sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A equação do incêndio

Tal como existe uma época balnear, existe também uma época de incêndios - ambas por razões climáticas e meteorológicas, dependentes das elevadas temperaturas. Entre as muitas diferenças que as distinguem há uma curiosidade que não posso deixar de referir: os Portugueses tendem a iniciar as suas actividades balneares mesmo antes do inicio da época oficial; já os incêndios tendem a iniciar-se e aumentar drasticamente aquando da publicitação e divulgação do inicio da dita época e da informação dos primeiros actos de fogo. Mais estranho é que durante a realização de um grande evento desportivo ou cultural, já em pleno Verão e com todas as supostas condições meteorológicas reunidas (entre outras) para que um qualquer incêndio de grandes proporções se inicie e lavre o suficiente para o tornar perigosamente importante, fica-me na altura quase sempre a ideia de que não existem incêndios em Portugal e de que não corremos esse risco – provavelmente coincidências de calendário e de meteorologia. Em jeito de sarcasmo e ironia deixo a seguinte questão: será que precisamos de “Mundiais de Futebol”, “Jogos Olímpicos”, festivais de música e afins para evitar incêndios em Portugal? Curiosidades e sarcasmos à parte – pois trata-se de assunto sério -, independentemente dessas atitudes e ocorrências mediáticas contribuírem ou não para o aumento dos incêndios, na verdade um incêndio só pode ocorrer se se reunirem três condições fundamentais necessárias, três parâmetros, tendo obrigatoriamente de existir: ignição, combustível e comburente.
 Quanto ao comburente, em ambientes exteriores nada poderemos fazer para o retirar da equação que origina o incêndio. Pois, o ar que respiramos, aquele que constitui a nossa atmosfera, é composto por cerca de 21% de oxigénio – o principal comburente que existe.
O combustível, bem, esse existe por todo o lado também. Matas, florestas e agrupados de árvores são por si só um excelente combustível, especialmente inflamável e combustivo se a eles estiverem associados materiais vegetais contíguos, rasteiros e secos – aquelas espécies vegetais intituladas de “matos”, assim como outros resíduos e produtos vegetais florestais, ambos resultantes da falta de limpeza e manutenção das nossas áreas arborizadas. Aqui sim, poderemos actuar. Limpezas e ordenamento das florestas podem e devem ser feitos, criando acessos e aproveitando a biomassa residual daí proveniente enquanto combustível (produto sustentável ao nível das emissões de CO2) e fertilizantes. A solução parece fácil, mas a implementação - como todos temos visto - é difícil e exige: fiscalização e execução de planeamento e ordenamento do território por parte do Estado e poder Local; proprietários privados consciencializados para a responsabilidade de tratarem das suas florestas e terras.
O terceiro parâmetro, a ignição, talvez seja o mais passível de ser controlado – pelo menos aparentemente. Por mais “combustível” (zonas florestais desordenadas e sem manutenção) e uma atmosfera devidamente oxigenada, sem fontes de ignição o fogo não pode acontecer. O ateamento – a ignição – de um incêndio pode ocorrer de um modo “natural”, dependo do clima (altas temperaturas, radiação solar e baixos níveis de humidade), mas ser potenciado e catalisado indirectamente pela presença de lixos urbanos. Sabemos também que a acção e responsabilidade humana pode ser ainda mais directa, comprovando isso estão os comportamentos negligentes e intencionais de fogo posto. Ambas as acções são passíveis de causar incêndios de grandes proporções e ambas podem ser evitadas através da prevenção por campanhas de sensibilização e pela actuação das entidades responsáveis.
Temos evoluído, temos melhorado, mas os paradigmas mudam. Se antes os incêndios atingiam grandes proporções por falta de meios, hoje, provavelmente, eles acontecem por excesso de “combustível” (muitas vezes desordenado) e de fontes de “ignição” – podendo esses dois parâmetros ser reduzidos se todos assumirmos a nossa quota-parte de responsabilidade (autoridades e poder público incluídos).
Só espero que se evitem visões extremistas que levem à redução irreflectida de todos os parâmetros da equação do incêndio (combustível, ignição e comburente), ou seremos todos, qualquer dia, asfixiados por uma crescente falta de “oxigénio”.

(Texto publicado no Diário de Leiria em 27 de Agosto de 2010)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

1000 visitas nas "redundâncias"

Obrigado a todos os que têm passado por este espaço de opinião e lido os meus pensamentos aqui concretizados através da escrita.Textos esses que têm também sido publicados regularmente nos meios de comunicação locais. Por isso, deixo-lhes um especial agradecimento: muito obrigado aos os jornais e publicações que me têm permitido essas aventuras no papel.

Obrigado por cada uma das 1000 visitas!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Uma chuva que suja em vez de limpar

Todos presenciamos ou ouvimos falar do estranho fenómeno meteorológico ocorrido no passado Domingo dia 8 de Agosto: fazia calor e caiu uma curta chuva fugaz. Mas mais surpreendente foi o efeito da dita chuva no parque automóvel nacional – não que a frota automóvel portuguesa não seja já por si só curiosa por ser das melhores da Europa. A chuva, ao contrário do que todos os proprietários e condutores esperavam – nos quais me incluo -, não desempenhou o seu normal e habitual papel de limpeza, muito pelo contrário, a chuva sujou ainda mais os veículos desprotegidos. Apesar de invulgar o fenómeno nada tem de misterioso ou metafísico, pois, não chovendo há muito tempo, as poeiras e partículas – chamadas de aerossóis – tendem a acumular-se na atmosfera (muitas delas transportadas por ventos desde o Norte de África), especialmente nesta época do ano. Para mais, devido aos incêndios que têm lavrado por terras Lusas a quantidade de material em suspensão na atmosfera era ainda mais abundante, e, como a chuva foi curta nem sequer se deu o tempo necessário para que se depositassem todas as poeiras acumuladas e caísse “chuva limpa”.
Tal como a chuva que cai e não limpa, hoje parece-me que vivemos também em Portugal um fenómeno social algo peculiar. Provavelmente este fenómeno nada tem de novo, provavelmente a sua visibilidade deve-se apenas os novos meios e modos de comunicação, acessíveis e de fácil utilização para a uma franja cada vez maior da população – sendo a Internet o mais preponderante -, e à crescente taxa de literacia da sociedade portuguesa. Por todo o Portugal, com a maior das facilidades, “precipitam” críticas e comentários de pessoas que até há bem pouco tempo não o podiam ou queriam fazer - um reflexo de uma jovem democracia que vai amadurecendo à medida que a discussão e debates cívicos se generalizam. Mas teremos a formação necessária para compreender e lidar com toda a informação que recebemos? Teremos os meios e autonomia para convertermos essa informação em acção? Teremos os hábitos e ferramentas de cidadania necessários? Com muita facilidade “precipitamos” criticas uns aos outros, ao país e a nós mesmos. Mas será que criticamos “bem”? Será que criticamos devidamente informados, fundamentando o acto de criticar com a devida predisposição para tornar as nossas próprias críticas fecundas de acções e resoluções?
Tal como estes aguaceiros de Agosto, tendencialmente criticamos a quente. Usualmente, à semelhança do que acontece com as nuvens espessas e as chuvas abundantes que delas advêm, só as criticas consistentes e na devida quantidade podem ter algum efeito positivo sobre o ambiente em que caem. Para evitar que a culpa destas ineficazes “precipitações” morra solteira podemos adoptar uma atitude “poligâmica” e casar todos [os Portugueses] com ela [a culpa]. Podemos fazer mais e melhores críticas, consistentes e a longo prazo, e evitar cair no marasmo do sofá logo que a nossa voz crítica se cala à espera que outros ouçam e atendam com reverência os nossos ditames. Agora que fiz também eu mais um critica – uma que me parece também vazia e precipitada - chega-me a vontade de voltar ao meu próprio divã, no qual permaneço meio sentado meio de pé olhando para a rua e esperando, tal como a maioria dos Portugueses, uma chuva que molhe e limpe.
Bem, lirismos à parte, tenho mesmo de me levantar e ir limpar o meu automóvel, porque, provavelmente até já sabem, há uns dias caiu uma chuva que em vez de lavar sujou.

(texto publicado no Diário de Leiria em 17 de Agosto de 2010 e no Região de Leiria em 20 de Agosto de 2010)
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Redundâncias da Actualidade - criado em Novembro de 2009 por Micael Sousa





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