quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O simbolismo de uma Greve Geral - impressões de Leiria

Um pouco perdido neste dia de greve parti a pé para o centro da cidade de Leiria. Palmilhei ruas, praças e afins e pouco vi de manifestações de greve. Viam-se uns quantos cartazes a apelar à mobilização, mas contestação nem sinal dela. No entanto notava-se muito menos movimento nas ruas. Em Leiria o descontentamento demonstrava-se pelo marasmo e inercia. Leiria estava em Greve? Acho que sim!

Pelo caminho não pude deixar de refletir sobre o porquê e objetivo desta greve, e com isso sobre a nossa sociedade. No fundo, em termos práticos quantificáveis, provavelmente, esta greve não serve para nada: ela não vai resolver o problema económico do país e as dificuldades que os trabalhadores vão ter em 2012, podendo até agravar tudo isso. Mas será que os problemas da nossa nação, aqueles dos euros, não advêm de outros problemas de outra natureza? E se o nosso problema se relacionar com défices sociais ligados à psicologia relacional individual e coletiva? Como se explica que muitos portugueses não compreendam o valor simbólico de uma greve, mesmo quando as razões que a justificam se prendem com perdas de direitos laborais arduamente conquistados ao longo de anos de justas lutas? Como aceitar que agora se deite para o lixo, sob a justificação de uma crise micro e macroeconómica difícil de compreender, associada à alta finança e à desgovernação pública, aquilo que nos permite “respirar”? Mas onde está a nossa cidadania ativa? Onde está a nossa empatia social? Não nos conseguimos colocar no lugar do outro quando o outro é em tudo igual a nós mesmos? Será isto algum défice de desenvolvimento cognitivo coletivo? Estarei eu também, com todas estas críticas, a ser incapaz de me colocar na pele alheia?

Não havendo qualquer atividade construtiva a fazer para contribuir para este dia que deve ser de protesto, decidi direcionar a minha Acão para outros lados: fazer greve ao consumo e potenciar a palavra comunicada. Bem, é o mínimo que posso fazer! Se no passado muitos foram os trabalhares sacrificados, alguns mesmo com a vida, para termos direito à greve e todos os demais direitos laborais (alguns que agora são "suspensos"), por respeito da herança, há que tentar ser consequente.
Este dia sem vencimento vai custar no final do mês, mas custará muito mais a muitos, isso não duvido pois a realidade de algumas famílias é chocante! Que mais justificações precisamos?! E não me digam que os símbolos não são importantes, ou não fosse isto um importante símbolo de valor altamente relativo: €.
Se na última Greve Geral o simbolismo e o objetivo eram pouco evidentes, pois o Governo tinha acabado de se demitir e as eleições estavam ai à porta, agora o caso é bem diferente. Agora este novo Governo, depois de esquecer as críticas ao excesso de austeridade do PEC IV e de fazer o contrário do que prometeu em campanha - quem esquece as palavras de Maio de 2011: "os portugueses não aguentam mais austeridade"; "os subsídios são intocáveis"; e "aumentar os impostos está fora de questão" - obriga-nos a fazer algo, nem que seja algo simbólico! As eleições são para daqui a muito tempo, e dificilmente haverá outro modo tão evidente de demonstrar o sentimento de descontentamento, e de revolta em alguns eleitores que se sentem agora enganados. Se na altura referi que uma forma de demonstrar o nosso desagrado era com mais trabalho, agora volto a dizer o mesmo. Os trabalhadores portugueses, apesar de serem alvo de tudo o que não motiva para mais produtividade, seguramente responderão com o habitual esforço para compensar as perdas de hoje, mas pelo menos poderão fazê-lo depois de terem demonstrado o seu desagrado! 
A Greve Geral não deve ser usada como folga ou férias, por isso para além de incomodar uns quantos reacionários pelas redes sociais, decidi fazer greve ao consumo. Será a meu "pseudo-ascetismo" do dia.

1 comentário:

  1. Ainda não vi qualquer notícia sobre os dados da Greve Geral nas seguramente que não haverá consenso nos números. Independentemente disso, penso que foi das maiores Greves de sempre. Agora, nos próximos tempos, há que demonstrar o descontentamento trabalhando mais ainda!!!

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Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





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