sexta-feira, 4 de março de 2011

A Democracia via Redes Sociais

A revolta no Mundo Árabe avança tão rápido como o clique de um "gosto" ou de um "vou participar" no Facebook. Quem diria, tendo em conta a quase ausência histórica de movimentos cívicos libertários nestas sociedades, que estas nações fossem usar hoje a tecnologia das Redes Sociais como modo de expressão de uma cidadania activa política que quer mais democracia, justiça e equidade social!? 
 As Redes Sociais por cá têm-nos servido para os mais variados e diferentes propósitos: reatar ligações a pessoas que se perdiam no tempo; "cuscar" a vida de amigos e conhecidos; poder comunicar com figuras públicas locais ou nacionais; conhecer novas pessoas, ideias, iniciativas, instituições, etc. As mais importantes, pelo menos de um ponto de vista "macro-social", serão as últimas possibilidades anteriormente referidas, pois podem ser um modo de concretizar e reforçar a nossa cidadania e democracia. Se por terras onde reina o Islão as Redes Sociais estão a servir para tentar coordenar povos e gentes para a implementação da democracia (as mobilizações no Egipto deram-se via Facebook), por cá, as mesmas Redes Sociais, podem muito bem vir a servir para exercermos um novo tipo de cidadania activa, ou pelo menos para permitir que ela aconteça depois na prática, no mundo real do dia-a-dia. 
Eu arriscar-me-ia a dizer que as Redes Sociais, os Blogues, e todos os demais afins, são as Ágoras da actualidade. São aqueles locais onde facilmente podemos partilhar ideias e fazê-las chegar a um público incomensuravelmente vasto e inacessível de outro modo ao cidadão comum, tudo isto com interacções nos dois sentidos que chegam a acontecer em tempo real - podemos ser receptores e emissores em simultâneo. Lembro que as Ágoras eram os locais onde os antigos gregos - os inventores da Democracia -, especialmente os filósofos, ensinavam e apresentavam as suas ideias à comunidade - a polis. Nesses locais de partilha o público interagia livremente com os oradores, havia liberdade para colocar questões e dúvidas, podia-se até colocar em causa as ideias e informações divulgadas pelos próprios oradores. Tudo isto acontecia naturalmente e gratuitamente, sem esforço ou coerção para a participação, numa clara vontade de divulgar e aprender. É esta liberdade, pro-actividade para o debate e troca de ideias, e gratuitidade que me faz considerar que essas Ágoras (que se manifestavam urbanisticamente como praças, mercados, fóruns ou outras estruturas ou infra-estruturas citadinas) do antigamente estejam hoje a ser reedificadas e reinventadas pelas ditas Redes Sociais, num potencial sem precedentes e com efeitos sociais difíceis de prever.

Os povos dos países islâmicos, onde falta a liberdade, já perceberam a importância das Redes Sociais como ferramenta de mobilização para a mudança rumo a uma sociedade democrática. E nós? Será que estaremos ou saberemos utilizar essas mesmas Redes Sociais para algo socialmente benéfico? Não serão as Redes sociais ferramentas com potencial para melhorar a nossa participação cívica e a concretizar uma cidadania activa, ainda que indirectamente?

(Texto publicado no Diário de Leiria em 25 de Fevereiro de 2011)

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