domingo, 11 de março de 2012

Tertúlia na Arquivo em Leiria com Elísio Estanque sobre livro "Classe Média: Ascensão e Declínio"

Quarta-feira dia 7 foi um dia animado, quer profissionalmente quer civicamente, mas lembro acima de tudo uma das cívicas, que foi imensamente agradável e ao mesmo tempo permitiu adquirir novos conhecimentos. Nesse dia fui incumbido de moderar a apresentação de uma recente obra publicada pela Fundação Francismo Manuel dos Santos. A obra em causa foi “Classe Média: ascensão e declínio” da autoria do sociólogo Elísio Estanque, numa iniciativa da Arquivo, ADLEI, e Jornal de Leiria que trouxe o autor à cidade de Leiria e ao espaço da livraria da parceria. Dessa apresentação participou também o antropólogo Ricardo Vieira que comentando a obra abriu caminho para a apresentação do autor.

Elísio Estanque conseguiu em cerca de uma hora tratar e aflorar, de um modo sintético, os principais conteúdos do seu livro. A obra divide-se claramente em duas partes distintas. A primeira trata da fundamentação sociológica e história daquilo que se foi considerando como a “classe média”, e das próprias teorias que a analisaram e estudaram. No fundo esse é o enquadramento que ajuda a compreender esse fenómeno social, mas que também aborda e explicava o próprio conceito de mobilidade social e grande parte das suas implicações. A Segunda parte do livro trata mais concretamente o caso português e a sua característica Classe Média, o seu nascimento, ascensão e situação atual.
Salientava algumas informações e dados avulsos que sublinhei e recordei da prévia leitura da obra e da própria sessão de apresentação do autor e suas palavras em direto:
• A classe Média é uma classe de limites indefinidos
• A definição de classe vive atualmente muito dos padrões de consumo, no entanto é muito mais que isso.
• A igualdade de oportunidades absoluta não existe em lugar algum do mundo e dificilmente existirá, pois os fatores que a influenciam são muitos, no entanto pode tentar ser alcançada.
• A classe Média tem servido como um amortecedor para os conflitos sociais provenientes das tensões e desigualdades sociais.
• A ascensão e mobilidade social viveram muito do reforço do ensino.
• A ascensão social continua a ser possível, mas provavelmente não será tão evidente como se supunha ou se esperava que fosse.
• Alguma da fragilidade da classe Média portuguesa relaciona-se, ao nível das atividades produtivas e ocupacionais, com o salto abrupto de uma sociedade maioritariamente rural para uma de Serviços, sem um passo intermédio de forte industrialização, que a ajudasse a fortalecer e suster.
• A sociedade portuguesa é caracterizada por baixos níveis de individualismo e fortes vínculos sociais que impedem a autonomia e o associativismo positivo.
Como moderador não podia deixar passar a oportunidade de colocar algumas questões ao autor, entre elas:
• Qual a necessidade de nestes tempos de crise, que vão muito mais para além da crise economia, haver ou termos todos mais “lições de sociologia”.
• Se o acesso à educação, especialmente à superior, se esgotou como modo de ascensão social.
A resposta de Elísio Estanque foi muito mais rica e interessante do que me é possível aqui transcrever por palavras próprias, mas arrisco-me a resumi-la nas seguintes palavras :
• Sem dúvida que precisamos de “utilizar” mais dos conhecimentos da sociologia na construção social contemporânea;
• A ascensão social contemporânea via ensino está longe de ser um dado adquirido, no entanto os indivíduos mais bem formados terão sempre maiores probabilidades de ascender socialmente.

Depois foi a vez do público poder entrar em ação com intervenções e questões. Acabou por se falar da situação social e económica atual, dos responsáveis políticos, dos partidos e muito sobre educação como estratégia de desenvolvimento para o país.
Lembro-me das palavras de Elísio Estanque que referiu: ter havido descoordenação nas estratégias de ensino nacionais e que o atual sistema partidário precisa urgentemente de reformas, de que os jovens procuram cada vez mais intervir fora dos partidos - quer por desconhecimento quer por os considerarem incapazes de responder aos seus problemas e anseios.
A conversa fluiu durante quase 2 horas num agradável prazer de partilha e aquisição de saberes e opiniões em grupo, com um alguém de vulto e saber incontestável a guiar o processo. Falo é claro do professor Elísio Estanque.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts with Thumbnails

Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





TOP WOOK - EBOOKS

Novidades WOOK - Ciências

TOP WOOK - Economia, Contabilidade e Gestão

Novidades WOOK - Engenharia

Novidades WOOK - Guias e Roteiros