quinta-feira, 10 de março de 2011

“Os Homens da Luta” – política de circunstância

Surpreende-se Portugal com o peso de uma votação! As pessoas votaram e elegeram os “Homens da Luta”. Curiosa a surpresa, não a da vitória do grupo criado e liderado pelo humorista e músico Jel, mas a do despertar de algumas pessoas para o poder do voto. Será que serão precisos programas de televisão e Festivais da Canção para demonstrar que votando, em massa, podemos contribuir para o formar de um determinado resultado?
Mas será que se devem tirar leituras políticas sobre o vencedor do Festival da Canção de 2011? Bem, penso que sim, até porque tudo é política e todos a analisamos, mesmo que inconscientemente, nem que seja apenas política de humor – seguramente uma das perspectivas de análise mais válidas para este caso. 
Os “Homens da Luta” que hoje conhecemos são apenas um produto e resultado de mais uma das muitas criações e personagens do humorista Jel. Do mesmo autor, há que relembrar a polémica banda de Metal intitulada “Kalashnikov” que defendia e prestava culto à guerra – também essa manifestação musical a usar de uma profunda ironia e sarcasmo para fazer um humor mais negro do que é habitual por cá. Para os telespectadores da Sic Radical, ouvintes da Antena 3, e navegantes de uma Internet menos convencional, ou até mesmo “underground”, “Neto e Falâncio” são conhecidos de há muito tempo, tal como a sua capacidade para “gozar” com as “canções de intervenção”. Simplesmente agora puderam sobressair e crescer, na forma de uma espécie de grupo musical de paródia, dada a conjuntura de crise que naturalmente faz elevar o clima de insatisfação popular, e com isso o ressurgimento da música de intervenção (nem que seja em jeito gozo).
O fenómeno “Homens da Luta” nasceu de personagens de rábulas de humor (conhecidas de um pequeno público) e cresceu devido às circunstâncias. Se as circunstâncias fossem outras provavelmente qualquer outra personagem de Jel poderia ter atingido a fama. Por exemplo, se estivéssemos a viver um período de insatisfação e agitação social em torno de mudanças e debates sobre condutas e opções sexuais, especialmente se se tratasse de homossexualidade ou questões de género, provavelmente poderia ter sido a personagem “Carlinhos – o Machista Gay” e não os  “Homens da Luta” a trazer Jel para a ribalta. Quem sabe!?
No fundo é como dizia o filosofo espanhol Ortega y Gasset: “o Homem é as suas circunstâncias”. Neste caso os “Homens” têm uma “luta” e uma oportunidade de atingir a fama e fazer humor devido às circunstâncias, podendo isso resultar de uma mera conjugação fortuita de acontecimentos, não havendo qualquer mensagem política profunda. Ou seja, tudo se resumir a mera política de circunstância.

(Texto publicado no Diário de Leiria em 2 de Março de 2011 e no Jornal de Leiria em 17 de Março de 2011)

1 comentário:

  1. Portugal em peso se surpreende com a votação do povo na canção dos: "Os Homens da Luta".
    A geração que partilha a insatisfação, seja uma mensagem crítica ou não, dos autores da canção, não deixa de ter uma "pitada" de verdades!
    O que mais me surpreende, na minha opinião pessoal, é de que uma votação desta envergadura, no que respeita sobretudo a questões humorísticas, ou melhor falando "puro gozo", porque a letra da canção se dirige aos políticos da nossa sociedade actual. Não só dos políticos, como também da mediocridade, que também é a "massa". Para mim, não deixa de ser uma palhaçada e do mais pobre que pode existir! Será a escolha das "massas"?
    Porque assuntos concretos e específicos estão a anos-luz, da mediocridade da "massa". Mas, verifica-se também que tocam o dedo na ferida! Agora pergunto: Porque nos assuntos sérios do País não temos o mesmo resultado?
    Eu posso "apontar o dedo", para pretexto meu, e criticar dois responsáveis da política pela situação do país. E o povo? Como definimos em relação a esta votação em massa, numa canção, que, também acredito no escárnio, como forma de denúncia do poder.
    O direito de gritar palavras de ordem tem de ser respeitado, e por sua vez o direito de respeitar as opiniões de quem não é favorável a este tipo de coisas, também! Ambas as situações são: LIBERDADE.
    Agora, me permitam o seguinte: os nossos políticos fazem intervenção política de má qualidade? Sim, fazem.
    Os "gritos", cá fora, fora de qualquer manifestação humorística, deve ser com visão de honra, de dignidade e de solidariedade, não interessa a capa que se veste.
    Termino para dizer isto: desta forma, acabamos todos por coincidirmos com o alvo. A menos, que tenhamos certezas quanto às soluções, que nos prometem anos a fio.

    Um Bem-Haja,

    Lumena Oliveira

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