domingo, 18 de dezembro de 2011

Uma conversa sobre cidadania, política e redes sociais na Escola Dr. Correia Mateus

Dia 15 de Dezembro foi um dia de mais uma nova experiência, desta vez numa escola básica do 2º e 3º Ciclo. Já não é a primeira vez que participo numa conferência, debate ou tertúlia como orador, mas desta vez o público era muito mais jovem. Foi a primeira que vez que tive a oportunidade de falar e partilhar alguns supostos saberes e experiências com jovens estudantes, maioritariamente do 8ºano, com idades que devem andar compreendidas entre os 13 e os 15. Quando recebi o convite pela professora Fátima Fortunato fiquei  simultâneo preocupado e motivado. Fiquei um pouco desconfortável pois não era o meu ambiente normal, mas, por outro lado, fiquei cheio de vontade de participar pois seria uma nova experiência ainda mais interessante pelo tema a abordar e tratar.

O objetivo era falar e partilhar experiências sobre cidadania, participação cívica e política, a propósito do Projeto Parlamento Jovem e do tema deste ano: A descriminação nas redes sociais. Com este tema as possibilidades eram imensas, ainda que condicionadas pela necessidade de adaptar a linguagem ao público – um tipo de público com o qual estava longe de estar à-vontade.
O evento, intitulado de “Uma conversa sobre cidadania, política e redes sociais” começou com as boas vindas dadas pelo professor António Oliveira - o atual Diretor do Agrupamento de Escola Dr. Correia Mateus - tendo depois sido a professora Fátima Fortunato a fazer a minha apresentação.
Tendo sido apresentado comecei a “orar” – um termo curioso para um ateu. Comecei um pouco atrapalhado mas depois entrei no ambiente, que era bem agradável, pois deu-se na biblioteca da escola, com os alunos sentados numa espécie de hemiciclo construído com uma disposição propositada das cadeiras para o efeito. Comecei então por sugerir algumas dicas para participar num debate: ouvir enquanto alguém fala, tirando notas para depois, quando surgir a oportunidade do próprio intervir, ter o fundamento e registo para refutar, apoiar ou lançar novas ideias no debate. De seguida explorei o conceito e importância da cidadania: uma relação de direitos e deveres em que uns não existem uns sem os outros, e que uma sociedade com mais cidadania ativa é sempre uma melhor sociedade. Da cidadania passei à política, lembrando a ideia de Platão, de que “se não participarmos na vida política corremos o risco de ser governados pelos nossos inferiores”, servindo esta citação para reforçar que todos devemos estar disponíveis para fazer o nosso papel político como ato de cidadania, e quando nós próprios não nos sentimos preparados para desafios maiores devemos fazer de tudo o possível para escolher quem melhor nos representará politicamente. Nesta altura, o Sr. Diretor aproveitou para fazer uma referência que enquadrou estes princípios na realidade de turma dos estudantes do grau de ensino em causa. Referiu que nas eleições dos delegados de turma todos se devem disponibilizar, e que depois devem escolher conscientemente os melhores, não por relações amizade ou outras semelhantes, mas pelo mérito e capacidades de cada um. Terminada esta importante e relevante referência, salientei e tentei que os estudantes percebessem que: a partir do momento que vivem em sociedade, que conseguem comunicar, fazem, mesmo sem saber, política. Até usei o exemplo da origem da palavra Idiota para os fazer “acordar” – literalmente -, que significava na altura da democracia ateniense “homem privado”, ou seja aquele que não tinha interesse e vontade em participar na vida pública da sua sociedade.
A próxima etapa consistiu em falar da Democracia como forma de governo, referindo que apesar de, por vezes, falhar é a melhor forma de governo que conhecemos, e que é nosso dever enquanto cidadãos torna-la participativa de modo à sua melhoria contínua. Por fim cheguei ao tema das redes sociais, para dizer que são uma possibilidade imensa e revolucionária de comunicarmos, algo que nunca se viu no passado, mas que apesar disso existem perigos. Foram as redes sociais que permitiram fazer a “Primavera Árabe”, e razão pela qual em países não democráticos a sua utilização é restrita. No meu caso pessoal, referi como exemplo pessoal o “Movimento ANTI-Corrupção”, movimento informal que criei e que só pode acontecer e desenvolver-se devido às redes sociais; sem elas nunca teria conseguido passar a mensagem a dezenas de milhares de pessoas e ouvir os seus contributos para a construção do movimento, participado no Ignite Portugal, ter sido entrevistado e escrito textos de opinião para alguns meios de comunicação nacionais e locais (DN, Público, Região de Leiria), sido coautor de um livro (ver excerto aqui), e o blogue do movimento ter sido nomeado para o concurso internacional de blogues na Alemanha The BOBs – sendo o único representante português. Apesar de tudo isso – aspetos positivos das redes sociais e da WEB2.0 -, tinha de referir os aspetos negativos das redes sociais. Fi-lo aproveitando para sugerir algumas soluções: o modo como pode servir para maltratar a linguagem escrita, caso resolvido com a utilização de corretores ortográficos; a falta de privacidade, devidamente resolvida com consciência e correta utilização de filtros; o perigo do isolamento social, que se dissipa se as redes sociais servirem para organizar eventos e reuniões de amigos presencialmente. Aqui, pegando no exemplo dos SMS, dei o meu exemplo pessoal, de com ao utilização do dicionário de escrita automática me permitiu melhorar o modo como escrevia depois em papel. Assim, as redes sociais, apesar de perigos, quando bem utilizadas têm um potencial imenso. Por isso não há que ter medo da tecnologia. Para ilustrar isso relembrei o filósofo Sócrates, e do seu medo para com a escrita, temendo que ela tornasse as pessoas esquecidas. O resultado de não se ter ouvido os medos face à tecnologia que é a escrita, por parte do célebre filósofo ( e até escrever o que ele próprio dizia oralmente), permitiu acumular durante mais de 2000 anos muito do conhecimento humano atual – imagine-se o que seria que ninguém tivesse escrito o que acontecia e o que descobria. O medo das redes sociais pode ser, em parte, semelhante ao medo infundado de Sócrates. Com este exemplo, os estudantes ficaram a princípio espantados com este exemplo, tendo depois ficado a biblioteca em alvoroço – acho que com esta história acordaram! Estava assim concluída a primeira parte. De seguida vinha o debate.
Os alunos, a princípio, como é habitual nestas coisas, não demonstraram vontade de colocar dúvidas, questões ou intervirem. Mas claro, lá estávamos nós [eu e a professora Fátima] para “puxar” por eles. Perguntei-lhes se, depois desta sessão, achavam que a política era aquela coisa chata, aborrecida e que não tinham interesse? Responderam logo que não!, que o problema muitas vezes é dos próprios políticos e não da política. Perguntei-lhes também o que deveriam fazer, por exemplo, se tivessem um buraco na rua deles. Responderam que se iriam queixar. Completei-lhes a resposta, dizendo-lhes que deveriam ir à junta de freguesia, e para o caso de a junta não ter fundos para isso poderiam dar um exemplo de cidadania ativa: adquirirem, por todos os moradores, os materiais necessários e trabalharem em voluntariado conjunto para melhorar a sua rua. Ocorreu também outro caso curioso. Assim que algum dos jovens falava, caso tivesse alguma atrapalhação, logo todos os outros tentavam troçar e brincar com o sucedido. Este exemplo fez-me fazer mais uma pequena intervenção, onde referi que é preciso ter coragem para falar em público, partilhar o que sabemos e não sabemos, que só assim podemos aprender e melhorar, que ficar calado com receio das nossas ignorâncias de nada serve ou contribui; dei os parabéns e reforcei a coragem de todos e todas os que falaram.
Tentei rematar o debate com mais duas citações para que os jovens do hemiciclo improvisado pudessem refletir: “Todos o Homem é culpado pelo bem que não faz” – Voltaire; e, “se tiver 8 horas para cortar uma árvore, prefiro passar 6 delas a afiar o machado” – Abraham Lincoln.

Em jeito de resumo: cidadania e partilhar e receber. Nesse dia entre os jovens da Escola Dr. Correia Mateus senti que recebi muito!

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