e toda a economia a ele ligada. Tu, mais que ninguém, sabes o que fazer para um museu ter sucesso. Imagine-se aquilo que conseguias fazer com uns “Mirós” para expor? Seria de certeza o mais visitado do mundo!
Como patriota que és não nos deixarás na mão! Aproveito também para te retribuir antecipadamente a gentileza, avisando-te do risco que corre o fruto dos teus pés – esse tesouro natural em carne viva. Nunca te lembres de doar as tuas botas de ouro ao Estado português porque, qualquer dia, vem por ai um governo neoliberal capaz de as vender, em vez de as expor e potenciar o turismo de desporto. Sabemos bem que isto de fazer dinheiro com aquilo que é nosso, multiplicando-o, é coisa para os outros. O mais certo seria venderem-te os trofeus e o mundo passar a confundir-te com o Ronaldo brasileiro, tal é o nosso jeito nacional de desperdiçarmos os nossos valores.
Resta-nos recorrer aos ídolos dos nossos tempos, pois naqueles que habitam no panteão governativo da nação a fé está por um fio.

Related Posts with Thumbnails

Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





TOP WOOK - EBOOKS

Novidades WOOK - Ciências

TOP WOOK - Economia, Contabilidade e Gestão

Novidades WOOK - Engenharia

Novidades WOOK - Guias e Roteiros